Governo Estuda Resposta a Tarifas dos EUA até na OMC, Mas Não Vai Retaliar de Imediato

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O governo brasileiro avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior em resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos às importações norte-americanas de aço e alumínio, mas não adotará medidas retaliatórias de imediato, disseram autoridades nesta quarta-feira (12).

Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) disseram que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamenta a imposição de tarifas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e considera “injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”.

“Em reuniões já previstas para as próximas semanas, avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio”, afirmaram as pastas.

Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não haverá uma retaliação imediata do Brasil após a decisão do governo norte-americano de levar adiante as tarifas adicionais sobre aço e alumínio. O titular da Fazenda ressaltou que Lula pediu calma na análise do tema.

“Nós não vamos proceder assim (com retaliação imediata) por orientação do presidente da República”, disse Haddad em entrevista a jornalistas após receber representantes do Aço Brasil, entidade que reúne o setor siderúrgico brasileiro.

“O presidente Lula falou ‘olha, muita calma nessa hora’, nós já negociamos outras vezes, até em condições muito mais desfavoráveis do que essa”, acrescentou.

O governo brasileiro conseguiu abrir um canal de negociação com os norte-americanos depois de conversas, na semana passada, entre o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e também entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o representante de Comércio norte-americanos, Jamieson Green.

Fontes ouvidas pela Reuters lembraram, no entanto, que uma primeira reunião técnica entre Brasil e Estados Unidos ainda não aconteceu, de forma virtual.

Em entrevista a jornalistas, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que a reunião sobre o tema entre os dois governos está prevista para sexta-feira, ressaltando que Lula apenas tomará uma decisão após o encontro.

“Tem uma reunião sexta entre Alckmin e os representantes do governo norte-americano para discutir essa questão, e o presidente resolveu só tomar uma posição ou medida após essa reunião, acreditando que pode chegar ao entendimento”, afirmou.

Em nota, o Instituto Aço Brasil manifestou esperança em uma negociação com as autoridades norte-americanas em busca de manter o sistema de cotas de exportação de aço brasileiro com isenção.

“O Instituto Aço Brasil e as empresas associadas mantêm a expectativa de que, com a abertura do canal de diálogo pelo governo brasileiro com o governo norte-americano, seja possível prosseguir com as negociações para restabelecer as bases do sistema de importação construído no primeiro governo de Donald Trump com o Brasil, em 2018, e que vigorou até esta terça-feira”, disse a entidade em nota.

Nesta quarta-feira entrou em vigor um aumento das tarifas de Trump, para 25%, sobre todas as importações de aço e alumínio dos EUA, depois que expiraram isenções anteriores, cotas isentas de impostos e exclusões de produtos.

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, atrás apenas do Canadá.

O governo brasileiro pediu que o início da aplicação da tarifa contra o país fosse adiado, o que Lutnick e Green prometeram levar a Trump. O governo também pretende tentar, nas negociações, manter as cotas atuais de exportação sem tarifa para o aço.

Etanol e madeira

Uma das fontes ouvidas pela Reuters ressaltou que o governo norte-americano já declarou que novas tarifas, sobre outros setores, devem ser anunciadas em 2 de abril, e o Brasil foi inclusive citado especificamente em dois produtos, etanol e madeira.

Há um temor sobre o impacto que essas novas tarifas podem ter sobre o Brasil, já que informações divulgadas pela Casa Branca de que o governo norte-americano planeja uma tarifa única para cada país que aplica tarifas contra os EUA poderia impactar o comércio bilateral como um todo, não apenas um setor específico.

“A melhor opção é sempre negociar. Se você faz uma retaliação imediata, pode prejudicar ainda mais a própria indústria brasileira”, disse uma das fontes. “Especialmente se considerarmos que novas medidas podem vir por aí.”

Uma decisão sobre retaliação, disse essa fonte, só deve vir depois que todas as alternativas forem esgotadas, e não deve envolver apenas o Executivo, mas também os setores a serem afetados e o Congresso. “Precisa ser uma decisão conjunta, até para mostrar que tentamos todo o possível”, disse.

Nas negociações, o governo brasileiro quer tentar mostrar que não apenas o Brasil tem déficit no comércio bilateral com os Estados Unidos, como também a tarifa média aplicada pelo Brasil, de 2,75%, é inferior à média que os EUA aplica ao país, que chega a 3,5%.

“É até um mau exemplo você impor tarifas a um país com quem você tem superávit. Qual incentivo aqueles com quem os EUA tem déficit vão ter para mudar?”, disse uma outra fonte que participa das negociações.

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