Atriz de “Ainda Estou Aqui” Conta Bastidores do Filme e das Premiações

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A repercussão de “Ainda Estou Aqui”, muito além do Brasil, surpreendeu até mesmo quem esteve em cena no filme de Walter Salles. “Tinha noção do poder do longa e da história, mas era impossível imaginar que o filme atingiria tanta gente”, diz Valentina Herszage, atriz de 26 anos que ganhou projeção ao interpretar Veroca, filha de Eunice Paiva, papel de Fernanda Torres no filme.

Desde a estreia, em novembro de 2024, o longa levou quase quatro milhões de brasileiros aos cinemas e se tornou um fenômeno, especialmente após o Globo de Ouro inédito para Fernanda Torres e as altas expectativas de indicações ao Oscar. “Foi o meu trabalho de mais apelo para o público, é um marco histórico no audiovisual brasileiro.”

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Completando uma década de carreira em 2025, a atriz, que foi destaque na lista Forbes Under 30 2024 celebra uma trajetória que passa por TV, cinema e teatro. Estreou com o longa “Mate-Me Por Favor”, em 2015, que a levou para o Festival de Veneza. Não parou desde então: atuou em filmes como “A Batalha da Rua Maria Antonia”, de Vera Egito, e “O Mensageiro”, de Lúcia Murat; participou de novelas como “Elas por Elas” e “Pega Pega” e subiu aos palcos com a peça “Lazarus”. “Fui entendendo que poderia trabalhar como atriz enquanto minha carreira acontecia, mas nunca tive essa pilha de que teria que fazer sucesso.”

O destaque, porém, foi inevitável: em 2023, recebeu o convite para viver Veroca, a personagem símbolo da juventude dos anos 1970 no filme de Walter Salles. “Chegar aos dez anos de carreira e trabalhar com um diretor dessa magnitude é muito emocionante.”

Apesar de ter menos tempo de tela e filmagens ao lado do elenco, a atriz virou parte da família entre a equipe e conquistou os olhos do público. “É como se todos fossem protagonistas na maneira como o Walter dirige.”

“Para existir um protagonista, o elenco também tem que estar jogando. Foi interessante construir uma personagem singular, mas que está dentro de um grupo.”
Valentina Herszage

A relação com os colegas de filme perdurou para além das telas. Durante a cerimônia do Globo de Ouro, participou de uma chamada de vídeo com Fernanda Torres, pouco antes de a atriz receber o prêmio na categoria de Melhor Atriz em Filme Dramático. “Depois da entrega do prêmio, o Selton [Mello] enviou mil mensagens e a Fernanda me mandou uma selfie e escreveu ‘rich bitch’, brincando. É incrível como ela nunca perde o humor. É uma lição que levarei para mim.”

Em seu trabalho mais recente, Valentina protagoniza o filme “As Polacas”, de João Jardim, pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Arfecine (Festival Internacional de Cinema Religioso) e no Festival Internacional de Cine de Punta del Leste.

Para os próximos passos, a atriz quer experimentar um pouco de tudo, e já começou uma orientação de roteiro para escrever seu primeiro longa. “Não vou me satisfazer se ficar só na frente das câmeras. Preciso explorar também o que está por trás.”

Confira, abaixo, os destaques da entrevista com a atriz Valentina Herszage, de “Ainda Estou Aqui”

Forbes: São 10 anos de carreira e diferentes passagens na TV, no teatro e no cinema, mas “Ainda Estou Aqui” foi seu trabalho de maior repercussão. Como você tem lidado com o sucesso do filme?

Valentina Herszag: O filme fez muita gente conhecer o meu trabalho e entender que eu não comecei em “Ainda Estou Aqui”. Foi o meu trabalho de mais apelo para o público, porque é um marco histórico no cinema brasileiro. Quase quatro milhões de pessoas já foram aos cinemas. Muita gente lembrou de mim de outros trabalhos, como “O Mensageiro”, a série da Hebe Camargo e as novelas, enquanto outras pessoas que nunca tinham ouvido falar de mim começaram a ir atrás dessas produções. Foi um contato caloroso do público.

Como foi conseguir esse papel sendo fã do trabalho do Walter Salles?

