Safra de Arroz 2024: tecnologia, cooperativismo e as inovações da indústria catarinense

Safra de Arroz 2024: tecnologia, cooperativismo e as inovações da indústria catarinense

Safra de Arroz 2024: tecnologia, cooperativismo e as inovações da indústria catarinense – Foto: Divulgação

Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz do Brasil. O início da colheita, que ocorreu em janeiro, é mais do que uma tradição no estado: é o resultado do trabalho de diversos agricultores que transformam o campo com a força do cooperativismo, garantindo grãos de qualidade na mesa de muitos brasileiros.

A colheitadeira em ação marca o ápice da temporada e se você já se perguntou como funciona a jornada do arroz que chega até a sua mesa, saiba que é em Massaranduba que essa história ganha vida.

A dedicação de agricultores à rizicultura, com o cultivo de arroz irrigado, deu a Maçaranduba o título de Capital Catarinense do Arroz. Atualmente, a maior extensão em área e, consequentemente em produção, se concentra no Sul de Santa Catarina – mas, ainda assim, o município segue como berço da atividade, cerca de 50 mil toneladas do grão são produzidas anualmente.

Foi em Maçaranduba, por exemplo, que Max Hélio Hemmer, engenheiro mecânico de formação, reinventou a roda e criou uma máquina capaz de andar em áreas alagadas. Analisando a lógica de um cortador de pizza, ele desenvolveu uma roda mais leve, fechada, e eficiente para rodar nas plantações de arroz.

“- A maior satisfação é você ver o seu projeto, a sua ideia sair do papel e realmente se tornar uma realidade de uso. A gente contribuiu com a qualidade de vida do produtor, e muito mais com a qualidade de renda dele” – comenta o engenheiro.

Além do mercado brasileiro hoje a empresa atende outros países, principalmente no continente africano, sempre em busca de novas soluções.

A importância da pesquisa e do cooperativismo

Se de um lado soluções contribuíram no manejo, de outro as pesquisas em melhoramento genético, promovidas pela Epagri, foram cruciais para tornar Santa Catarina o segundo maior produtor nacional de arroz.

“- Se lá na década de 1950, 1960, os agricultores que produziam 40 60 sacos por hectare, hoje os agricultores aqui na região produzem em torno de 160, 170 sacos por hectare, com picos de produção acima de 200 sacos” – explica Hector Haverroth, gerente da Epagri em Joinville.

Seu Orlando Giovanella faz parte dessa herança que une produtores e pesquisadores e, com 61 anos de idade, conta que desde pequeno já ajudava os pais que também eram rizicultores. Hoje ele produz arroz em mais de 800 hectares em cidades de Santa Catarina e até no Mato Grosso do Sul.

Sua expectativa é colher entre 80 a 100 mil sacas de arroz nesta safra. Além de agricultor, Orlando ocupa o cargo de presidente da Juriti, cooperativa de beneficiamento de arroz.

“ – O cooperativismo corre nas veias. Quando a cooperativa foi fundada, lá em 1968, o meu pai e a minha mãe já eram sócios da cooperativa. O grupo Total era de 57 associados, fundadores da cooperativa, e a gente cresceu naquela época, ouvindo deles o quanto era importante a cooperativa dar certo” – relembra Orlando.

Não só deu certo, como a cooperativa já tem mais de 800 associados e compra arroz de 23 municípios. Com capacidade para armazenar até 1,3 milhão de sacas, ela reaproveita praticamente tudo do processo de beneficiamento do grão.

A casca do arroz serve para aquecer as caldeiras e fornos, a sobra carbonizada vira um substrato muito usado em floriculturas. Dentro da indústria os processos estão sendo automatizados, robôs, por exemplo,  buscam garantir agilidade e padronização dos processos.

“- Essa automação é um processo totalmente fechado totalmente automatizado, onde não tem nenhum contato humano com a matéria prima no beneficiamento. E quando eu tenho alimento seguro, eu tenho uma certificação e uma padronização de alimento seguro ao consumidor final” – conta Leomar Eger, diretor industrial.

Inovação no campo

O uso da tecnologia de drones na pulverização de lavouras de arroz promete eficiência e sustentabilidade – Foto: Divulgação

Santa Catarina lidera a revolução agrícola com cultivares adaptados a extremos climáticos. O uso da tecnologia de drones na pulverização de lavouras de arroz promete eficiência e sustentabilidade – exemplos de uma cadeia produtiva que não para de inovar e molda um futuro promissor para o campo.

