Mulheres Vão Controlar 50% da Riqueza Mundial em 25 Anos

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Emma Wheeler é diretora executiva da UBS Global Wealth Management, divisão de gestão de fortunas do Grupo UBS, e responsável pelo programa Women’s Wealth, criado em 2017 com o objetivo de capacitar as mulheres com confiança financeira. Formada em Inglês e Literatura Clássica pela Universidade de Londres, ela liderou uma mudança de comportamento dentro do setor de gestão de patrimônio, garantindo que as preferências das mulheres fossem consideradas.

Membro do Council for Investing in Female Entrepreneurs, um conselho consultivo criado para impulsionar o empreendedorismo feminino no Reino Unido, Emma sempre esteve envolvida com essas pautas. Em 2021, liderou um grupo de especialistas para criar o Invest in Women Hub, um portal online para apoiar fundadoras em estágio inicial no crescimento de seus negócios. No mesmo ano, lançou o Prêmio de Empreendedorismo Feminino da UBS e o Project Female Founder, um programa de aceleração global para apoiar mulheres empreendedoras em estágio inicial, preparando-as para construir redes de contato e captar investimentos.

Em entrevista à Forbes Portugal, Emma afirma que as mulheres ainda não investem no mesmo ritmo que os homens, mas que, após a chamada “grande transferência de riqueza”, elas serão responsáveis por cerca de metade da riqueza mundial. A executiva também destaca que empresárias recebem menos financiamento do que seus pares masculinos e que, se tivessem igualdade de oportunidades, o PIB global poderia crescer entre 3% e 6%.

Confira, a abaixo, os destaques da entrevista com Emma Wheeler, diretora executiva da UBS Global Wealth Management

Forbes: Qual foi o seu principal objetivo ao criar o Programa Women’s Wealth e quais desafios te motivaram?

Emma Wheeler: Em 2014, ficou claro para nós que o perfil da riqueza estava mudando, com o aumento da posse e do controle do patrimônio por parte das mulheres. Há mais de uma década, ouvimos nossas clientes para entender melhor suas abordagens aos investimentos e como elas diferem dos homens. O objetivo era, e continua sendo, atender melhor às necessidades financeiras das mulheres e, assim, promover uma mudança mais ampla no setor de serviços financeiros para esse público.

Também observamos que as mulheres continuavam insatisfeitas com o aconselhamento patrimonial, alegando que seus consultores não se preocupavam com elas ou não as compreendiam. Por isso, tivemos que garantir que nossa equipe entendesse a necessidade de uma abordagem diferente e a importância disso para continuarmos oferecendo um serviço de excelência em gestão patrimonial para todos os nossos clientes, independentemente do gênero.

Qual é a importância desse mercado para o negócio de vocês?

Tem um impacto comercial significativo para todas as empresas de gestão patrimonial, pois sabemos que, em 2025, 35% do patrimônio privado global estará nas mãos das mulheres, e essa fatia está crescendo mais rápido do que no caso dos homens. Cada vez mais, as mulheres possuem e controlam riquezas como empreendedoras, líderes empresariais, herdeiras e também ao se tornarem solteiras, seja por viuvez ou divórcio.

As estatísticas sobre a grande transferência de riqueza – ou seja, a transição do patrimônio dos baby boomers para os millennials nos próximos 25 anos – indicam que as mulheres provavelmente herdarão pelo menos 50% dessa riqueza (estimada entre US$ 84 trilhões e US$ 129 trilhões) apenas nos Estados Unidos. Esses números, somados ao fato de que as mulheres tendem a viver mais do que os homens e a permanecer solteiras por mais tempo, mostram que elas acabarão controlando uma parcela significativa da riqueza global. Essa é uma mudança sem precedentes em nossas vidas e na de nossos avós.

Por que é essencial apoiar as mulheres nessa transferência de riqueza?