Foi uma sensação diferente de todas as que já tive na minha vida. Adoro fazer novela e teatro, gosto de fazer de tudo porque o que interessa para mim é sempre a história e o personagem. Mas chegar aos dez anos de carreira e trabalhar com um diretor dessa magnitude é muito emocionante. O mais legal disso tudo é quando você encontra alguém que você admira e essa pessoa é maravilhosa e querida. E ele não foi diferente. O Walter foi extremamente carinhoso com todos do início ao fim.

Já imaginava a repercussão que o filme teria?

Eu jamais tive noção do tamanho do sucesso que o filme ia alcançar, mas eu tinha noção do poder do longa e da história, sim. Primeiro que a gente tem o Selton [Mello] e a Fernanda [Torres], que são dois ídolos nacionais, atores que eu assisti a minha vida inteira – assim como todo mundo –, e que vão da comédia para o drama. Também tem o próprio Walter, com “Central do Brasil”, que teve uma bilheteria surreal na época, e outros filmes dele que eu adoro, como “Terra Estrangeira”, que é um dos meus preferidos. Então com certeza eu tinha noção do poder do filme e da importância da história. Agora, que ele atingiria tanta gente e que a Fernanda ia pegar o Globo de Ouro, isso era impossível de imaginar.

Entre tantas personagens que você já fez, o que a Veroca tem de diferente?

Essa personagem existe dentro dessa família. É um filme que destaca a Eunice e como ela teve que se virar no meio dessa brutalidade, mas também é um filme de família, de grupo. Cada irmão tem um jeito de entender e desentender as coisas, mas, ao mesmo tempo, são irmãos. O interessante desse filme, para a gente que estava ali no entorno da Fernanda e do Selton, foi como construir personagens singulares, mas que estão dentro de um grupo.

A Veroca é uma personagem símbolo da juventude dos anos 1970. Ela é uma das primeiras a questionar o que está acontecendo e que percebe que tem alguma coisa errada. Ela está no início do filme, quando a gente vê toda a vida dessa família. O retorno dela também é uma das partes mais interessantes do arco, porque ela volta da Europa, vê as notícias no jornal e a família não fala sobre isso. É uma falta de lugar e de entendimento. É uma personagem muito interessante que amei fazer.

Você tem poucas cenas no filme, mas que, ainda assim, foram muito marcantes. Como foi essa relação de não estar sempre no set?

Uma qualidade muito grande do Walter é que ele dá importância para todos da mesma maneira, independentemente do tamanho da participação. Mesmo a Veroca sendo uma personagem que some durante um longo tempo, a maneira como ele se referia a mim era sempre tão especial. Nunca tive essa preocupação de que eu apareço menos no filme, porque é como se todos fossem protagonistas na maneira como ele dirige.

Você já tinha uma história com a Fernanda Torres, quando participou da minissérie “Fim”, criada por ela. Como surgiu essa conexão entre vocês?

Quando eu conheci a Fernanda pessoalmente, eu estava em cartaz com “Lazarus”, um musical no Rio de Janeiro. A Fernanda tinha ido assistir à peça e, na saída, ela veio comentar comigo sobre a série da Hebe Camargo, que ela tinha acabado de assistir. Nessa época, eu já tinha mandado o teste para a série “Fim”, mas não sabia que tinha passado. Logo depois do nosso encontro, veio esse convite para fazer a Maria Clara na produção. Como foi apenas uma participação, não tive uma convivência com ela, foi um encontro muito pontual. Em “Ainda Estou Aqui”, foi uma convivência mesmo. Passamos dias inteiros juntas chorando de rir, porque ela é muito engraçada, e aprendi muito, porque ela é muito inteligente. Foi um show de coisas incríveis.

Você sente que essa relação se aprofundou ao interpretarem mãe e filha em “Ainda Estou Aqui”?

Com certeza. Às vezes, a gente estava crochetando juntas, conversando sem parar. Outras, a gente crochetava em silêncio, uma do lado da outra. O Walter é muito concentrado e a equipe tem muito respeito por essa história. Fazer a filha da Fernanda Torres foi um deslumbre e um avanço de uma relação muito íntima.

Fernanda Torres e Valentina Herszage em "Ainda Estou Aqui"

Divulgação

Fernanda Torres e Valentina Herszage em “Ainda Estou Aqui”

Como ficou a relação entre o elenco e a equipe depois das filmagens?

