Líder em reclamações no Procon, Yeesco entra em recuperação judicial com R$ 53 milhões em dívidas

A Yeesco entrou em recuperação judicial com dívidas que giram em torno de R$ 53 milhões. O pedido da empresa brusquense foi concedido pela Vara Regional de Falências, Recuperação Judicial e Extrajudicial de Jaraguá do Sul em 31 de outubro. A Yeesco é líder de reclamações no ano, segundo o Procon de Santa Catarina.

Entre os argumentos do pedido de recuperação judicial, a Yeesco, que iniciou as atividades em junho de 2019, alegou que em 2023 entrou em crise financeira. A concorrência com plataformas chinesas no ambiente de comércio virtual em que a Yeesco atua foi um dos motivos que teria ocasionado a crise, conforme a empresa.

Outros apontamentos foram mencionados. A empresa teria enfrentado problemas com transportadoras, o que resultou no atraso das entregas e insatisfação dos clientes. As transportadoras passaram a reter as mercadorias por causa dos atrasos nos pagamentos.

Os clientes acionaram o Ministério Público e foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Segundo outro argumento da Yeesco no pedido de recuperação judicial, o Procon de Brusque exigiu a proibição das vendas sem permitir que houvesse apresentação de defesa.

Ao todo, trata-se de pouco mais de R$ 53 milhões em dívidas. Entretanto, deste valor, conforme a relação de credores divulgada no processo, R$ 34 milhões são para uma única malharia de Brusque. A Yeesco solicitou a tramitação da recuperação judicial em sigilo, pelo menos dos documentos contábeis, mas o pedido foi negado.

“Justificou o pedido de recuperação judicial no atual cenário do e-commerce, com as dificuldades recorrentes na atividade produtiva brasileira nas últimas décadas, tais como a hiperinflação, congelamento dos preços, variações cambiais e abruptas oscilações de juros praticados no mercado financeiro”, escreveu o juiz Uziel Nunes de Oliveira na decisão que concede o pedido.

Suspensão de reclamações

Ainda antes da recuperação judicial ser concedida pela Justiça, a Yeesco entrou com uma liminar em que solicitou a suspensão de informações negativas que poderiam comprometer a reputação da empresa nas redes sociais. A intenção era que os comentários fossem removidos do site Reclame Aqui e do Facebook.

“A autora (Yeesco) informou que visa proteger a reputação da marca, pois, com essas divulgações, ocorre a perda de clientes, a desvalorização da marca, a queda nas vendas, a perda de confiança dos consumidores e a danificação da identidade da marca, gerando inúmeros prejuízos à autora”.

O juiz não aceitou o pedido. O entendimento foi que as reclamações dos consumidores são mera manifestação de clientes relatando experiências. Além disso, o magistrado argumentou que as publicações servem como ferramenta para que a empresa brusquense possa corrigir problemas.

Outro argumento foi que seria possível a Yeesco apresentar uma visão contraditória à reclamação do consumidor. Para o juiz, mesmo que a empresa brusquense alegue que os problemas foram solucionados, não há impedimento para o consumidor expressar insatisfação com o atendimento.

“Não se trata de reclamação isolada, mas sim de um conjunto de consumidores noticiando a falha na prestação do serviço contratado, de modo que não há possibilidade em retaliar a insatisfação do consumidor quando não extrapolado o direito à manifestação do pensamento”, considerou o juiz.

O pedido da Yeesco envolve também o ranqueamento de empresas do Reclame Aqui. O magistrado entendeu ainda que, se a empresa tem algum descontentamento sobre a forma que em que ocorre a classificação no ranking, deve providenciar meios judiciais contra o Reclame Aqui fora do processo de recuperação judicial.

“Tal como ocorre em qualquer procedimento de vendas, cabe à empresa reverter suas vendas e lidar com as objeções que lhe são apresentadas, sobretudo quando fruto de insatisfações que não desbordaram (ultrapassaram) a consagrada liberdade de expressão”, concluiu.

Reclamações persistem

As reclamações à empresa brusquense persistem no site Reclame Aqui. Clientes relatam que compraram produtos da Yeesco e não receberam. Um deles, que comentou no site nesta quinta-feira, 21, disse que já fez outras compras com a empresa, mas, desta vez, o produto não foi entregue.

“Fiz um pedido em setembro de 2024 e até agora não recebi. Agora, nem consigo entrar no site para rastrear. Já comprei outras vezes e não tive problema nenhum. Depois dessa, não compro mais”, criticou o consumidor.

Manifestação

A reportagem de O Município entrou em contato com o advogado Rodrigo Sagradin, que atua na defesa da Yeesco. Em quatro tópicos, o advogado apresentou esclarecimentos da empresa referente ao processo de recuperação judicial e outros assuntos relacionados. Confira a nota na íntegra:

A defesa técnica da empresa Yeesco, por meio desta nota, esclarece o seguinte:

1) Houve o deferimento de processamento da recuperação judicial;

2) Com relação ao pedido de proteção da marca e imagem da empresa perante as plataformas que supostamente defendem interesse dos consumidores, esclarece-se que aguarda análise do Judiciário catarinense, pelos meios legais cabíveis;

3) O pedido de sigilo referido na matéria consiste unicamente aos dados sensíveis da empresa, cuja proteção à privacidade decorre da Constituição Federal. Porém, o processo é público, em razão da sua finalidade de conciliar os interesses da empresa e seus credores;

4) Por fim, essa ferramenta legal tem por principal objetivo permitir a expansão da empresa e seu fortalecimento, sem perder de vista sua missão de levar moda democrática a todos.


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