Católicos testemunham cura após diagnóstico de câncer: há Vida na Cruz

Na Semana Nacional da Vida, conheça a história de missionários que escolheram a fé e a vida ao enfrentarem o diagnóstico mais difícil de suas vidas

Julia Beck 
Da redação

Suellen Moro e Rafael Vitto /Foto: Arquivo Pessoal

Embora o foco da Semana Nacional da Vida (que está sendo celebrada pela Igreja desde terça-feira, 1º de outubro) seja a valorização da pessoa idosa, essa celebração reforça a defesa da vida em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural. Neste percurso da vida, muitas são as ameaças: aborto, desigualdade social, pobreza, violência, guerras, eutanásia, o suicídio assistido, pena de morte, experimentações biotecnológicas.

Apesar dos incontáveis fatores que tentam acabar, manipular e dissuadir a vida, há quem, indo na “contramão do mundo” – pedido frequente do Papa Francisco, luta pela vida. Os missionários da Comunidade Canção Nova, Suellen Moro e Rafael Vitto, enfrentaram diferentes tipos de câncer e fizeram da fé o combustível para guiá-los durante o tratamento.

Nova missão

Suellen recebeu o diagnóstico de câncer de mama no dia 14 de julho do ano passado (2023), aos 29 anos. “A princípio tive medo do que viria pela frente, mas logo, tomada pela confiança em Deus o medo foi embora e fiz desse diagnóstico a minha ‘nova missão’”. A jovem afirma que viveu tudo com alegria, mesmo os dias mais difíceis.

“Levar força e esperança a outras pessoas”. Foi assim que a missionária encarou o tratamento. Foram 16 quimioterapias (quatro vermelhas e 12 brancas) e duas cirurgias (uma pequena para a colocação do cateter e outra para a retirada do tumor). Segundo ela, a perspectiva é de passar por mais uma cirurgia: a colocação da prótese definitiva.

O diagnóstico recebido por Rafael foi de um linfoma linfoblástico B (leucemia). Durante todo o tratamento, o missionário ficou internado. “Eram ciclos de 25, 30 dias internado e 10 dias fora da internação”, recorda. Ele lembra que viveu o tratamento durante todo o ano de 2018, somando um total de 40 radioterapias feitas, além dos ciclos de quimioterapia.

“A gente só vive esse tipo de coisa com oração, mas mesmo assim, mesmo sendo um homem de Deus, no meu caso, seminarista, eu tremi, senti medo” – Rafael Vtto

Antes do diagnóstico, Rafael fez uma cirurgia para a retirada de nove “caroços” que existiam no seu pescoço, foi então que veio o resultado da biópsia.

Ao saber que estava com câncer, ele conta que a primeira palavra que veio em sua mente foi “morte”. “Eu não parei nesse medo. Em oração, perguntei a Deus: ‘O que que o Senhor quer de mim?’ Será que eu preciso me preparar para a minha partida? Ou na verdade esse processo é um processo de purificação, de amadurecimento na minha vida?”. Rafael conta que Deus falou com ele de muitas formas: por meio dos médicos, da evolução do tratamento, das pessoas.

O missionário ressalta então uma passagem do Salmo 118 que diz: não morrerei, mas ao contrário viverei para cantar as grandes obras do Senhor. “O Senhor me provou severamente, mas me livrou da morte. Todo dia eu repetia isso para mim mesmo e, as vezes repetia cinco, dez, quinze vezes durante o dia. Isso me manteve firme”.

Suellen Moro e Rafael Vitto durante tratamento oncológico /Fotos: Arquivo Pessoal

Paciência com o processo

“A retirada da mama, mesmo sendo colocada uma prótese, é um processo doloroso, psicologicamente e principalmente fisicamente. No caso da mastectomia radical a recuperação é lenta e gradual. É preciso ter paciência com o processo” – Suellen Moro

Perda dos cabelos, dos cílios, sobrancelhas … dores, exaustão, cólicas, aftas que dificultavam na hora de comer até os alimentos mais simples. Um assalto violento na ida para uma das sessões de quimioterapia. Suellen pontua que foram inúmeros os desafios. Apesar das intercorrências, ela frisa que tudo se tornou mais leve, pois estava acompanhada. “Jesus estava ali sempre e em tudo”, indica. Para Suellen, a terapia também foi uma aliada nesta fase.

