3 Ideias para Entender a Coleção Verão-Outono de Alaïa

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Pieter Mulier, à frente da maison Alaïa, pode ser considerado o estilista do momento. Os critérios para fazer essa afirmação poderiam ser volume de vendas, número de seguidores em redes sociais, ou até a quantidade de interesse que desperta na imprensa. Mas ele ainda não é esse tipo de famoso. O belga Mulier, que já esteve na Dior, na Calvin Klein e na Jil Sander, ocupa aquele lugar de honra em que estão os profissionais que inspiram os próprios pares, que são admirados pelos insiders. Mas, verdade seja dita, desde que assumiu a direção criativa da grife, em 2021, já emplacou hits comerciais, como as sapatilhas teladas, chamadas de mesh flats (criadas há mais de dois anos, e ainda batendo perna por aí), e Le Teckel, a bolsa retangular, inspirada no seu cãozinho da raça dachshund.

Pierpaolo Piccioli, por exemplo, esteve no desfile da Alaïa que aconteceu na terça-feira (4/3), pela primeira vez como parte do calendário da Semana de Moda de Paris – antes, eram apresentações independentes. A coleção verão-outono – pode parecer estranho, mas é assim mesmo – foi mais do que elogiada. Preto, off-white e vinho, mais variações de cinza, amarelo e azul, estão na cartela de cores. Mas a coleção tem muito mais! Veja a seguir o que inspira o estilista, suas referências e pontos de atenção em seu trabalho.

Tão perto, tão longe

Uma saia milimetricamente plissada, em flanela, abre o desfile. A modelagem é escultural: ela se afasta do corpo como um volume independente. Outro volume aparece no rosto, emoldurado por uma espécie de gorro com a barra “recheada”. A parte de cima é etérea, tipo segunda pele. O look é um prenúncio da coleção baseada em formas volumétricas e estruturas tubulares, que ajudam a criar a ideia de flutuação, também presente nos vestidos drapeados, com recortes laterais. Em um outro momento, uma segunda-pele sem espaço para as mangas, como um casulo, entra na passarela, usada com calça e bota, como se fosse um look comum – mas totalmente uau.

Códigos de beleza

Mark Manders é um escultor holandês baseado na Bélgica. Ele é conhecido pelas esculturas com aspecto de inacabadas, de rostos, bustos e corpos, criadas em argila e depois moldadas em bronze, e novamente pintadas para ganhar o aspecto de argila seca, que praticamente se desfaz – aqui, há a ideia da passagem do tempo. Esses conceitos contidos na obra do escultor inspiram Mulier nesta temporada. Referências de épocas diferentes, por exemplo, são, para ele, uma forma de criar a estética do presente. “Ao evocar esses vestígios de histórias – ao recordá-los – podemos criar uma síntese para o nosso tempo, algo novo”, escreveu o estilista. “A ideia de códigos de beleza fora de qualquer era ou geografia, livre de limites, é inatamente ligada à filosofia de Alaïa, à nossa identidade”, explicou o diretor criativo em comunicado. Algumas esculturas do artista faziam parte do cenário.

Para as mulheres

Azzedine Alaïa, o gênio tunisiano criador da marca, falecido em 2017, sempre deixou claro que a mulher estava em primeiro lugar na hora de criar uma peça. Para ele, as provas de roupa, em que pedia para a modelo andar, sentar-se, movimentar-se, eram essenciais. E se dizia feliz quando a mulher que vestia suas criações se sentia feliz com elas. Pieter honra o legado do mestre quando esculpe o corpo feminino à sua maneira. “A mensagem é sobre singularidade, individualidade, a força eterna e a resiliência das mulheres, empoderando-as por meio de suas roupas”, concluiu o belga.

Assista ao vídeo da apresentação a seguir e preste atenção à trilha sonora original, composta por Gustave Rudman na voz da soprano Fatma Saïd, com texto do poeta libanês Khalil Gibran. Para Mulier, ela reflete universalidade.

Com Antonia Petta e Milene Chaves

Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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