“Moreninha linda do meu bem-querer, é triste a saudade longe de você”. A música que fez sucesso na voz da dupla sertaneja Tonico & Tinoco virou uma paródia para expressar o amor, cuidado e, principalmente, a saudade que um gato deixou na equipe de um hospital veterinário em Joaçaba, no Meio-Oeste de Santa Catarina.

A médica veterinária Bruna foi flagrada dançando com cinzo. – Foto: Hospital Veterinário Arca de Noé/Reprodução/ND
A cantoria regada a dança e muito amor caiu na web e viralizou. O vídeo mostra a médica veterinária Bruna Callai dançando e cantando com o gato SRD (Sem Raça Definido) Cinzo no colo.
A declaração de amor foi flagrada por uma câmera de monitoramento no Hospital Veterinário Arca de Noé.
Cinzo – ou cinzinho, como é carinhosamente apelidado pela médica veterinária – passou 10 dias internado para tratar diversos problemas ocasionados pela ingestão acidental de cebola.
O amor e o cuidado de toda a equipe do hospital veterinário, e principalmente da médica veterinária, ajudaram o gato a se recuperar. No vídeo, ela canta enquanto dança com o felino no colo: “Oh Cinzinho lindo do meu bem-querer, é triste a saudade longe de você”. Ela ainda questiona “o que fará sem ele?”. (Assista no vídeo abaixo)
O vídeo da dança e da paródia da médica veterinária com o gato viralizou. – Vídeo: Hospital Veterinário Arca de Noé/Reprodução/ND
Complexidade do caso e tratamento efetivo
“A cebola é um composto altamente tóxico e potencialmente letal para cães e gatos. O nosso paciente apresentou quadro de anemia hemolítica grave, icterícia (coloração das mucosas amarelas), distúrbios do trato urinário e parou de se alimentar espontaneamente”, explicou a médica veterinária.
Segundo Bruna, devido à complexidade e gravidade do caso, imediatamente o animal recebeu tratamento de suporte.
“Foi necessário fazer a passagem da sonda esofágica para alimentação (colocada cirurgicamente até o estômago do animal), transfusão sanguínea e fluido terapia. Além de todas as outras medicações utilizadas durante o internamento”, explicou.
Apesar da complexidade do caso, graças a toda a equipe do hospital e o amor da tutora de Cinzo, a professora Josiane Aparecida de Jesus, foi possível reverter o quadro clínico do gato. Após 10 dias de internação, ele se recuperou bem e segue o tratamento em casa.

O gato recebeu todo o carinho e cuidado da equipe. – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND
“O Cinzo foi um doce durante toda a internação. Convivendo com ele por 10 dias houve um apego emocional, sim. Ver a recuperação dele ao longo desses dias foi gratificante”, afirmou.
A médica veterinária conversava, fazia carinho e alimentava Cinzo. “Acredito que isso também foi crucial no processo de cura. No momento da alta, senti uma parte do meu coraçãozinho indo junto, mas a felicidade era extrema”, contou Bruna.
Registro inusitado
A médica veterinária revelou que quem encontrou a cena inusitada foi a própria chefe enquanto procurava por imagens de um fato que havia ocorrido no hospital.
“Ela me respondeu: ‘Bruna, a situação aconteceu antes ou depois de você dançar com um gato no internamento?’”.
O vídeo foi parar no grupo de médicos veterinários do hospital e virou motivo de riso. Eis que alguém teve a ideia de postar no Instagram e o registro viralizou.
“Eu estava realizando a aferição dos parâmetros do paciente e a música veio na hora na cabeça, pois no dia seguinte ele estaria de alta logo pela manhã. Então, seria a última noite de internação e a saudade bateu antecipadamente. Foi aí que surgiu a música na cabeça”, detalhou a médica veterinária.
A profissional não esperava a repercussão do vídeo e afirmou que, por muitas vezes, acreditam que salvam e ajudam os animais.
“Mas de alguma forma eles também nos salvam. Minha mãe no momento está passando por um tratamento de saúde e trabalhar com animais para mim é uma forma de terapia. Ser médica veterinária para mim é um privilégio, um sonho realizado e um propósito de vida”.
A história de superação do gato Cinzo
Há três anos o gato Cinzo chegou à família da professora Josiane e do namorado Felipe Vier Peccin, em Herval d’Oeste, município que faz limite com Joaçaba. Ela lembra que o gato era o menor da ninhada e foi amor à primeira vista.

Cinzo com o irmão Pitu. – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND
“Pegamos ele no interior. Fiquei apaixonada, era o mais pequeno”.
Em casa, o gato foi recebido pelo irmão mais velho, Pitu – um charmoso gato preto e branco. Hoje, também divide a rotina com a irmã felina Chuerlys ou apenas Chú.
Quando começou a apresentar sinais de que algo não estava bem, a tutora de Cinzo imediatamente o levou ao hospital veterinário. Os exames tiveram resultados alterados e o gato precisou ficar internado.
“Não fazia ideia de que era tão grave. Desde o início do tratamento algo que achei importante é que eles realmente investigaram e fizeram todos os exames para identificar o diagnóstico. Só depois escolheram o tratamento adequado. Durante a internação, sempre me informavam como ele estava”, contou.
E foi nas visitas na internação que Josiane viu o apego e carinho de toda a equipe com Cinzo.
“Ele [o gato] se sentia à vontade com eles. Uma das razões de ter levado ele lá é que sabia que não seria apenas mais um paciente. Tinha certeza que iam cuidar dele com atenção. Foi esse cuidado e carinho que fez toda a diferença para que ele ficasse bem”, afirmou.
A professora lembrou dos dias sem Cinzo em casa e enfatizou a saudade e o vazio que sua ausência deixavam.
“Temos muito amor pelos nossos ‘três filhos’[os gatos]. Não consigo me imaginar sem eles. Sentia falta de chegar em casa e ser recebida pelo Cinzo. Falta até mesmo das brincadeiras. Mas, ao mesmo tempo, ia visitar e sabia que ele estava lá para se recuperar e voltar bem”.
Salvo pelo irmão
Durante o tratamento e a situação crítica de Cinzo, o gato precisou receber transfusão de sangue. E o doador foi nada mais, nada menos, que o irmão felino Pitu.
“Quando me passaram as características, vi que o Pitu se enquadrava. Foi o irmão que ajudou a salvar a vida dele com o sangue. Uma vitória. O Cinzo é forte e o trabalho da equipe foi fundamental. Tenho muita gratidão pelo cuidado que tiveram e estamos muito felizes de ter ele em casa de novo”.
Gatos e suas características peculiares
Um recente artigo publicado pelo site Perito Animal, que fala sobre as características dos felinos, lembra que eles possuem fama de independentes e pouco apegados aos seus cuidadores, mas a verdade é que os gatos são excelentes companheiros para qualquer lar.
“Eles podem ser tão afetuosos quanto os cachorros, mas apresentarão diferenças consideráveis, não apenas físicas. É essencial que você conheça o caráter, o comportamento e as necessidades, ou seja, todas as características dos gatos antes de adotar um”.