Mais de 30% dos adolescentes de escolas municipais de Blumenau estão acima do peso, diz estudo

Pesquisadoras da Furb (Universidade Regional de Blumenau) realizaram um estudo inédito sobre excesso de peso em adolescentes entre 10 e 15 anos matriculados nas escolas municipais da cidade. A pesquisa revelou que 31,3% dos alunos apresentam sobrepeso, obesidade e obesidade grave.

Pesquisa com adolescentes: pessoa subindo na balança para verificar peso

Mais de 30% dos adolescentes de escolas municipais de Blumenau estão obesos, diz pesquisa – Foto: Freepik/Reprodução ND

O estudo foi realizado pela pesquisadora Angélica Frizon Krindges Ludwig, sob orientação da professora Luciane Coutinho de Azevedo, no âmbito do Mestrado em Saúde Coletiva da universidade.

No estudo, foram avaliados o estado nutricional de 675 adolescentes matriculados em escolas municipais de todas as macrorregiões de Blumenau.

Pesquisa revela índice de sobrepeso entre adolescentes das escolas municipais

Conforme o estudo, 18,2% estão em sobrepeso, 11,3% apresentam obesidade e 1,8% possuem obesidade grave.

A pesquisa revela ainda que 65,4% dos adolescentes que participaram da pesquisa encontram-se em eutrofia, ou seja, em estado de normalidade do ponto de vista nutricional, 3% apresentam magreza e 0,3% dos adolescentes estudados estão em situação de magreza extrema.

As pesquisadoras identificaram que as maiores prevalências de excesso de peso foram encontradas entre os adolescentes da faixa etária mais jovem estudada, entre 10 e 12 anos de idade, e entre aquelas do sexo feminino pós-púberes, ou seja, que já completaram o processo de maturação sexual característico da puberdade.

Fatores preditores foram identificados

De acordo com a pesquisa realizada na Universidade de Blumenau, foi possível ainda identificar dois fatores que tornam o indivíduo mais propenso a desenvolver o excesso de peso.

Nas meninas entre 8 e 10 anos, esse fator foi a ocorrência da primeira menstruação. Já entre os meninos, foi o de estudar no período da manhã.

A autora da pesquisa, Angélica Frizon Krindges Ludwig, explica que a relação entre o excesso de peso e a idade da primeira menstruação é um aspecto já presente na literatura especializada.

“Existem vários estudos já relacionando a idade da menarca e a prevalência do excesso de peso. O que nós encontramos nos achados na pesquisa da literatura é que ela pode estar relacionada com excesso de peso já anterior à idade da menarca, mas que ela também pode ter influência na adiposidade das mulheres na vida adulta”, comentou.

O estudo não chegou a avaliar a questão do sono dos adolescentes, mas as pesquisadoras acreditam que a associação entre apresentar excesso de peso e estudar no turno matutino pode estar relacionada à qualidade de sono dos estudantes.

A orientadora da pesquisa e titular do Mestrado em Saúde Coletiva da Furb, Luciane Coutinho de Azevedo, explicou que a liberação de hormônios no corpo humano é regulada pelo sistema circadiano, influenciado pela presença ou ausência de luz solar.

“Eu tenho aumento de alguns hormônios no período matutino e diminuição no período noturno, aumento de alguns hormônios no período noturno e diminuição no período matutino. Quando você desajusta o seu horário de sono, isso em longo prazo favorece o aparecimento de uma série de doenças, entre elas a obesidade”, pontuou.

Adolescente medindo tamanho da barriga com fita métrica

A pesquisa de mestrado da Furb identificou altos índices de excesso de peso entre os adolescentes matriculados nas escolas municipais da cidade – Foto: Pixabay/Divulgação/ND

Pesquisa inédita em Blumenau

Os resultados da pesquisa inédita realizada em Blumenau foram divulgados em maio, em uma banca pública de defesa de dissertação, na Furb.

Este foi o primeiro estudo populacional realizado com rigor científico para avaliar essa população específica no município.

De acordo com Ludwig, os estudos de base populacional com adolescentes são normalmente realizados em capitais ou cidades de grande porte, além de não serem conduzidos com frequência.

Ainda conforme a autora da pesquisa, os estudos anteriores relacionados ao tema foram realizados antes da pandemia da Covid-19, a qual alterou as condições de vida da população, sendo necessário avaliar as condições atuais de saúde dos adolescentes.

Segundo as pesquisadoras, a porcentagem (31,3%) de adolescentes com excesso de peso avaliados em Blumenau é maior do que o descrito nos estudos de base nacional e estudos populacionais regionais publicados em 2014 e 2015.

Contudo, a pesquisadora Ludwig  ressaltou que a Pesquisa Alimentar Brasileira, publicada em 2018, revelou um índice de 32,3% de excesso de peso entre os adolescentes, a qual é superior ao percentual identificado entre os adolescentes da rede municipal de Blumenau.

As pesquisadoras ainda pontuam que esse tipo de estudo costuma apresentar variações regionais.

Pessoa em cima da balança com fita métrica logo a frente

Pesquisa identificou fatores preditores para excesso de peso em adolescentes – Foto: Freepik/ND – Foto: Freepik/ND

A idade escolhida para a pesquisa foi baseada na necessidade de identificar  de forma precoce os casos de excesso de peso, a fim de viabilizar intervenções antes que o quadro se agrave ou desenvolva para doenças crônicas associadas.

Conforme a orientadora da pesquisa, as condições atuais de saúde dos adolescentes não apenas impactam a vida adulta desses indivíduos, mas também as condições de saúde das gerações futuras.

A pesquisa é um dos desdobramentos do trabalho realizado pelo Geccia (Grupo de Estudos em Condições Crônicas na Infância e Adolescência), o qual atual desde 2000 no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau, por meio da realização de estudos das condições de vida e saúde de pessoas com doenças crônicas, com foco na infância e adolescência.

Agora, com os resultados em mãos, as pesquisadoras pretendem voltar às escolas para compartilhar as informações coletadas com a comunidade escolar, além de produzir material educativo sobre alimentação, exercício físico e qualidade do sono a ser distribuído para os adolescentes das escolas municipais da cidade.

Como a pesquisa foi realizada em Blumenau

A pesquisa consiste em em estudo populacional de base escolar com delineamento transversal, comumente usado na área da saúde para identificar a prevalência de uma condição em uma determinada população e identificar associação entre variáveis.

A parceria entre o Geccia e aa Secretaria Municipal de Educação de Blumenau permitiu que a pesquisadora fosse inserida no ambiente escolar para coletar os dados necessários.

Conforme a pesquisadora, a escolha das escolas foi feita de forma aleatória, para contemplar todas as macrorregiões da cidade. A salas de aula em que os estudantes seriam convidados a participar também foram escolhidas aleatoriamente.

Já os dados foram coletados a partir de uma amostra representativa composta por 675 adolescentes, que tiveram peso e estatura aferidos, além de responderem a questionários para o fornecimento de informações sobre variáveis biológicas e sociodemográficas, como sexo, idade, turno escolar e nível de maturação sexual, além da idade da primeira menstruação, no caso das meninas.

Tanto os adolescentes quanto seus pais ou responsáveis assinaram termos de consentimento para a realização da pesquisa. O estudo foi realizado apenas com adolescentes matriculados na rede municipal de ensino de Blumenau.

 

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