Por conta dos estereótipos de gênero estabelecidos por gerações anteriores, em que os homens tradicionalmente tomavam as decisões de investimentos, muitas mulheres não participaram dessas conversas – e algumas ainda continuam assim, apesar de sinais encorajadores de mudança entre as mulheres millennials e da Geração Z.

A pandemia trouxe um aspecto positivo nesse sentido, pois fez com que mais mulheres adotassem uma postura mais cautelosa, levando-as a revisar sua situação financeira e a tomar medidas para investir além de seus planos de aposentadoria. Vemos mudanças significativas em diferentes partes do mundo, como no Oriente Médio, onde a flexibilização das restrições impostas às mulheres fez com que muitas passassem a buscar maior controle sobre seus próprios bens e seu futuro financeiro. Hoje, globalmente, um terço da nossa base de clientes é formada por mulheres, e nosso foco estratégico é expandir esse número, levando em consideração as tendências.

Quais são as diferenças na maneira como homens e mulheres gerenciam suas finanças?

Nosso estudo inicial, realizado em 2017, mostrou que as mulheres enfrentam um percurso financeiro diferente dos homens. Isso se deve a fatores como disparidade salarial, afastamento do trabalho para ter filhos, jornadas mais flexíveis, maior expectativa de vida (em média, cinco anos a mais que os homens) e menor confiança financeira para investir com um nível adequado de tolerância ao risco.

Demonstramos que, se as mulheres investirem de forma consciente, confiante e informada, elas podem reduzir a desigualdade de riqueza de gênero ao longo da vida. A boa notícia é que, se uma mulher começar a investir de maneira estratégica aos 40 ou 50 anos, poderá reduzir significativamente essas disparidades – mas o ideal é iniciar o quanto antes e aproveitar o poder dos juros compostos.

Nosso estudo também revelou que as mulheres precisam participar das decisões financeiras de longo prazo em seus relacionamentos e famílias para evitar que, em algum momento da vida, assumam essas responsabilidades sem a experiência necessária para moldar seu futuro. Para suprir essa necessidade, além de divulgar informações por meio de pesquisas acessíveis a todos, também reconhecemos que não poderíamos promover um crescimento sustentável entre nossas clientes sem antes capacitar nossos consultores patrimoniais para entenderem que uma abordagem diferenciada é essencial.

Quais as principais características das investidoras mulheres?

Ao orientar mulheres investidoras, há várias considerações fundamentais para garantir que elas recebam a assessoria adequada. Elas não são avessas ao risco, mas sim conscientes dele, tomando decisões calculadas com base em fatos. Quando investem, sua tolerância ao risco é semelhante à dos homens. As mulheres são menos emocionais ao investir, pensam no longo prazo, negociam com menos frequência e reagem menos às quedas do mercado. Quando investem ativamente, fazem isso de maneira diligente e, por essas razões, seus portfólios frequentemente apresentam desempenho superior.

Podemos categorizar as investidoras em diferentes perfis de clientes, garantindo que adaptamos nossos conselhos de acordo. Muitas vezes, as mulheres são a ponte para conversar com os filhos sobre o propósito da riqueza, garantindo que aprendam e desenvolvam bons hábitos financeiros desde cedo. Por outro lado, elas tendem a ter menos confiança financeira, por isso é essencial promover a educação financeira para fortalecer essa segurança.

Quais são as principais barreiras e desafios para a riqueza das mulheres?

Acreditamos que temos o dever de pautar essa agenda e apoiar as mulheres investidoras para que sejam mais ativas, pois há claramente uma grande oportunidade econômica. As mulheres ainda não investem no mesmo ritmo que os homens, mas, se o fizessem, adicionariam US$ 3,22 trilhões em capital de investimento, sendo que US$ 1,87 trilhão seriam direcionados para sustentabilidade e impacto.

