Opinião | Polarização de verdade: quando as atitudes falam mais alto

A polarização política no Brasil vai além de divergências ideológicas, ela reflete posturas e decisões concretas de seus principais protagonistas.
A comparação entre as ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro é um exemplo contundente.

Lula foi preso em abril de 2018 e permaneceu detido por 580 dias, após uma condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Apesar das acusações, ele se entregou voluntariamente e enfrentou o processo judicial. Em 2021, suas condenações foram anuladas Lula foi preso em abril de 2018, cumprindo 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele sempre sustentou sua inocência, recusando diversas sugestões para deixar o país e buscar refúgio no exterior. Para Lula, permanecer e enfrentar a Justiça era uma questão de princípio e de confiança em sua narrativa de que havia sido alvo de um processo politicamente motivado, conduzido por um juiz posteriormente declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF)  .

Em contraste, Jair Bolsonaro, envolvido em investigações relacionadas a atos antidemocráticos e ao uso indevido de recursos públicos, manifestou publicamente a possibilidade de buscar refúgio em uma embaixada estrangeira, caso sua situação judicial se torne insustentável. Essa declaração reforça a percepção de uma postura que evita o enfrentamento das instituições brasileiras e, muitas vezes, desrespeita os limites constitucionais que ele mesmo prometia seguir enquanto presidente  .

Essa diferença de atitudes ilustra dois caminhos diante de situações adversas. Enquanto Lula optou por enfrentar o sistema, mesmo questionando sua imparcialidade, Bolsonaro parece buscar alternativas que não envolvam responder plenamente à Justiça. Isso reflete uma polarização real, baseada não apenas em discursos ou ideologias, mas em como cada um lida com as consequências de seus atos.

No contexto atual, a sociedade brasileira tem o desafio de analisar criticamente essas posturas, sem se deixar levar pela cegueira partidária. É preciso entender que a verdadeira polarização não está apenas nos extremos ideológicos, mas também nos valores práticos demonstrados pelos líderes políticos. Lula, com suas decisões, mostrou um compromisso com sua narrativa de inocência. Já Bolsonaro, ao cogitar alternativas de refúgio, levanta dúvidas sobre sua disposição de enfrentar as acusações com o mesmo rigor.

O Brasil, mais do que nunca, precisa de líderes que respeitem as instituições, enfrentem suas responsabilidades e se comprometam com a verdade, mesmo quando isso significa enfrentar períodos de grande adversidade.

Marco Antônio André, advogado e ativista

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