Com falta de mão de obra na indústria, mais de 600 estrangeiros são contratados em Brusque em 2024

Brusque

Diversos estrangeiros procuram Brusque com o objetivo de conseguir uma qualidade de vida melhor. Apenas no ano passado, mais de 600 foram admitidos em empresas brusquenses.

De acordo com dados do Observatório das Migrações Internacionais, trabalhadores venezuelanos e haitianos são os que mais procuram Brusque para trabalhar. Apenas em 2024, as empresas do município contrataram 432 profissionais da Venezuela e 163 do Haiti.

No ano passado em Brusque, foram admitidos 678 estrangeiros e 549 foram desligados das empresas no mesmo período. As movimentações geraram um saldo positivo de 129 contratações.

Falta de mão de obra na indústria

A empresária Rita Conti, vice-presidente Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), afirma que em Brusque e região há um déficit de mão de obra e que os índices de segurança pública são atrativos para os estrangeiros virem trabalhar. Além disso, ela também credita a vinda dos imigrantes devido à variedade de indústrias locais.

“Eles [estrangeiros] têm muitas opções. Tem o setor têxtil, com as malharias e tinturarias, de metalmecânica, o comércio e o atacado bem fortes. É um conjunto de fatores. Aqui você tem uma infraestrutura acima da média, de uma forma muito bem organizada”, diz.

Um exemplo que Rita cita sobre a procura dos estrangeiros no município são as vagas preenchidas por eles no curso de escola de costura, do Sindicato Patronal do Vestuário de Brusque e Região (Sindivest). “Quando fazemos esse curso gratuito no Senai, a maioria dos inscritos são da Venezuela. Eles querem e procuram essa oportunidade”.

Outra questão que Rita pontua é a preparação da infraestrutura educacional, de moradia e saúde para o município não sofrer um colapso com a vinda de novos moradores estrangeiros. “Junto com o poder público, precisamos criar vagas em creches, ter moradias preparadas e toda a estrutura na saúde para atender essa demanda”.

Mudança para o Brasil

O venezuelano Angel Frank Munoz Naranjo, de 43 anos, e o italiano Marco Miacci, 64, são exemplos de pessoas que vieram para Brusque em busca de novas oportunidades de trabalho. Atualmente atuam no setor de construção civil da Irmãos Fischer.

Angel veio para o Brasil em 2018. Até chegar em Brusque, morou por quatro meses no Paraná com a esposa e também no Acre, onde ficou por quatro anos. Ele veio para o país com a esposa, que trabalha como costureira. Nesse período, trabalhou como profissional autônomo e em outras indústrias.

Decidiu vir para Santa Catarina, pois não encontrava indústrias no Norte para atuar. Quando chegou a Brusque, em 2023, enviou o currículo para diversas empresas e foi chamado pela Fischer. Foi contratado como serralheiro e atua na empresa até hoje.

Angel soldando uma peça de aço. Foto: João Henrique Krieger/O Município

“Um amigo meu que trabalhava na Fischer me indicou, então enviei o currículo e estou aqui. Tenho experiência de 14 anos na área e sempre gostei de fazer o trabalho. Tive que sair da Venezuela quando a crise começou a chegar e minha esposa estava doente também, então encontramos no Brasil uma oportunidade”.

Um dos motivos que fizeram Angel continuar em Brusque foi a segurança, pois ele havia sido assaltado em outra cidade onde morou. “É uma cidade tranquila. As pessoas daqui são diferentes das do meu país, mas, pouco a pouco, fui aprendendo a cultura”.

Na questão da língua, Angel diz que consegue entender o português perfeitamente, mas não consegue pronunciar algumas palavras. O caso de Angel e da esposa é um exemplo da migração dos estrangeiros que se estabelecem nos diversos setores de Brusque.

Angel com seu equipamento de segurança. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Nova vida em Brusque

Marco saiu da Itália e chegou ao Brasil em fevereiro de 2008. Assim como Angel, Brusque não foi o seu primeiro lar no país. Morou cinco anos em Saudades, no Oeste catarinense, e também alguns meses em São Roque (SP).

No início, optou por conhecer melhor a língua portuguesa, em vez de entrar no mercado de trabalho. Porém, como na Itália trabalhava como vendedor de loja de itens esportivos, sentiu saudade de se relacionar com as pessoas e montou um bar na cidade paulista.

“No bar, eu não tive lucro, porque não conhecia os costumes, a comida brasileira. Quando fui para Saudades, trabalhei em uma empresa de artigos esportivos”, diz.

“É triste não ser compreendido ao falar. Os primeiros cinco anos foram difíceis. Hoje, graças a Deus, eu consigo entender e escrever em português”, conta, sobre a sua adaptação à nova língua.

