“Ainda estou aqui” é sobre a memória de uma família. Por Affonso Ghizzo Neto

Affonso Ghizzo Neto escreve artigo sobre o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que narra as memórias da família Paiva após o desaparecimento de Rubens Paiva durante a Ditadura Militar, destacando a luta e o sofrimento de sua esposa, Eunice. A obra, reconhecida pela interpretação de Fernanda Torres, é um retrato emotivo e universal da memória familiar que, em sua opinião, está longe de ser uma narrativa ideológica.

Nada mais arriscado do que manifestar uma opinião sobre temas polêmicos e calorosos, especialmente em tempos de polarização acentuada quando a razão e os fatos pouco significam para conclusões radicais já formadas previamente como certeiras, absolutas, únicas e acabadas, sem direito ou necessidade de contestações, contrapontos, complementos ou meios-termos.

Respeitando as diversas opiniões sobre a polêmica do filme do cineasta Walter Salles: “Ainda Estou Aqui”, fico realmente perplexo com a rotulação tendenciosa e a utilização ideológica escrota – de lado a lado (direita e esquerda) – totalmente desvirtuada dos fatos e do ponto central da trama cinematográfica agora reconhecida internacionalmente com a indicação da atriz Fernanda Torres como melhor atriz dramática no Globo de Ouro.

Em verdade, o filme “Ainda Estou Aqui” relata as memórias da família Paiva após o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva quando da Ditadura Militar em 1971. Sua esposa, Eunice Paiva, tenta de todas as formas buscar seu esposo, ao mesmo tempo em que enfrenta as dificuldades emocionais e financeiras para dar continuidade aos cuidados dos 5 filhos do casal: Vera, Eliana, Marcelo, Ana Lúcia e Maria Beatriz.

Como observa a própria Fernanda Torres, as pessoas se emocionam ao ver o filme nas telas dos cinemas, pois, definitivamente, não se trata de uma obra ideológica sobre revolucionários de esquerda ou a luta da guerrilha contra a ditadura. É um belo filme sobre a memória, a luta, as alegrias e as tristezas de uma família que, ao final de contas, poderia ser a família de qualquer um de nós.

Num País com poucas referências nos poderes constituídos, onde a desigualdade social e a corrupção são práticas institucionalizadas nas administrações públicas e privadas, a premiação da atriz Fernanda Torres é um sopro de alívio que traz um pouco do orgulho que representa ser brasileiro. Resta agradecer em voz alta: MUITO OBRIGADO!


Affonso Ghizzo Neto é promotor de Justiça e Doutor pela Universidade de Salamanca – USAL.

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