Mantemos super o contato. No meio da cerimônia do Globo de Ouro, antes de a Fernanda ganhar o prêmio, o Rodrigo Teixeira, produtor internacional do filme, fez uma ligação de vídeo com as pessoas do grupo. Entrei na chamada com Fernanda, Selton, os produtores executivos e várias pessoas da equipe. Depois, o Selton ficou mandando mil mensagens contando como foi quando a Fernanda estava indo pegar o prêmio. Também mandei uma mensagem quando ela ganhou falando “te amo”, e ela mandou uma selfie e escreveu “rich bitch” brincando. Isso é incrível da Fernanda, ela nunca perde o humor e sabe brincar, independentemente da circunstância. Ela não se leva tão a sério, e acho isso muito inteligente, é uma lição que levarei para mim.

E depois do prêmio, como foi? Já caiu a ficha?

Não caiu. Fico vendo ela indo para um programa americano aqui, indo para uma estreia ali, e é uma emoção e um orgulho de ter feito parte desse filme e acompanhado o processo dela e de todos nós como família. O filme acompanha a trajetória dessa mulher, mas tem um elenco muito grande. Para existir um protagonista, esse elenco também tem que estar jogando. Para todos nós, é muito incrível acompanhar o que tem acontecido.

Uma das características que marcou a personagem foi a questão da fotografia, um hobby que você também compartilha desde antes do filme.

Eu amo fotografia analógica. Comecei a fotografar em 2017 e faço esse registro de todos os meus trabalhos. Tenho várias fotos que ainda não postei de “Ainda Estou Aqui”. É uma coisa que eu gosto de fazer e que é diferente do registro do celular, imediato e com várias tentativas. A fotografia analógica é uma fotografia do acaso e da surpresa. Quando postei essas fotos do filme, elas viralizaram, mas tenho certeza que se eu tivesse colocado fotos de celular, ia ser diferente. Tem a ver com a época do filme também, foi uma similaridade com o olhar da Veroca.

Você já pensou em trabalhar por trás das câmeras, tanto com fotografia, direção ou escrita?

Eu amo ser atriz e acredito que serei atriz para sempre, mas tenho vontade de ocupar outros lugares, de dirigir e escrever. Tenho começado uma orientação de roteiro, quero escrever meu primeiro longa. Mas tudo com muita calma. Assim como falei sobre o início da minha carreira, não tenho muitas pretensões de fazer um grande filme. Mas, ao mesmo tempo, quero trabalhar nessa área, porque amo o cinema como um todo. Sinto que, nessa vida, não vou me satisfazer se estiver só na frente das câmeras. Preciso explorar também o que está por trás.

Falando do seu último trabalho, “As Polacas”, como foi encarar essa personagem e cenas tão intensas?

Essa personagem tem um desafio muito específico, porque ela vive muitas violências ao longo do filme. É um olhar diferente da Veroca, por exemplo. Foi fundamental ter uma coordenadora de intimidade, que é uma função recente no Brasil, essa pessoa que faz o meio de campo com o conforto do ator ou da atriz e o diretor e a equipe. A nossa coordenadora foi a Maria Silvia, e trabalhamos juntas para que eu conseguisse transparecer essa dor, sem precisar sofrer de fato.

2025 marca dez anos da estreia do seu primeiro filme, “Mate-Me, Por Favor”. Como você avalia sua trajetória até aqui?

Quando filmei o “Mate-Me, Por Favor”, aos 15 anos, não tinha noção de que eu viveria do cinema e faria tantos personagens diferentes. Lembro quando a gente estreou no Festival de Veneza, em 2015, quando eu tinha 17 anos. Eu e as meninas do elenco andávamos por lá sem ter noção do lugar em que a gente estava. Voltar em 2024 para Veneza com “Ainda Estou Aqui”, com uma outra percepção, foi um choque.

Você sempre se interessou por arte e cultura? Como foi se descobrir como atriz?

Meu pai é empresário e tem uma agência de turismo, e a minha mãe é psicanalista e já foi professora de moda em uma universidade, mas os dois sempre foram amantes das artes no geral. A gente sempre viajou, íamos em todos os museus, escutávamos todas as músicas, íamos em musicais e peças e assistimos muitos filmes. Cresci vendo um filme atrás do outro, meu pai era super cinéfilo. Em algum lugar ali, eu ia me encontrar no ofício. Entrei em um curso de dança, sapateado, canto e circo aos 5 anos e fiz até os meus 18. Não me lembro da minha vida antes desse envolvimento todo pela arte.