De um lado a outro da lavoura, o drone pulveriza a área mapeada. Tudo é controlado à distância, com imagens em tempo real. Tecnologia promissora que tem seu custo, mas que também traz facilidades: consegue pulverizar até 21 hectares por hora, rendimento quase duas vezes maior que as máquinas tradicionais que ainda causam perdas de até 3% por conta do amassamento.

Atento às novidades, o produtor rural Marcos Macedo acredita que as inovações que surgiram desde a época em que o pai trabalhava no campo, vão contribuir para que a família siga levando alimento de qualidade para a mesa das pessoas.

Ele conta que quando iniciaram o plantio de arroz na propriedade, tudo era feito à mão. Depois eles passaram para o trator, para o chupacabra e agora estão fazendo a semeadura com drone em algumas propriedades, algo que não dava para imaginar há cinco, 10 anos atrás.

Enquanto de um lado se caminha para a adoção inteligente de tecnologias modernas, de outro, pesquisadores fazem seu papel em garantir que a produção do arroz se mantenha alta apesar das adversidades.

Uma delas é uma nova variedade de arroz irrigado, desenvolvida pela Epagri. Foram 16 anos de pesquisa para criar uma semente capaz de enfrentar as mudanças climáticas no Sul do Brasil, principalmente os extremos de temperatura – algo essencial para o desenvolvimento da planta. O lançamento é mais uma prova da excelência catarinense nas pesquisas voltadas à cadeia do arroz.

Hoje, cerca de 80% do arroz que é cultivado em Santa Catarina vem de sementes desenvolvidas pela Epagri. Nos arrozais de Marcos, em Forquilhinha, a cultivar já mostrou bons resultados, mesmo com quatro enchentes no início do período de plantio.

Com grande importância econômica e social para o estado, a produção do arroz envolve mais de 2 mil famílias. Hoje, o estado conta com cinco cooperativas e cerca de 50 indústrias de beneficiamento, empregando mais de 50 mil pessoas.

Do campo para a mesa

Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz do Brasil – Foto: Divulgação

A indústria do arroz está inovando para oferecer sabores autênticos, com um toque moderno. E quando se trata de encontrar opções deliciosas e saudáveis para quem possui intolerância ao glúten, por exemplo, esse alimento entra em cena e se destaca não só como um substituto, mas como uma opção versátil, com mérito próprio.

No Morro da Fumaça, Sul do estado, há uma indústria pioneira na América Latina na produção de bebidas de arroz líquidas e em pó. Lilian Tiscoski, engenheira química, explica que a bebida de arroz é livre de alergênicos.

Essa produção surgiu a partir de uma necessidade vinda da família de um dos fundadores. Assim eles viram que era difícil encontrar produtos seguros para quem tem a doença celíaca e desenvolveram opções pensadas para esse público.

A bebida de arroz é uma excelente fonte de energia, rica em vitaminas e minerais, pode ser consumida pura, utilizada como base para cafés gelados e até mesmo como ingrediente em receitas culinárias. Hoje a indústria produz nove sabores e, além do tradicional, oferece o de café, de chocolate, banana, maçã, entre outros.

À medida que a conscientização sobre a intolerância ao glúten cresce, as opções para celíacos se expandem. Uma outra indústria em Forquilhinha inovou para ampliar a gama de produtos: hoje fabrica farinha e biscoitos de arroz – com uma textura leve e crocante, são perfeitos para combinações doces ou salgadas.

A empresa, que começou sua trajetória com um pequeno engenho na década de 1960, hoje recebe até 100 caminhões carregados de arroz por dia. Em uma das suas unidades, a capacidade de armazenamento é de 800 mil sacas, garantindo que não falte esse alimento tão precioso na mesa do consumidor.

Os processos, cada vez mais automatizados, garantem não apenas segurança e qualidade em uma infinidade de produtos, como também agilizam o trabalho e diminuem custos. E é graças aos produtores, às cooperativas, pesquisadores, indústrias e tantos outros, que estamos diante de uma tradição viva, cuidadosamente tecida com inovação e respeito pela terra.

Cada grão de arroz que sai do campo até a mesa carrega consigo não apenas a qualidade que se espera, mas também a história e o empenho de pessoas apaixonadas pela agricultura.

Para saber mais sobre o plantio e a colheita de arroz em Santa Catarina, assista ao episódio especial do programa Agro, Saúde e Cooperação, um projeto desenvolvido pelo Grupo ND, em parceria com a SindArroz Santa Catarina, Aurora, Ocesc, Sicoob e Fiedler Automação Industrial.

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