Cidade das Flores: como Joinville transformou um legado histórico em um mercado de oportunidade

Cidade das Flores: como Joinville transformou um legado histórico em um mercado de oportunidade

Em Joinville, a cultura das flores une história, inovação e trabalho, destacando o potencial do mercado que transforma o agronegócio e a vida das pessoas – Foto: Divulgação

O mercado de flores no Brasil movimenta aproximadamente 20 bilhões de reais por ano, com Santa Catarina se destacando como um dos principais estados produtores do país. Joinville, a cidade mais populosa do estado, é o terceiro maior polo industrial do Sul do país, detém 20% das exportações e está na lista das cidades com a melhor qualidade de vida, segundo o IBGE. O município também é conhecido como Cidade da Dança, Manchester Catarinense, Cidade dos Príncipes e Cidade das Flores.

O Hemero Jardins é um dos destaques turísticos da cidade, recebendo cerca de 50 mil visitantes por ano. Com 30 mil metros quadrados, o espaço mantém o charme das flores o ano inteiro, graças às 150 mil mudas cultivadas, que transformam o local em um atrativo imperdível para moradores e turistas.

E apesar de ser o maior jardim catarinense, não foi ele que trouxe a Joinville o título de Cidade das Flores. Para descobrir como tudo começou é necessário voltar no tempo e mergulhar na história da cidade.

A origem da Cidade das Flores

Há 173 anos, quando os primeiros imigrantes alemães chegaram à antiga Colônia Dona Francisca, além de estabelecerem suas vidas na nova terra, um progresso especial se destacou – o cultivo das queridas flores, que passaram a fazer parte da identidade local desde os primeiros anos da colônia.

O texto do primeiro jornal da cidade, escrito em alemão em 1874, mostra que, cerca de 30 anos após a chegada dos imigrantes, essas flores já chamavam a atenção. Segundo o historiador Dilney Cunha, essa imagem foi ressaltada com a visita de Afonso Pena, recém-eleito presidente da República, que foi até o local para participar da inauguração da Estação Ferroviária de Joinville, em 1906.

Ele foi levado para dar uma volta pela cidade e os jardins estavam todos floridos, fazendo com que ele se encantasse e comentasse que Joinville era a “Cidade Jardim do Brasil”, título que acabou pegando no local.

O mesmo registro ainda destaca que os imigrantes trouxeram mudas de flores da velha pátria, que passaram a cultivar junto com espécies nativas da nova morada. “Havia exemplares importados que também foram cultivados ao lado das espécies locais, né. Por exemplo, as orquídeas, né, tão famosas orquídeas.” – completa o historiador.

Esses esforços de cultivo não só enraizaram a tradição de jardins bem cuidados na cidade, mas também ajudaram a moldar a paisagem urbana que encantaria visitantes ao longo das décadas.

Impacto na economia catarinense

Flor também é sinônimo de prosperidade. O setor, que emprega milhares de famílias em Santa Catarina, mostra como a cooperação entre os segmentos da cadeia produtiva é um importante aliado desse mercado. Trabalhar com flores vem se tornando a principal fonte de renda de muita gente.

Os terrários, criados há quase 200 anos, são uma representação fascinante de um ecossistema em miniatura. Dentro de um frasco de vidro, forma-se uma atmosfera ideal para que o ciclo da vida continue, recriando o equilíbrio da natureza e, em Jaraguá do Sul, é possível conhecer o pioneiro deste sistema na região Sul do Brasil.

Para se dedicar a esses “minimundos encapsulados”, o paisagista Raphael Marcellino conta que deixou a carreira na indústria. Hoje, além de produzir terrários, também ensina outras pessoas a montá-los.

Em Joinville, a cultura das flores une história, inovação e trabalho, destacando o potencial do mercado que transforma o agronegócio e a vida das pessoas – Foto: Divulgação

Maria Eduarda Tomasi também trocou a profissão de fiscal contábil, em 2018, para se dedicar às suculentas e transformá-las em um negócio rentável. Para cuidar dos filhos e ter uma renda mesmo sem sair de casa, começou a vender mudas na internet e, atualmente, comercializa cerca de 50 mil unidades de suculentas por mês no Brasil todo.

A demanda cresceu tanto nos últimos anos que a empreendedora precisou otimizar a produção e transformou seu negócio em uma revenda de suculentas em grande escala. Mas, além disso, descobriu uma nova ramificação do empreendimento: a criação de lembrancinhas com suculentas, garantindo um lucro de 100% com plantas cultivadas diretamente na sua lavoura.

Seu João Helmann, especialista em orquídeas, encontrou uma forma criativa de levar sua paixão adiante: ele aluga suas plantas para restaurantes, consultórios e residências, transformando qualquer espaço com beleza e charme.

Um de seus clientes é o senhor José Lopes, que queria deixar seu restaurante mais acolhedor, mas não sabia como cuidar das flores. A solução veio com o serviço de seu João, que realiza a troca semanal das orquídeas, garantindo que elas estejam sempre impecáveis.

Além do aluguel, João inovou ao transformar sua estufa em um “hotel” para orquídeas, oferecendo cuidados especializados e manutenção. Os clientes deixam suas plantas por um período e, se quiserem, podem visitá-las quando bem entenderem. Algumas orquídeas já estão ali há anos, sempre florindo. Com sua dedicação, João conseguiu unir praticidade e o encanto dessas flores, tornando ambientes mais vivos e atraindo olhares por onde passam.

Festa das Flores

A orquídea Cattleya purpurata é símbolo de Santa Catarina. Essa flor também inspirou a festa mais tradicional do estado que acontece no mês de novembro, um evento que tem grande comercialização e competição e que reúne gente de todo o Brasil para contemplar a festa das flores.

O bioma que favorece o cultivo das flores, privilegiado com o mar de um lado e a serra do outro com calor e frio intensos e uma umidade acima da média, Joinville tem um ambiente ideal para se tornar cada dia mais colorido.

Para quem ama flor Joinville se torna o destino perfeito. A Festa das Flores é considerada patrimônio imaterial de Santa Catarina; nela tem a maior exposição de Flores indoor da América Latina, são cerca de 4 mil metros quadrados de plantas expostas que atraem turistas de todas as partes.

O impacto das flores impressiona não apenas pela beleza, mas também pela grandiosidade: durante o evento de seis dias, 22 mil plantas enchem os olhos e exigem um planejamento estratégico. A umidificação do ambiente é um dos primeiros passos, com espelhos e cortinas d’água, cascatas e outros elementos que criam um cenário mágico e acolhedor.

O mercado de flores no Brasil movimenta aproximadamente 20 bilhões de reais por ano, com Santa Catarina se destacando como um dos principais estados produtores do país – Foto: Divulgação

Além de encantar, a festa movimenta a economia. No ano passado, gerou cerca de 2 mil postos de trabalho e tornou-se uma vitrine para negócios ligados à jardinagem, desde pequenos produtores até fornecedores de maquinários e tecnologias.

Durante a festa, inúmeras categorias são premiadas, e as flores vencedoras têm seus troféus exibidos, atraindo olhares e garantindo o registro de muitas fotos com as campeãs. Seriam elas as verdadeiras princesas de Joinville? O que é certo é que as flores continuam inspirando gerações e fortalecendo a conexão entre a cidade e o campo, um elo vivo motivado pelo agronegócio e pela paixão pela natureza.

Para saber mais sobre a Cidade das Flores e se inspirar com a história de Joinville e diversos empreendedores, assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina e Sicoob.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.