Cuidados de Deus e dos irmãos

“Os meus grandes desafios eram as internações”, revela Rafael. Além das quimioterapias, o missionário conta que precisou fazer vários transplantes de sangue e de plasma. Uma cegueira momentânea, náuseas, mal-estar, insônia, calor, formigamento, queda de cabelo, fraqueza do corpo e da mente foram consequências do tratamento que ele precisou enfrentar.

O seminarista lembra com carinho do apoio que recebeu da comunidade Canção Nova e de seus membros. Muitos ajudaram nos cuidados, com orações e mensagens de encorajamento. “Em meio à minha fragilidade, sentia que Deus cuidava de mim, me sustentando”.

“Hoje o meu estado de saúde é muito bom”, afirma Rafael. A pior consequência da doença, de acordo com ele, foi o desenvolvimento de osteonecrose na cabeça do fêmur e no joelho.  No entanto, o missionário garante que está tratando com fisioterapia, musculação e dieta. “Hoje eu prezo muito pela minha saúde. O Padre Jonas dizia que precisamos obedecer ao médico e obedecer ao próprio Deus”.

Assim como Suellen, ele destaca que também fez períodos de terapia. “Isso também me ajudou muito, porque após o tratamento pode vir a ansiedade e a depressão”. Rafael já recebeu o diagnóstico de remissão completa da doença e faz acompanhamento anual.

Há vida na Cruz

“Em Cristo encontrava o sentido de tudo que estava vivendo e a graça de poder ofertar minhas dores por Ele, e para a salvação das almas. Isso fez tudo ser diferente, do início ao fim. Com Ele eu pude aprender e dizer: há muita vida na Cruz!” – Suellen Moro

Em abril deste ano, Suellen recebeu alta. “Agora é viver essa contínua redescoberta do meu ‘novo eu’”, comenta. A partir de agora, ela fará o acompanhamento por mais cinco anos até a remissão do câncer. A fé foi a base e o norte de Suellen desde o diagnóstico até os dias atuais.

A missionária reforça que “tudo passa”. No entanto, dentro dessa “visita de Deus”, há uma grande “oportunidade de santificação”. “Você está na terra para isso, ser santo, e a enfermidade é uma via de encontro com Cristo”, opina.

Vitória em Deus

Assim como ela, Rafael também aponta a fé como essencial no seu tratamento. O seminarista aproveita para acrescentar sobre o valor da Eucaristia. “Eu acredito piamente que a Eucaristia foi grande fonte de cura para mim, juntamente com o acompanhamento do médico, que também é algo que vem de Deus”.

Mesmo muitas vezes sem forças, Rafael conta que sempre pedia para ler uma passagem bíblica, fazer seu estudo bíblico. Quando não conseguia anotar ou ler, ele descreve que alguém lia para ele.

“Vi muitas pessoas com diagnósticos mais simples do que o meu, que se entregaram e faleceram. Eu vi, ao meu lado, essas pessoas falecendo, assim como também vi pessoas com diagnósticos muito piores do que o meu, mas que pela fé também venceram, juntamente comigo” – Rafael Vitto

“Nunca deixei de rezar e isso para mim com certeza foi o ponto principal, porque realmente a tentação vem, os pensamentos ruins vêm e a gente rebate esses pensamentos com Deus, com a força de Deus, com a graça de Deus, com a intercessão dos santos, da Virgem Maria, dos anjos. Não tem outro caminho, tem que ser um olhar sempre positivo, um olhar de superação”.

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