‘Nossas vidas estão em jogo’: paciente oncológica relata descaso em hospital de Joinville

“Como é que nós não vamos chorar, sendo que a gente não sabe se vamos acordar amanhã ou não”. Esse é o relato emocionante de Cleusa Schmitz, de 48 anos, que é vivido diariamente por diversos pacientes do Hospital Municipal São José, em Joinville, no Norte de Santa Catarina.

Pacientes oncológicos relatam descaso no Hospital Municipal São José, em Joinville

Pacientes oncológicos relatam descaso no Hospital Municipal São José, em Joinville – Foto: Câmara de Vereadores de Joinville/Reprodução/ND

Cleusa faz tratamento oncológico há 15 anos. O problema relatado por ela tem se tornado comum dentro de um hospital que é referência no Estado em diversos tratamentos.

O tema foi assunto de uma sessão especial da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Joinville. O encontro reuniu pacientes, médicos e também o poder público da cidade.

Em um discurso emocionante, Cleusa foi às lágrimas ao relatar a negligência que vive junto com outros pacientes da oncologia. Cleusa está sem receber medicamento quimioterápico e sofre com metástases, uma complicação do câncer.

Confira um trecho do relato de Cleusa:


Cleusa luta contra o câncer há 15 anos – Vídeo: Câmara de Vereadores de Joinville/Reprodução/ND

“Nossa luta não é de hoje, e não estamos aqui para lutar somente pela gente, mas sim por aquela pessoa que só tem o vale-transporte para chegar até o setor de oncologia e ouvir que ‘não tem a sua medicação hoje, pode voltar embora’. E a pessoa baixa a cabeça e volta, e a enfermeira sai chorando com um calhamaço de papel e dizendo ‘Cleu, vai atrás de alguma coisa porque metade desses pacientes não voltam. Eles desistem ou eles morrem no caminho, porque desanima’”

De acordo com o médico oncologista Luiz Fernando Cicogna, os tratamentos utilizados no Hospital São José são correspondentes a técnicas usadas nos anos 2000. “É o básico que a gente está pedindo. É o básico, não é coisa cara. É o fio de sutura, é o remédio para dor de cabeça na oncologia”, relatou.

Segundo o promotor do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), que atua na área da Saúde em Joinville, Felipe Schmidt, já foram solicitadas explicações sobre a falta de exames e a demora para realização de procedimentos.

Além disso, serão reunidas as reclamações de diversos pacientes que procuraram o MP para uma ação coletiva.

Prefeitura de Joinville se pronuncia sobre o assunto

Segundo a prefeitura, a diretoria do Hospital participou da reunião na Comissão de Saúde e apresentou um relatório com o andamento de cada um dos itens que estão em falta.

Atualmente, dez medicamentos que estão na lista de remédios padronizados, ou seja, aqueles que são fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), estão em processo de aquisição.

Desses dez, oito processos licitatórios foram considerados desertos ou fracassados, quando não há empresas interessadas em fornecer o medicamento.

Dessa lista, seis medicamentos serão adquiridos de forma emergencial, com dispensa de licitação. Para um medicamento, foi iniciado um novo processo licitatório.

Já o medicamento Destilbenol será despadronizado, pois não está mais sendo produzido pela indústria. Os medicamentos Capecitabina e Letrozol têm ata vigente para a compra, porém os fornecedores estão inadimplentes e já foram notificados formalmente pelo hospital.

Hospital tenta solucionar o problema

O Hospital Municipal São José atendeu, apenas no ano passado, mais de 22 mil pacientes em tratamento quimioterápico.

Para atender a demanda de pacientes que necessitam desse tipo de tratamento, o Hospital realizou mutirões de cirurgias oncológicas e adquiriu dois aceleradores lineares, que são equipamentos de alta tecnologia, similares aos usados em hospitais particulares.

Segundo a Prefeitura de Joinville, também foi ampliado o horário de atendimento do ambulatório no 1º dia útil do mês, quando abre a agenda para marcação de consultas. Paralelo a isso, houve reforço na equipe com a contratação de médicos oncologistas clínicos e cirúrgicos.

O São José também tem ampliado o credenciamento para aumento de consultas, e evitar problemas enfrentados com as licitações destinadas às compras dos medicamentos quimioterápicos, que têm histórico de licitações desertas ou fracassadas.

Com o credenciamento, o objetivo é que havendo qualquer interrupção no fornecimento de medicação, o paciente é encaminhado ao credenciado para a continuidade no tratamento.

De acordo com a prefeitura, sempre que há falta de algum medicamento, o médico avalia o paciente para verificar a possibilidade de substituição.

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