Uniqlo Desiste de Expandir para o Brasil Após Análise do Sistema Tributário

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Com mais de 210 milhões de habitantes, o Brasil é o país mais populoso da América do Sul, representando cerca de 50% da população total do continente. Durante muitos anos, fomos considerados o país do futuro, capaz de atrair grandes volumes de investimento estrangeiro com a expectativa de registrar excelentes níveis de crescimento econômico. Infelizmente, esse cenário de prosperidade não se concretizou, e o que vemos na prática é uma estrutura burocrática que trava o empreendedorismo e dificulta a atração de investimentos.

No final de fevereiro, foi amplamente divulgado que uma gigante da indústria da moda, a rede japonesa Uniqlo, desistiu de expandir sua operação para a América do Sul. O plano, que previa o Brasil como âncora desse movimento, foi descartado após um estudo sobre o sistema tributário do nosso país. Em um primeiro momento, muitas pessoas podem achar que essa decisão tem pouco ou nenhum impacto em suas vidas – afinal, muitos nunca nem ouviram falar da marca.

Mas, na prática, a decisão da Uniqlo reflete todo o potencial que nosso país está deixando de aproveitar: empregos e riqueza que poderiam ser gerados caso tivéssemos uma estrutura mais simples e eficiente. E se analisarmos além do caso Uniqlo? Quantas empresas deixam de expandir suas operações para o Brasil? Quantos empreendimentos nacionais deixam de ser criados ou incentivados devido às nossas complexas regras tributárias e trabalhistas?

O que a Uniqlo e muitas outras empresas levam em consideração ao analisar o nosso país é o famoso custo Brasil. Esse termo descreve o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, econômicas e logísticas que aumentam o custo de operação das empresas no país. Em 2023, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou que o custo para se produzir no Brasil era cerca de R$ 1,7 trilhão por ano, superior à média dos países da OCDE. Esse valor inclui fatores como a nossa carga tributária elevada e complexa, a burocracia excessiva, nossa infraestrutura deficiente, a legislação trabalhista rígida, insegurança jurídica, instabilidade regulatória e um custo de capital extremamente elevado.

Temos iniciativas para mitigar parte desse problema, mas elas ainda estão longe de ser suficientes. A Reforma Trabalhista pode ter incentivado a formalização e facilitado alguns tipos de contrato, mas ainda verificamos alto nível de judicialização das relações de trabalho. A Reforma Tributária provavelmente deixará o sistema de apuração de impostos mais simples, mas, ainda assim, teremos o maior imposto sobre o consumo do mundo.

Mas, afinal, por que o custo Brasil importa para quem não está à frente de uma empresa? O valor de R$ 1,7 trilhão levantado pelo MDIC é custeado por toda a sociedade. Por causa dessa ineficiência, verificamos preços mais altos para o consumidor final, vemos empresas escolhendo produzir em outros países – reduzindo assim a geração de empregos – e observamos uma limitação na inovação e no desenvolvimento social do país como um todo.

Talvez, uma marca de roupas japonesas desistir de entrar no Brasil não mude absolutamente nada para você, mas poderia melhorar a vida de muitas outras pessoas. Somos um dos países mais desiguais do mundo, e um Estado inchado não é o caminho para uma sociedade mais justa – pelo contrário. Não podemos ignorar a mensagem clara que estamos recebendo: enquanto não passarmos por reformas estruturais que promovam um ambiente de negócios mais competitivo e incentivem o empreendedorismo, seremos para sempre uma promessa que não se realiza – continuaremos com uma economia frágil, com baixo crescimento econômico, menor geração de emprego e piores condições de vida para toda a população.

*Por Camila Perez, líder de M&A na Galapos e associada do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

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