“Mom Brain”: Como o Cérebro Muda na Gravidez e no Pós-parto

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O “cérebro de mãe”, um estado de confusão mental e esquecimento que muitas mães de primeira viagem relatam, não é apenas uma desculpa conveniente para chaves perdidas ou compromissos esquecidos. Trata-se de um fenômeno real que afeta até 80% das novas mães, causando perda de memória de curto prazo, desorientação e dificuldade de concentração.

Embora seja frequentemente tratado com humor em séries de TV e memes nas redes sociais, estudos científicos recentes mostram que o “cérebro de mãe” vai muito além da privação de sono ou da sobrecarga de responsabilidades.

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Um estudo publicado na revista “Nature Neuroscience” revelou detalhes sobre essas mudanças neurológicas, mapeando o cérebro materno desde antes da concepção até os dois anos cruciais após o parto.

Essa pesquisa não só redefine nosso entendimento sobre a neuroplasticidade, mas também esclarece como o cérebro se reorganiza e se prepara para a gestação e a maternidade. Além disso, pode fornecer pistas sobre as causas de transtornos de humor pós-parto e novas formas de apoiar a saúde das mulheres durante e após a gravidez.

Com 26 exames de ressonância magnética documentando a evolução do cérebro de mães de primeira viagem, o estudo oferece uma visão rara sobre a adaptabilidade de um dos órgãos mais vitais. Os resultados traçam um panorama de como o cérebro se adapta para a maternidade.

Como a gravidez transforma o cérebro

Por meio de técnicas de imagem avançadas, os pesquisadores monitoraram as mudanças cerebrais semanalmente, revelando um cenário dinâmico de adaptações neurais durante a gravidez e depois dela.

Um dos achados mais marcantes foi a redução generalizada no volume da matéria cinzenta e na espessura do córtex cerebral. Em termos simples, a gravidez faz com que o cérebro diminua de tamanho. A camada externa do cérebro ficou mais fina em várias áreas, de forma muito mais acentuada do que em mulheres que não estão grávidas. Curiosamente, algumas dessas mudanças persistiram por até dois anos após o parto.

Em contraste com a redução da matéria cinzenta, o estudo observou um aumento na integridade microestrutural da substância branca, especialmente durante os dois primeiros trimestres da gravidez. Isso indica que, enquanto algumas partes do cérebro encolhem, as conexões entre diferentes regiões cerebrais se fortalecem, principalmente nos primeiros seis meses de gestação. Essa reconfiguração pode ajudar o cérebro a se preparar para as demandas da maternidade.

Os pesquisadores também identificaram alterações nos volumes de líquido cefalorraquidiano, que circula pelo sistema nervoso central. Os ventrículos laterais, cavidades em forma de C no cérebro, apresentaram aumento nos volumes de líquido durante o segundo e terceiro trimestres, seguido por uma redução acentuada após o parto. Essas flutuações podem estar ligadas às mudanças na dinâmica dos fluidos corporais durante a gravidez e o período pós-parto.

O papel dos hormônios na remodelação cerebral durante a gravidez

As mudanças observadas no cérebro foram fortemente associadas às flutuações nos níveis de hormônios esteroides, especialmente o estradiol, durante o terceiro trimestre da gravidez. O estradiol, que pertence à classe dos estrogênios, é essencial para o desenvolvimento e a regulação do sistema reprodutivo feminino e das características sexuais secundárias. Essa conexão entre os hormônios e a função cerebral destaca a interação complexa entre a atividade endócrina e a plasticidade neural durante a gestação.

Mas essas mudanças não são apenas estruturais – elas parecem ter um propósito profundo. O estudo descobriu que as adaptações cerebrais estão associadas a comportamentos e respostas maternas essenciais, como o vínculo mãe-bebê, o comportamento de “preparação do ninho” e a resposta fisiológica aos sinais do bebê. Isso sugere que a remodelação cerebral é uma forma natural de preparar as mulheres para os desafios da maternidade, ajustando os circuitos neurais para apoiar os comportamentos de cuidado.

Como as mudanças cerebrais impulsionam os comportamentos maternos

As implicações dessa pesquisa são vastas. Ao estabelecer um mapa abrangente do cérebro humano durante a gravidez, o estudo abre novos caminhos para explorar a saúde cerebral materna. Isso pode levar a uma melhor compreensão e detecção precoce de transtornos de humor pós-parto.

Além disso, essa pesquisa amplia nosso entendimento sobre a neuroplasticidade em grandes transições da vida. Assim como a adolescência é marcada por uma remodelação significativa do cérebro, a gravidez é outro período de adaptação neural. Essa percepção pode ter grandes implicações sobre como enxergamos e apoiamos a saúde das mulheres durante e após a gravidez.

Com o olhar voltado para o futuro, o estudo estabelece as bases para pesquisas mais amplas, envolvendo populações maiores e mais diversas de gestantes. Essas investigações poderiam revelar como as variações nas mudanças cerebrais se relacionam com diferentes experiências ou resultados da gravidez. Além disso, esse trabalho pode inspirar novas abordagens para estudar outras grandes transições da vida e seus impactos no cérebro.

Embora ainda existam desafios para traduzir essas descobertas em aplicações clínicas, o potencial para melhorar os resultados de saúde de mães e filhos é promissor.

*William A. Haseltine é colaborador da Forbes EUA, cientista e escritor. Já foi, por quase duas décadas, professor na Harvard Medical School e na Harvard School of Public Health, onde fundou dois departamentos de pesquisa acadêmica, a Divisão de Farmacologia Bioquímica e a Divisão de Retrovirologia Humana. Atualmente, é presidente da Access Health International, organização sem fins lucrativos que promove soluções inovadoras para os maiores desafios de saúde nos dias atuais.

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