Inovação, Tecnologia e Capital Humano: a agenda de Santa Catarina para o Brasil. Por Marcelo Fett

Marcelo Fett escreve artigo em que aborda o desenvolvimento econômico de Santa Catarina, destacando a importância do investimento em inovação, tecnologia, e políticas públicas voltadas para o empreendedorismo. Ele exemplifica com casos de empresas catarinenses que alcançaram sucesso global e discute a estratégia do governo estadual.

Talvez você não saiba, mas em outubro de 2022, uma empresa de Itá foi vendida pelo montante de US$ 1,4 bilhão, cerca de R$ 6,4 bilhões. Foi uma das maiores operações de M&As (fusões e aquisições) envolvendo empresas de consumo dos últimos anos. A Gelnex é uma das líderes globais na fabricação de gelatina e peptídeos de colágenos à base de proteína suína e bovina com exportações para mais de 60 países. Para se ter uma ideia da dimensão do negócio, um ano antes da Cia Hering foi negociada pelo valor anunciado de R$ 5,2 bilhões.

Em Guaraciaba uma empresa de laticínios é uma das poucas empresas autorizadas a utilizar a denominação Grana Padano fora da Itália. A receita deste queijo foi inventada a mais de 1000 anos por monges da região da Padania. A catarinense Gran Mestri vende seu produto mais nobre envelhecido 36 meses por mais de R$ 1.000,00 o quilo. Para a produção de um quilo deste produto são necessários 15 litros de leite. Considerado o leite mais nutritivo e, portanto, mais valorizado do mercado, o leite A2A2 é vendido para o consumidor final por R$ 10,00 o litro. Ou seja, a Gran Mestri faz o litro do leite gerar 100 vezes mais riqueza para a cadeia leiteira de Santa Catarina do que a venda do leite mais nutritivo in natura. E agora está investindo no desenvolvimento e produção de proteínas a partir do soro do leite que poderá transformar o grana padano num subproduto de seu negócio.

Em Jaraguá do Sul, cidade conhecida mundialmente por ser a sede da WEG, maior indústria de motores elétricos do planeta e que neste mês superou a gigante AMBEV em valor de mercado, uma empresa quase centenária que atua na fabricação de aromas e essências para o setor alimentício tem crescido como uma startup. É o caso da Duas Rodas. Como ela tem feito isso? Investindo pesado em inovação, especialmente em Inteligência Artificial. Ao longo dos últimos anos a empresa colocou os algoritmos de IA para controlar toda a cadeia de supply chain de seus clientes e com isso entrega mais do que simplesmente aromas e sabores. Entrega resultado operacional na veia.

Histórias como essas despertam algumas reflexões: qual o ponto em comum entre esse cases? Como produzirmos cases como esses em série respeitadas as vocações regionais? Qual deve ser a agenda de políticas públicas para garantirmos um novo ciclo de desenvolvimento tão ou mais profícuo quanto o que vivemos nos últimos 100 anos?

Minha opinião em relação a primeira questão é que o investimento em inovação numa base empresarial já existente resultou em negócios com elevado nível tecnológico e muito valor agregado. Investimento pesado em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Aproximar o setor de tecnologia e inovação dos setores tradicionais para a criação de uma nova matriz econômica intensiva em conhecimento e valor econômico adicionado aumentando exponencialmente a geração de riqueza é o pilar central de uma estratégia de “neoindustrialização”.

Por sua vez, a replicação em série de cases como esses citados acima depende exclusivamente da melhoria do ambiente de negócios para o empreendedorismo inovador com a adoção de ações articuladas em ao menos sete áreas: (1) financiamento, (2) capital humano, (3) conectividade, (4) infraestrutura, (5) incentivos econômicos, (6) internacionalização e na (7) Rede Catarinense de Centros de Inovação (ponto de encontro da base econômica tradicional com o setor de tecnologia).

Desde o início de sua gestão, o governador Jorginho Mello vem colocando o setor produtivo no centro da sua estratégia de desenvolvimento. E nesse sentido, vem liderando um esforço coletivo para criar conexões que possam resultar em políticas públicas para a melhoria do ambiente de negócios e a superação dos fatores críticos de produção, fundamental para aumentar a produtividade e a competitividade da nossa economia.
Em seu governo, ele está implementando investimentos absolutamente estratégicos para que o empreendedor catarinense possa fazer o que sabe de melhor: gerar riqueza, emprego, renda e oportunidade.

Entre tantas iniciativas é importante destacar os programas “Estrada Boa” que está destinando R$ 2 bilhões para a recuperação das nossas rodovias estaduais; o “Plano de Investimento em Energia da CELESC” (R$ 4 bilhões de reais para a ampliação e melhoraria da qualidade da energia disponível); os programas “Universidade Gratuita” e “CATEC” (que chegarão em 2026 com investimentos da ordem de R$ 1,8 bilhões por ano na formação de capital humano); o PRONAMPE de Santa Catarina (maior programa de financiamento do empreendedorismo da nossa história); a revisão do PRODEC (visando incluir investimentos em P&D, inovação e formação de capital humano entre os itens incentiváveis); os mais R$ 32 milhões destinados para ativação, operação e reestruturação física e de governança da Rede de Centros de Inovação e, como não poderia deixar de mencionar, a própria criação da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A visão acerca da importância de priorizar o setor produtivo vem da crença do governador de que se somos o Estado mais desenvolvido do país, o Estado com a menor taxa de desemprego, o Estado mais seguro e o com o menor número de beneficiários do Bolsa Família, muito se deve ao espírito empreendedor, resiliente e inovador do empreendedor catarinense.

Santa Catarina é um estado que não possui grandes áreas agricultáveis, nem reservas minerais ou de petróleo, tem enormes desafios climáticos e geográficos, bem como é vítima de um federalismo que nos devolve apenas 10% dos impostos enviados para o Governo Federal.

Ainda assim, nos últimos 100 anos fomos capazes de garantir que a indústria de transformação tenha a maior participação do PIB estadual entre todas das unidades da federação. Desenvolvemos do zero um setor de tecnologia – fundamental para o aumento da competitividade – que hoje corresponde a 7,5% do PIB (mais que o dobro da participação do setor no PIB nacional).

Somos o berço de algumas das maiores agroindústrias brasileiras, garantimos uma condição sanitária única no país e uma rede de produtores integrados que é referência internacional. Além disso, ocupamos lugar de destaque no comércio exterior nacional com um fluxo total superior a U$ 41 bilhões. Somos o segundo Estado que mais importa e o nono maior exportador. Construímos uma estrutura de educação superior com as Universidade Comunitárias (ACAFE) ofertando ensino de ponta e gratuito em todo o território catarinense. Uma rede de Centros de Inovação e de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT´s) sem similaridade nacional. Além de uma Universidade Federal referência em pesquisa e desenvolvimento.

Por tudo isso, não há dúvidas de que a agenda de Santa Catarina precisa ser a agenda da agregação de valor, do capital humano e da inovação. A simbiose entre setores tradicionais e a nova economia, capitaneados por um estado empreendedor vai fazer com que Santa Catarina lidere esse movimento no país. Seja no agronegócio, na indústria, no varejo, no setor logístico ou no setor de tecnologia da informação e comunicação. Nenhuma outra unidade da federação reúne essas condições e apostar nessa agenda certamente será o passaporte para garantir um novo ciclo de desenvolvimento para nosso Estado.


Marcelo Fett é secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação de Santa Catarina.

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