Papa anuncia mais uma mulher em função de liderança no Vaticano

Em nova entrevista ao jornalista Fabio Fazio, Papa abordou diversos assuntos, como seu estado de saúde, a trégua em Gaza e a situação de imigrantes nos EUA

Da redação, com Vatican News

Jornalista Fabio Fazio e o Papa Francisco durante entrevista divulgada neste domingo, 19/ Foto: Reprodução Canal Nove

Irmã Raffaella Petrini estará à frente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. Esta foi a novidade contada pelo Papa Francisco ao jornalista Fabio Fazio, durante o programa italiano Che tempo che fa, transmitido na noite deste domingo, 19, no canal Nove.

Durante a entrevista, o Santo Padre manifestou sua apreensão por uma possível deportação em massa de imigrantes nos EUA, a alegria pela trégua em Gaza e a esperança pela solução de dois Estados. O Pontífice também falou sobre a acolhida de migrantes, o Jubileu, a abertura da Porta Santa na prisão, a luta contra os abusos e a saúde pessoal.

O Papa já havia concedido uma entrevista ao mesmo programa em 2022, depois uma segunda em 2024. Neste domingo, na nova entrevista que teve duração de aproximadamente uma hora, Francisco apresentou sua autobiografia intitulada Spera, escrita em parceria com o jornalista Carlo Musso, publicada pela Mondadori em 100 países: uma obra “muito delicada” composta de muitas histórias “que dão uma ideia de como eu sou”.

Irmã Petrini chefiando o Governatorato

Irmã Raffaella Petrini /Foto: Aracne via Istituto Camillianum

Depois de tranquilizar sobre a condição de seu braço após a contusão de quinta-feira, 16, o Santo Padre contou que a partir de março, após a aposentadoria do Cardeal Fernando Vergéz Alzaga, a secretária Irmã Raffaella Petrini será a presidente do Governatorato do Vaticano.

Outra mulher, portanto, à frente de um importante cargo, após a nomeação da Irmã Simona Brambilla como prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada.

“O trabalho das mulheres nas Cúrias é algo que se desenvolveu lentamente e tem sido bem compreendido. Agora temos muitas delas”, comentou Francisco. “No Governatorato, a vice-governadora, que se tornará governadora em março, é uma freira (…). As mulheres sabem administrar melhor do que nós”, brincou.

Possível deportação em massa de imigrantes nos EUA

Em seguida, ele respondeu a uma pergunta sobre os EUA, à luz dos rumores de um possível plano de deportação em massa de imigrantes após a posse do presidente Donald Trump. Uma eventualidade que o Papa chama de “uma desgraça”, porque faz com que os pobres infelizes que não têm nada, paguem a conta. 

Sobre o tema das migrações, o Pontífice repetiu os “quatro verbos” para enfrentar a emergência: “o migrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado”. E retornou ao tema da queda da natalidade, principalmente na Itália, onde a idade média é de 46 anos. “Se não fazem filhos, deixem entrar os migrantes”, afirmou.

Solução de dois Estados e a importância da paz

A entrevista não deixou de fora uma pergunta sobre a guerra no Oriente Médio, com o início da trégua em Gaza e a libertação de reféns de ambos os lados. Como no Angelus, o Papa expressou gratidão aos mediadores: “Eles são bons”.

Depois, ele se deteve na hipótese de dois Estados: “acredito que seja a única solução. Alguns estão dispostos, outros não”. “A paz”, acrescentou, “é superior à guerra”, mas é preciso “coragem” para fazê-la porque ‘muitas vezes você perde algo, mas ganha mais”. A guerra, ao invés, sempre “é uma derrota”, reiterando o valor das negociações e denunciando o “grande” lucro das fábricas de armas que levam “à destruição”.

O Papa falou, então, da esperança, que está no centro do Jubileu: é “a âncora na praia” à qual se agarrar, enfatizou, retomando a imagem da homilia na abertura da Porta Santa na prisão de Rebibbia. Um gesto sem precedentes que ele quis fazer “porque eu sempre carrego os prisioneiros em meu coração”. “Não se esqueçam dos prisioneiros”, foi seu apelo. “Muitos que estão do lado de fora são mais culpados do que eles”.

Vergonha e dor pela Shoah e abusos

Poucos dias antes do Dia da Memória, celebrado em 27 de janeiro, Francisco disse ter “um sentimento de piedade e vergonha” pelo drama que pôde tocar durante sua visita a Auschwitz, em 2016, com histórias, filmes e o testemunho da “grande senhora” Edith Bruck, uma poetisa húngara de 92 anos que sobreviveu à Shoah.

Os abusos, “um mal muito grande”, foi assunto da entrevista.  O Santo Padre defendeu a luta contra eles.

Primeiro “tropeço” na Capela Sistina

Por fim, o Papa Bergoglio revela anedotas curiosas, como o “primeiro tropeço” em um degrau da Capela Sistina, logo após a eleição, para cumprimentar um cardeal em cadeira de rodas: “O Papa infalível começou com uma falha: tropeçou!”.

Para concluir, deixou um pedido para o Ano Santo: “Não deixem passar esta oportunidade. Avante e coragem. E não percam o senso de humor”.

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