“Nossa vocação é receber o necessitado como a Cristo”, diz médico

No Dia de São Lucas e do Médico, confira como profissão do terceiro evangelista contribuiu com sua forma de enxergar e narrar a vida e os ensinamentos de Jesus

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: freepik

Nesta quinta-feira, 18, a Igreja celebra São Lucas. Autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, ficou conhecido como “Evangelista da Misericórdia” por dar ênfase a este aspecto do ministério de Jesus Cristo durante sua vida.

A teóloga e professora Patrícia Rosa destaca que, apesar de não ter conhecido Jesus pessoalmente, São Lucas conseguiu assimilar e transmitir a mensagem de Cristo. “Lucas é um apaixonado pelo Evangelho (…) e apresentou um rosto belo e misericordioso de Deus, que se manifestou na vida de Jesus”, afirma.

Patrícia sublinha a passagem em que Jesus diz: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). “Foi assim que Jesus agiu, mostrando-se compassivo e misericordioso com as pessoas doentes, pecadoras, marginalizadas”, salienta a teóloga.

Jesus, o médico de corpos e almas

Patrícia Rosa / Foto; Arquivo pessoal

Além disso, a teóloga ressalta ainda a profissão de São Lucas: uma vez que era médico, o evangelista tanto se atentou a detalhes bastante específicos (sobretudo nas curas físicas realizadas por Jesus) quanto ao cuidado que o Cristo tinha com o povo, descrevendo-o como “o médico de corpos e de almas”.

“Lucas apresenta um rosto de Jesus humano e misericordioso, sensível, como um ‘médico’ que se inclina às misérias e doenças das pessoas pobres, homens e mulheres: Jesus é o médico, é o pedagogo, é o irmão do órfão; ele é o defensor da viúva desamparada, a esperança do desvalido, o crítico severo da liderança; ele é, enfim, o mensageiro da misericórdia e da justiça. Jesus é solidário com as multidões: os pobres, os simples, os humildes, os sofredores, as mulheres, os pecadores, etc. Assim, Jesus assume a pedagogia da ‘inclusão’, que vai em busca das pessoas pobres, excluídas e perdidas”, expressa Patrícia.

“Receber como a Cristo”

Devido à sua profissão e ao seu olhar, São Lucas é considerado o padroeiro dos médicos. Por conta disso, no dia 18 de outubro também é comemorado o Dia do Médico, a fim de celebrar aqueles que são chamados a cuidar da vida humana por meio deste serviço.

O ginecologista, obstetra e presidente da Associação de Médicos Católicos da Diocese de Lorena (SP), Djalma Antônio dos Santos, reflete que “todo aquele que procura o médico, de alguma forma, é um necessitado”. Neste contexto, recorda que “desde os primeiros escritos mais antigos de medicina, sempre o médico é aquele que está em auxílio à população, em auxílio a quem, de alguma forma, está buscando ajuda”.

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Dr. Djalma cita que, nas primeiras casas de saúde da Idade Média (muitas delas ligadas à Igreja), havia uma placa cuja inscrição em latim significava “receber como a Cristo”. “Esse é o cerne da vocação do médico, ou seja, a ajuda a quem precisa, mas recebendo o outro na pessoa do Cristo”, explica.

“O dom da medicina”, prossegue o ginecologista, “foi dado por Deus aos homens, para que eles exerçam isso em favor dos homens”. Além disso, “Deus também deu aos médicos o dom da cura, mas não de uma maneira extraordinária, instantânea e miraculosa; deu o dom da cura através da ciência, dessa maneira ordinária, do dia a dia, e há necessidade do médico estudar bastante, se aplicar, para colocar isso em favor do outro, daquele que precisa, de forma a participar de um plano maior, o plano salvífico de Deus”.

Universalidade da salvação

Patrícia aponta também que os escritos de São Lucas têm um caráter universal, sendo dedicados a Teófilo (Lc 1,3; At 1,1), cujo significado é “amigo de Deus”. “A salvação não é só para judeus, mas se estende a todas as pessoas. Por isso, Jesus se dirige aos pobres, às pessoas excluídas, doentes e toda a sorte de sofredores e perdidos”, explica.

A professora chama a atenção para dois fatos ligados a esses escritos. Na genealogia de Jesus segundo São Lucas há 77 nomes – número usado para representar todas as outras nações – e vai até Adão (Lc 3,23-38), diferentemente do Evangelho de São Mateus, cuja descrição genealógica começa em Abraão (Mt 1,1-17).

No livro dos Atos dos Apóstolos, por sua vez, São Lucas relata o envio dos apóstolos por Jesus como suas testemunhas, “a começar por Jerusalém, em toda a Judeia, a Samaria e até os confins do mundo” (At 1,8), e a descida do Espírito Santo em Pentecostes (At 2). Tais trechos também reafirmam a universalidade da mensagem de Cristo.

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