Não é só futebol. Por André Balaban

André Balaban escreve artigo em que utiliza o futebol como metáfora para avaliar o atual momento do terceiro mandato do presidente Lula (PT) e o aniversário de 45 anos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Era uma vez um time de futebol.

Grande. Primeira divisão. Torcida exigente. E modesta, claro: dizem ser “o maior clube popular do Ocidente.”

O time nasceu nas bases, cresceu nos terrões da Vila Euclides, no ABC paulista. Começou pequeno, mas logo conquistou o coração da arquibancada operária, de artistas, intelectuais, de uma ala progressista da Igreja Católica e daquela juventude que sempre acha que vai mudar o mundo.

No início, só entrava em campo para mostrar o uniforme e tirar fotos para a posteridade. Mas o tempo é generoso com os insistentes: foi se entrosando, ganhou corpo, virou um time competitivo. E tinha um trunfo. Um craque. O camisa 13 clássico, aquele que faz chover. Habilidoso, driblador, combativo – armava, finalizava e, sobretudo, fazia a diferença.

Depois de muitas derrotas e aprendendo na marra que futebol têm regras que mudam conforme a conveniência do juiz, o time finalmente começou a chegar nas finais. Misturou a ousadia dos novatos com a experiência dos veteranos, consolidou um ataque poderoso pela esquerda, um centro bem postado e até um zagueiro na direita que segurava as pontas.

Vieram os títulos estaduais. Depois, o primeiro campeonato nacional, lá em 2002. Dali em diante, esteve em todas as decisões. Cinco títulos, um vice. E uma polêmica: o campeonato de 2014, vencido em campo, mas anulado no tapetão. O troféu foi cassado em 2016, e até hoje as torcidas organizadas discutem no boteco quem foi mesmo o verdadeiro campeão.

E então veio a má fase. Porque, no futebol e na vida, a ressaca sempre chega. O time parou de figurar nas finais estaduais, viu adversários se modernizando, implantando novas táticas. O VAR virou inimigo, as torcidas organizadas passaram a brigar mais entre si do que contra os rivais. E o pior: o craque se machucou. Ficou dois anos fora. Sem um substituto à altura, o time ficou meio sem rumo.

A imprensa decretou: “Acabou”. Aposentadoria inevitável.

“Não tem mais condições de jogo”, disse um colunista com ar de profecia. “Será que, depois de tudo, ainda tem a confiança da torcida?”, duvidava um comentarista de rádio, tentando parecer imparcial.

Mas o craque voltou. Fez seu milagre particular. Reorganizou o time, enfrentou um adversário cascudo e, contra todas as previsões, levantou mais uma taça. O time, claro, já não era o mesmo. A ala esquerda perdeu aquele ímpeto de antes, a direita ganhou protagonismo, e quem dá as cartas agora é o meio-campo – um centrão que não brilha, mas se espalha, domina todos os espaços e sabe jogar com o regulamento debaixo do braço.

A torcida raiz reclama: “Cadê o futebol ofensivo, a garra das bases?”. Os pragmáticos respondem: “O importante é ganhar”.

Enquanto isso, a diretoria vive em guerra civil. O centroavante não marca gol há meses, os meias não criam jogadas, e o lateral direito, dizem, já está negociando um contrato com o time rival.

De fora, a análise é simples: “Falta comunicação”. Dentro do vestiário, a realidade é outra: rachado. Problema de gestão de grupo.

E, para coroar essa fase turbulenta, hoje o time faz aniversário. 45 anos. Motivo para festa? Talvez. Mas ninguém parece preocupado com bolo e velinhas. O foco é a próxima competição.

E será especial. A despedida do craque. A última valsa do maestro.

Vai ganhar? Vai perder? O que se fala agora é chute de jornalista ou torcida de arquibancada.

Só resta esperar o apito inicial, ver quem tem a melhor tática e torcer para que, no final, ninguém peça o VAR.


André Balaban é Publicitário e Estrategista na The Lovers Company.

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