Nosso foco tem sido a publicação de estudos e a criação de ferramentas que nos permitam compartilhar com clientes e potenciais clientes nosso conhecimento sobre as diferentes necessidades financeiras das mulheres e a melhor forma de atendê-las. Publicamos essa pesquisa globalmente para impulsionar uma mudança mais ampla no setor de serviços financeiros, garantindo que as mulheres tenham mais opções de assessoria.

Por isso, os principais desafios são: oferecer consultoria financeira personalizada para as mulheres; incentivá-las a tomar medidas para ganhar mais confiança e começar a investir; e garantir que elas participem das conversas dentro da família, quebrando o tabu de falar sobre dinheiro.

Hoje, há mais mulheres empreendedoras e milionárias self-made no mundo. O que levou a esse crescimento?

O número de mulheres empreendedoras está crescendo no mundo todo, mas muitas ainda enfrentam desafios significativos para abrir seus próprios negócios. Se as mulheres empreendedoras tivessem as mesmas oportunidades que os homens, o PIB global poderia crescer entre 3% e 6%, injetando de US$ 2,5 trilhões a US$ 5 trilhões na economia mundial. Globalmente, no entanto, elas ainda recebem menos financiamento do que seus colegas homens.

Ainda há uma grande desigualdade de gênero no acesso a financiamento, mas estudos mostram que as mulheres geram mais retorno para os investidores. Essa realidade é ainda mais acentuada para mulheres negras e para aquelas que vivem em países em desenvolvimento, o que representa um grande entrave à igualdade de gênero. Como consequência, elas têm menos oportunidades para inovar e criar negócios de sucesso que poderiam impulsionar a economia global.

Além disso, há diversas evidências de que mulheres empreendedoras que recebem financiamento criam empresas tão bem-sucedidas — ou até mais lucrativas — do que seus pares masculinos. Isso sugere que os investidores estão perdendo oportunidades valiosas: em média, empresas fundadas por mulheres geram 78 centavos de receita por dólar investido, enquanto as fundadas por homens geram apenas 31 centavos.

Nosso estudo de 2021, The Funding Gap, nos ajudou a trazer esse tema para o debate global e nos levou a lançar o programa UBS Female Founders, em parceria com nosso braço de inovação e venture capital, UBS Next. A partir daí, criamos um programa de aceleração global, o Project Female Founder, além do Female Founder Award.

Como podemos combater os estereótipos de gênero nesse setor?

O combate à disparidade de financiamento não deve ser visto apenas como uma obrigação moral, mas também como uma grande oportunidade inexplorada para os investidores e um potencial impulso para a economia. Todos os esforços devem ser feitos para eliminar os preconceitos existentes.

O primeiro passo é aumentar a conscientização sobre essa disparidade e tornar claras as deficiências e os custos de oportunidade envolvidos. Nesse contexto, uma maior transparência em relação à desigualdade no financiamento é fundamental para resolver o problema.

O próximo passo é identificar e compartilhar soluções para reduzir essa disparidade, por exemplo, compreendendo melhor as razões subjacentes à sua existência e tomando medidas para eliminar preconceitos e equilibrar as condições de concorrência. É essencial combater os vieses presentes no processo de financiamento de capital de risco e incentivar os fundos de investimento a contratarem mais mulheres investidoras.

Devido às diferentes condições de acesso a redes de contato – um fator determinante para o sucesso no processo de captação de recursos –, também é essencial promover conexões entre mulheres empreendedoras, investidores e outras partes interessadas relevantes. A cobertura midiática desempenha um papel importante na divulgação de negócios bem-sucedidos, especialmente quando empreendedoras conseguem inspirar outras mulheres a seguir esse caminho e a acreditar em seu potencial, além de ajudar a desconstruir a ideia de que o empreendedorismo é um espaço predominantemente masculino.

Por fim, todos nós podemos refletir sobre como nossos próprios preconceitos, sejam conscientes ou inconscientes, se perpetuam. Ao reconhecermos essas falhas, podemos ajudar a corrigir injustiças e oferecer um suporte mais efetivo para as mulheres em sua jornada no empreendedorismo.

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