‘Vamos pro vale tudo’: as conversas do general preso por articular o plano de golpe de Estado

A investigação da Polícia Federal que revelou uma tentativa de golpe de Estado com um plano para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, trouxe uma série de mensagens trocadas com teor golpista entre os investigados. As conversas expõem uma impaciência e radicalismo dos articuladores do plano de execução das autoridades.

Mario Fernandes, preso em investigação da PF que revelou plano de golpe de Estado no Brasil

Conversas de Mario Fernandes com articuladores do plano de golpe de Estado mostram radicalismo e impaciência – Foto: Reprodução/ND

Mario Fernandes, general da reserva e ex-ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro, foi preso na terça-feira (19) na Operação Contragolpe. Junto a ele, mais quatro pessoas foram presas pela participação no plano.

O relatório da PF  traz a transcrição de conversas do general da reserva com demais articuladores do golpe.

Os Kids pretos, Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes planejavam o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes

Os Kids pretos, Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes planejavam o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes – Foto: Reprodução/ND

As conversas entre os articuladores do plano de golpe de Estado

“A gente não pode perder a oportunidade”

Em áudio enviado a Mauro Cid, o general Fernandes afirma que Jair Bolsonaro teria dito a ele que a “ação” poderia ocorrer até o último dia de mandato do ex-presidente. As informações são da Agência Brasil.

“Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, disse Fernandes no dia 8 de dezembro de 2022.

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro

Áudio enviado por Mario Fernandes para Mauro Cid cita um prazo para execução do golpe de Estado – Foto: Reprodução/ Redes sociais

“Vamos pro vale tudo”

Em diálogo entre Fernandes e um contato identificado pela PF como Helio Osorio Coelho, a mensagem enviada por Helio diz que ele está “pronto a morrer” e “ir pra guerra”.

“ Olha, general, eu sou capaz de morrer, cara, pelo meu país, sabia? Pelo meu presidente, cara. Sou capaz de morrer por essa nação. A ter que viver sob julgo de bandidos criminosos, entendeu? Comunistas. Eu sou capaz de morrer, cara, por essa nação. Senhor pode ter certeza disso. Não só eu, mas milhares e milhares de pessoas, entendeu? Eu não consigo vislumbrar, né, meus sobrinhos, né, minhas sobrinhas, os filhos pequenos de meus amigos, das minhas amigas, ficando sob o julgo desse vagabundo. Não consigo imaginar. Eu prefiro ir pra guerra. Eu prefiro ir pro campo de batalha, entendeu?”, diz a mensagem enviada por Helio em 4 de novembro de 2022.

“Quatro linhas é o c…”

Em conversa entre Mario Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, que foi chefe de gabinete do general da reserva na Secretaria Geral da Presidência, o coronel afirma que o plano de golpe de Estado precisa sair das “quatro linhas da Constituição”. O termo era bastante usado por Jair Bolsonaro para se referir ao que seriam os limites da legalidade.

“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o caceta. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso. Estamos igual o sapo, a história do sapo na água quente. Você coloca o sapo na água quente, ele não sente a temperatura da água mudar e vai se aumentando, aumentando, aumentando quando vê ele tá morto. É isso”, disse Reginaldo em mensagem enviada no dia 5 de novembro de 2022.

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