Você imaginava que conseguiria se estabelecer como atriz e ter sucesso nessa carreira?

Eu nunca tive plano B. Tive uma criação muito leve nesse sentido, meus pais não me colocaram nenhum tipo de pressão. O que eu fazia não era pretensioso, no sentido de que tinha que dar certo, que eu tinha que ganhar prêmios e fazer um filme grande. Fui entendendo que eu poderia trabalhar com isso enquanto a coisa acontecia, de uma maneira muito lúdica e divertida. O desafio era muito gostoso. Mas nunca tive essa pilha de que teria que fazer sucesso.

Teve algum momento específico em que você se deu conta de que era esse caminho que queria seguir?

Com certeza. Foi durante as filmagens de “Mate-me Por Favor”. Era uma personagem super esquisita e densa, o tipo de coisa que eu adoro. Quando estava naquele set, com a equipe e aquela coletividade, tudo me encantou muito. Foi aí que entendi que poderia trabalhar com isso. Essa foi a minha virada.

Seus últimos trabalhos têm conexão com temas históricos. Você acredita que essas histórias acabam chegando até você ou é algo que você busca ao escolher seus papéis?

É tipo o ovo e a galinha. Eu já não sei mais, de verdade. Acredito muito em desejos, que quando a gente deseja muito alguma coisa, ela vem até você. Quando comecei a fazer esses filmes que levantavam questões históricas e políticas, me interessei tanto. Cada roteiro que eu pego, eu estudo e me comprometo muito.

Todas as profissões dessa vida são feitas de relações. Por exemplo, a Letícia Naveira, produtora de elenco do filme do Walter Salles, era assistente de produção de elenco da produtora do longa “Raquel 1.1”. Conheci a Letícia no ano em que estava filmando o “Raquel 1.1”, em 2022, para ela poder pensar em mim agora, no longa do Walter. A Amanda Gabriela, que fez a preparação do filme da Lúcia Murat, foi fazer a preparação do filme do Walter e estava na sala de escolha de elenco. Fui construindo essas relações e as pessoas sabem do meu interesse pela história do Brasil, então acho que tem a ver com isso.

Valentina Herszage como Veroca em "Ainda Estou Aqui"

Divulgação

Valentina Herszage como Veroca em “Ainda Estou Aqui”

Hoje, qual é o maior orgulho na sua carreira?

É viver do que eu mais gosto de fazer. Poder organizar minha agenda, minha vida e trabalhar com o que eu gosto. E, ainda assim, ter o meu tempo livre com os meus amigos e a minha família, porque, apesar de eu trabalhar bastante, faço questão do tempo do ócio. Para mim, como atriz, é muito importante poder reiniciar e voltar para o que eu sou, entre um personagem e outro.

O que podemos esperar dos seus próximos passos?

Estou nesse momento de lançamentos. É muito importante poder parar e lançar os filmes que eu fiz e tenho orgulho. Acabei de filmar um longa em homenagem aos 60 anos da Rede Globo que se chama “Coisa de Novela”, com a Susana Vieira. Agora, estou de férias e vou acompanhar as premiações.
Espero cada vez mais cinema na minha vida, mas também quero voltar ao teatro, um lugar onde me reconheço muito. À TV também, porque fazer novela é divertidíssimo e aproxima o público de um jeito que talvez os outros formatos não aproximem.

Olhando mais para frente, tem algum sonho que você ainda pretende realizar na sua carreira?

Estou aberta para tudo, não tenho minha cabeça focada em algo específico. Até agora, tive sorte de pegar personagens muito ecléticos que me surpreenderam. O que vier, se for interessante e eu achar pertinente, vou mergulhar de cabeça. Gosto de me surpreender.

Você tem se concentrado no Brasil ou consideraria também participar de produções internacionais?

Tenho um amor muito específico pelo Brasil, pelo cinema brasileiro e pelas nossas novelas. Acho o nosso português a língua mais linda do mundo. Tenho uma paixão pelo que a gente produz aqui, mas com certeza trabalharia lá fora se rolar uma oportunidade.

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