Entre folhas e raízes: descubra como é a comunicação secreta entre as plantas

Embora ocorra de modo diferente em comparação a outros seres, as plantas possuem os próprios meios de compartilhar informações vitais para sua existência, seja por meio de vibrações ou movimentos que vão dos frutos até as raízes. Veja como o processo funciona:

A comunicação entre as plantas é uma forma de identificar perigosos e situações que podem afetar outros vegetais

A comunicação entre as plantas é uma forma de identificar perigosos e situações que podem afetar outros vegetais – Foto: Getty Images/ND

Sinais químicos das plantas

As plantas produzem substâncias químicas chamadas de compostos voláteis, com funções além do cheiro. Esses sinais podem ser sentidos pelos seres humanos, atingir camadas abaixo do solo ou até mesmo criar comunicação com outras espécies.

“Quando uma planta é atacada por um inseto, por exemplo, ela é capaz de sinalizar por todo seu corpo que ele está sendo atacado. Da mesma forma, ela também é capaz de enviar sinais químicos para plantas vizinhas sobre a iminência do ataque, as deixando prontas também para protegerem-se em caso dos insetos tentem atacá-las também”, explica a pesquisadora Annelise Frazão.

Em contrapartida, existem os sinais químicos não muito amigáveis, como no caso das folhas de eucalipto. “Depositadas sob o solo, podem inibir o crescimento de outras espécies de plantas. Esse é o processo de comunicação que chamamos de alelopatia.”

Interações subterrâneas

A estrutura das plantas permite uma comunicação de forma canalizada, transmitindo informações dos frutos até as raízes, aplicando uma comunicação oculta sob a superfície.

Os fungos são exemplos de seres que, ao compartilhar dados, podem agir como aliados ou adversários — ao trocar pedaços de RNA das raízes, podem se expressar como parceiros ou desligar os genes defensivos das plantas.

A parceria das árvores com os fungos também pode ajudar na distribuição de recursos entre as plantas conectadas por eles. Os microrganismos igualmente recebem instruções por meio das raízes, podendo fortalecer as defesas dos vegetais.

Aspectos físicos

Espécies de plantas que possuem flores apresentam adaptações que evoluíram ao longo de milhares de anos, possibilitando que elas consigam atrair animais, como abelhas e borboletas.

Com cores vibrantes e padrões específicos, as pétalas podem chamar a atenção dos polinizadores ao indicar a presença de néctar. Formas especializadas das partes das flores também podem facilitar a transferência de pólen ao orientar os polinizadores até os órgãos reprodutivos.

“É assim, por exemplo, que as plantas que temos em casa nos comunicam quando precisam de um pouco mais de água ou nutrientes”, complementa Annelise.

Sons

Novos estudos mostram que as plantas podem também se comunicar por meio de sons imperceptíveis aos ouvidos humanos. Durante experimentos conduzidos no ano passado pelo programa da Faculdade George S. Wise de Ciências da Vida, na Universidade de Tel Aviv, em Israel, a professora Lilach Hadany registrou ruídos vindos de tomates e tabacos.

Dentro de caixas equipadas com microfones ultrassônicos, foi possível detectar sons numa frequência de 40 a 80 kHz, os quais, quando traduzidos para tons audíveis aos humanos, assemelhavam-se a um estouro de pipoca.

Nesse experimento, algumas das plantas estavam intocadas, enquanto outras tinham caules cortados ou estavam sem ser regadas por alguns dias. Naquelas com maior estresse, foi possível notar uma maior emissão de som, cerca de 30 a 50 por hora; as mais relaxadas registravam apenas uma por hora.

Estes ruídos podem ser percebidos por outros vegetais, insetos e mamíferos, que podem utilizar essas informações em seu benefício, pois ao identificar que uma determinada planta está sob estresse, entende que talvez ela não seja a escolha ideal para usar como alimento ou colocar ovos.

Os sons emitidos pelas plantas ainda carregam alguns mistérios. Como são produzidos e se são intencionais ainda são questões para os cientistas. Para a primeira pergunta, o que se acredita até o momento é que podem ser gerados pelo processo chamado cavitação, no qual uma bolha de ar na coluna de água da planta sofre alguma pressão e causa o estouro.

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