Paris, 55 anos depois

No ano de 1968, o governo francês me concedeu uma bolsa de estudos para cursar um Doutorado em Direito Penal, na Universidade de Nice. No ano seguinte, jovem, cheio de entusiasmo e curiosidade, aproveitei as férias de verão para visitar Paris. Embora tenha sido ocupada pelo exército alemão, a cidade e seus principais pontos turísticos, felizmente, tinham sido preservados do horror destrutivo das bombas lançadas pelas fortalezas voadoras e as bocas de aço dos tanques e canhões, que deixaram a Europa em ruínas.

Lá estavam, intactos como antes da Guerra, o glorioso Arco do Triunfo, símbolo das vitórias de Napoleão; a imponente Torre Eiffel; a simpática e medieval Notre Dame, com suas histórias de seres fantasmagóricos povoando as duas torres na escuridão das noites parisienses; o conhecido Museu do Louvre, com seu interminável acervo, do qual só a Mona Lisa interessa à maioria dos visitantes; o suntuoso prédio da Ópera Guarnier, referência mundial do canto lírico; Pigalle, com sua Praça do Tertre e seus pintores e, bem próxima, a brancura da igreja do Sacré Coeur, mirando do alto toda a cidade.

Preservado também tinha sido todo o magnífico conjunto arquitetônico dos seus edifícios construídos no final do século 19 e que faz de Paris uma das cidades mais bonitas e visitadas do mundo. Naquela primeira viagem a Paris, pouco mais de vinte anos após o término da Segunda Guerra Mundial, fiquei impressionado com o grande número de turistas caminhando pelas ruas e avenidas da Cidade Luz.

Prova da rápida recuperação econômica e social das duas principais nações derrotadas, muitos japoneses bem comportados, já com suas máquinas fotográficas nas mãos e outros tantos alemães, integravam uma boa parte do batalhão dessa gente porta afora e mala na mão. Mas, a maioria dos turistas que visitava Paris do pós-guerra era mesmo da grande e rica nação vitoriosa.

Muitos desses turistas norte-americanos, penso eu, deveriam ter sido soldados que anos antes desembarcaram nas praias da Normandia para libertar a França e Paris do jugo nazista. Outros tantos que não pegaram em armas, lá estavam para visitar o túmulo de um parente ou amigo, que deixara o seu sangue em terras francesas em nome da liberdade.

Turistas de outros países, certamente, lá estavam. Mas, eram uma minoria no meio do grande batalhão de norte-americanos, japoneses e alemães, cujos exércitos vinte anos antes se enfrentaram como inimigos, com seus soldados de armas nas mãos, matando-se uns aos outros.

No começo deste mês, passados mais de 50 anos, voltei à França e vi uma legião diferente de turistas caminhando pelas ruas, lotando os museus e restaurantes de Paris. Norte-americanos, alemães e japoneses, sem dúvida, ali não faltavam. No entanto, já não fazem aquela larga maioria dos tempos do pós-guerra.

Agora, resultado da globalização e do transporte aéreo internacional de massas, vi turistas de diversos países – australianos, ingleses, espanhóis, indianos, canadenses e brasileiros. Vi também uma multidão de orientais. Mas, agora parece que a maioria é de chineses, visitando a capital francesa.

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