Com Trump, quem são os vencedores e perdedores da agroindústria EUA

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Com Trump, vem aí um novo momento de desafios para agroindústria dos EUA

Os vencedores e perdedores da eleição presidencial nos EUA estão claros, mas quem serão os vencedores e perdedores na indústria de Alimentos e Bebidas (A&B) no país? Embora a perspectiva de novas tarifas protecionistas esteja apenas no horizonte, elas podem criar grandes vencedores e perdedores, potencialmente alterando lealdades e cadeias de suprimento, desde os tomates importados do México até alho da China. Gigantes globais podem ser atingidos com custos de importação, cervejas norte-americanas podem ganhar impulso, marcas próprias podem se beneficiar e produtores dos EUA podem receber apoio doméstico, mas também enfrentar repercussões no exterior.

A intervenção do governo, na forma de tarifas ou impostos sobre importações, tem potencial para impactar preços, margens e participação de mercado. Consumidores correm riscos de serem afetados por um possível novo período de inflação, enquanto a produção norte-americana tem condições de aumentar. Tarifas devem se tornar um dos principais fatores nos negócios de A&B, juntamente com inflação, mão de obra, tecnologia e cadeias de suprimento, à medida que os impostos aumentam.

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Apesar de todo o debate sobre tarifas, pouco se fala sobre o tamanho delas hoje. O governo dos EUA, para o ano fiscal encerrado em 30 de setembro, esperava arrecadar US$ 81,4 bilhões (R$ 472,5 na cotação atual) em tarifas e taxas. Isso é uma fração comparado aos US$ 2,5 trilhões (R$ 14,5 trilhões) esperados de impostos sobre renda e US$ 1,7 trilhão (R$ 9,9 trilhões) de impostos da Seguridade Social e Medicare. Ainda assim, elas podem ter um grande impacto em setores como o de A&B, onde o abastecimento global e as margens estreitas tornam as tarifas uma força potencialmente poderosa.

Com Base no Discurso de Trump

Com base nas declarações de Donald Trump durante sua campanha, tarifas podem ter implicações massivas para a indústria de alimentos e bebidas. “Para mim, a palavra mais bonita do dicionário é ‘tarifas’,” disse Trump. “É a minha palavra favorita.” Ele chamou as tarifas de “a melhor coisa já inventada” e se autodenominou “Tariff Man” (Homem das Tarifas). Mas quem vai se beneficiar e quem vai sofrer quando o momento das tarifas chegar, se de fato chegar?

Conversa Sobre Tarifas

Em primeiro lugar, é essencial perceber que a retórica de campanha e a realidade podem ser diferentes. Em sua primeira gestão, Trump impôs e se absteve de tarifas recolhidas pelos agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras em 328 portos de entrada. Ele também usou a “ameaça” de tarifas como ferramenta de negociação. Após ameaçar tarifas altas para o México e o Canadá, Trump recuou quando o Acordo Estados Unidos-México-Canadá entrou em vigor em 2020, substituindo o NAFTA, em vigor desde 1994. Assim, a conversa sobre tarifas, em alguns casos, pode ser o fim do processo.

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Mas assumir que isso é apenas conversa seria um grande erro. Trump também acredita em impor tarifas, criando barreiras financeiras, como as físicas que propôs para a fronteira. Em 2018, ele impôs tarifas de 30% a 50% em bens importados da China, juntamente com outras tarifas. Tarifas mais altas, de 10% a 20% em quase todas as áreas, e até 50% ou mais para a China, poderiam alterar tanto os custos quanto os hábitos de consumo. O México também poderia enfrentar tarifas pesadas, com impactos temporários ou permanentes na indústria de A&B.

Impactos de Curto Prazo

No curto prazo, as tarifas pagas por importadores poderiam levar ao acúmulo de estoques, gerando escassez e picos de preços. A incerteza também deve dificultar o planejamento das empresas, levando a estratégias de hedge. Essas discussões ocorrem em meio a preocupações de que a inflação no setor de A&B já é uma realidade, com altos preços globais de alimentos, tornando guerras comerciais especialmente arriscadas.

O índice de preços compilado pela FAO subiu 127,4 pontos em setembro, um aumento de 5,5% em relação ao ano anterior, alcançando o nível mais alto desde abril de 2023, embora ainda 20,5% abaixo do recorde de março de 2022. Todos os preços, exceto os de carne, subiram, com óleos vegetais aumentando mais de 7% em relação ao mês anterior. Consumidores temem que a inflação possa piorar, e as tarifas pesar ainda mais, afetando a demanda, o abastecimento e as cadeias de suprimento, potencialmente gerando reações adversas.

Países em Alerta

Tarifas direcionadas a países específicos oferecem grandes vantagens a algumas nações, enquanto punem outras em uma espécie de diplomacia financeira. Tarifas altas poderiam atingir fornecedores baseados na China, União Europeia e Japão, que devem retaliar. O México sentiria o impacto, já que cerca de 40% do PIB do país depende de exportações, sendo 80% delas destinadas aos EUA.

Empresas no Jogo

Empresas globais como Pepsico e Unilever, que investem no México, poderiam enfrentar tarifas substanciais.  Por exemplo, a Constellation Brands, que importa as cervejas Corona e Modelo, também estaria sujeita a tarifas. Pequenas empresas, com menor capacidade de absorver custos adicionais, seriam particularmente vulneráveis.

Consumidores e Trabalho

Consumidores tendem a ser os mais afetados em uma guerra comercial, com aumento dos preços. A administração anterior de Trump já impôs US$ 80 bilhões (R$ 464 bilhões) em novas tarifas em 2018 e 2019. No entanto, as tarifas são pagas pelos importadores, configurando um “imposto sombra”, que se reflete nos preços, mas sem que os consumidores percebam a origem do aumento.

No mercado de trabalho, políticas migratórias podem agravar a escassez de mão de obra no setor. Embora as tarifas possam impulsionar empregos, estudos indicam que não houve mudanças significativas no emprego dos EUA por causa das tarifas de Trump.

Preço do “Progresso”

As retaliações de tarifas podem reduzir o PIB dos EUA em um ponto percentual até 2026 e aumentar a inflação em dois pontos percentuais, segundo estudos. Mesmo assim, tarifas podem ser usadas como ferramentas de negociação. Enquanto Trump discursa sobre tarifas, vale registrar que o governo Biden também impôs aumentos tarifários em US$ 18 bilhões (R$ 105 bilhões) de bens chineses em 2024.

O que se tem até agora

Tarifas podem proteger indústrias americanas, mas também reduzir a competitividade global, prejudicando exportações. As mudanças podem beneficiar produtos nacionais, mas a preços altos, que consumidores podem não querer pagar. O impacto das tarifas promete um caminho turbulento. Prepare-se para a montanha-russa.

*Louis Biscotti é colaborador da Forbes EUA e líder do grupo de Serviços de Alimentos e Bebidas da CBIZ. Já contribuiu em colunas no The Wall Street Journal, Newsday, Long Island and New Jersey Business News, Supermarket News e Food Dive. 

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