Marco medindo o comprimento das placas. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Marco lembra do dia em que conheceu a Fischer, em 2013. Ele estava indo fazer uma entrevista em outro lugar, quando passou na frente da empresa na rodovia Antônio Heil.

“Estava indo com a minha esposa fazer uma entrevista em outra empresa, quando passei na frente da Fischer e mudei de ideia. Já se passaram 12 anos e ainda estou aqui. Ela [empresa] me deu muita oportunidade. Além da minha família, o meu trabalho é tudo o que tenho”.

Atualmente, Marco é inspetor de qualidade do setor e tem um filho, de 18 anos. Conta que a vinda para o Brasil foi o início de sua segunda vida. Ele vendeu o apartamento que tinha na Itália e trouxe tudo o que tinha. Ele diz que a recepção que teve em Brusque foi muito confortante.

“A coisa que eu mais gostei é que não preciso estar formal todo dia. Se eu vou almoçar na sua casa, não preciso ir de terno e gravata. Aqui eu descobri o que é essencial para ser feliz com pouco. Na Itália, o seu vizinho não lembra o seu nome, aqui todos são amigos. Desde que vim, a minha família cresceu de uma forma sensacional”.

Marco averiguando o projeto de construção. Foto: João Henrique Krieger/O Município

País de origem

O observatório também registrou que, além de venezuelanos, haitianos, na sequência da lista do país de origem dos trabalhadores consta o Paraguai, com 24 contratações e 17 desligamentos. O sistema também registrou 14 admissões e nove desligamentos de argentinos.

Nove trabalhadores de Cuba também foram contratados no ano passado, e sete foram demitidos. Já do Uruguai, empresas brusquenses contrataram sete profissionais e desligaram quatro.

Setores que mais contratam

Outro dado que o sistema oferece é o número de admissões e desligamentos de trabalhadores imigrantes nos setores locais. O setor que mais contratou imigrantes foi a indústria, com 409 admissões.

Rita diz que isso acontece, pois Brusque é uma matriz multissetorial, ou seja, em determinados períodos alguns setores estão mais aquecidos que outros e suprem a demanda de mão de obra.

Ela afirma que essa é uma característica do município, uma vez em que cidades que são fortes em apenas um setor, como o agronegócio, esse fenômeno não acontece. “Em Brusque você abre portas para outras possibilidades. Se é uma família de estrangeiros, o homem pode ir para a construção civil e a mulher para uma confecção”.

Por fim, o observatório divulgou as funções para as quais os imigrantes foram admitidos ou desligados. Como a indústria lidera o ranking de contratações, 400 profissionais contratados são da produção de bens e serviços industriais.

A empresária explica que o trabalhador brusquense tem procurado se qualificar para conseguir melhores oportunidades no mercado de trabalho, e que a busca por mão de obra qualificada é uma das dificuldades da indústria local. Essa escassez tem gerado atraso no desenvolvimento do setor. Nesse cenário, diversos estrangeiros qualificados procuram trabalhos operacionais, preenchendo essa carência.

“Temos casos de haitianos que falam mais de quatro línguas. Nós precisamos da mão de obra operacional, de alguém dentro da fábrica, de atacado. Sem eles a gente estaria com bastante problema em todo o estado. Lá [exterior] eles estão tendo uma ameaça, já aqui eles têm oportunidades”.

Rita frisa que a contratação de estrangeiros não substitui a vaga do trabalhador local. Pelo contrário, ela afirma que supre a demanda de emprego.

Estrangeiros na região

Em Botuverá, foram contratados 34 estrangeiros e demitidos 15. O ano passado registrou um saldo positivo de 19. Assim como em Brusque, a nacionalidade que lidera o ranking de admissões é a venezuelana. Foram contratados 27 profissionais do país sulamericano e nove foram desligados.

Seguindo o mesmo cenário que Brusque, a indústria de Botuverá também foi o setor que mais contratou imigrantes. Foram 28 contratações e 11 desligamentos.

Já em Guabiruba, as empresas contrataram 100 estrangeiros e demitiram 73, gerando um saldo positivo de 27. No município os venezuelanos e haitianos também lideram o ranking de contratações.

No ano passado, foram contratados 69 profissionais da Venezuela e 17 do Haiti.  Seguindo o cenário regional do setor que mais movimentou funções, a indústria contratou 69 estrangeiros e desligou 43. Na sequência, o comércio contratou 16 trabalhadores e demitiu 19.


Assista agora mesmo!

Bar da Toca, no subsolo de restaurante, foi curioso point em Brusque no século 20:
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