Professora da UFSC escova os dentes durante discurso de formatura

Paraninfa do curso de Cinema da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a professora Aglair Bernardo decidiu fazer um discurso diferente na cerimônia de colação de grau de seus alunos. “Eu e minha escova”, disse, antes de começar a escovar os dentes, diante de dezenas de pessoas na plateia do Centro de Eventos da universidade, em Florianópolis, na última quinta-feira (25).

Em performance artística, a professora Aglair Bernardo escovou os dentes durante cerimônia na UFSC – Foto: Maurício Garcias

“Eu tenho que fazer isso tudo muito rápido, eu tenho uma formatura para ir”, dizia. Entre uma frase e outra, a professora fazia pausas e voltava à escovação, no púlpito ao lado da mesa ocupada por outros professores que participavam da cerimônia de colação de grau.

Com a boca aberta e em plena higienização, a performance da professora chamou atenção de alunos, familiares e amigos que a assistiam, ao acompanhar um discurso que parecia ser, propositalmente, provocativo e, ao mesmo tempo, distraído.

Aglair conta que não é a primeira vez que ressignifica um objeto para usar durante um discurso de formatura. “Eu acho que a arte tem um pouco disso, de significar objetos banais e transformar em outra coisa. Podia estar ali tricotando, fritando um ovo. A arte tem disso: provocar estranhamento”, argumenta.

Professores acompanham discurso de Aglair na UFSC - Maurício Garcias

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Professores acompanham discurso de Aglair na UFSC – Maurício Garcias

Paraninfa da turma de cinema, Aglair destaca o estranhamento provocado pela arte - Maurício Garcias

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Paraninfa da turma de cinema, Aglair destaca o estranhamento provocado pela arte – Maurício Garcias

Professora garante que a cena foi toda improvisada - Maurício Garcias

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Professora garante que a cena foi toda improvisada – Maurício Garcias

A professora garante que a cena foi toda improvisada e sem combinar com os formandos. “A gente, quando escova de dentes em casa, aproveita e pensa em um monte de coisa? Foi o que eu fiz. ‘O que eu diria pra essa turma? Não posso esquecer de falar isso. Não posso esquecer de falar aquilo’”.

Ao final, depois de longa pausa, Aglair encerrou o discurso com uma pergunta retórica: “será que me esqueci de alguma coisa? Façam arte, não façam guerra”.

Escovação teria sido ‘escape lúdico’

Pouco antes da paraninfa Aglair Bernardo subir ao púlpito, a oradora da turma de formandos do curso de Cinema, Victória dos Santos, fez um discurso contundente sobre recentes relações estremecidas entre alunos e professores dentro do departamento.

Sem querer entrar em detalhes dos episódios aos quais se referiu, Victória considera que a performance da professora soou como uma forma lúdica de “não falar de coisas sérias do jeito que tem que ser”.

Performance da professora chamou atenção de formandos, familiares e amigos que assistiam a colação de grau – Foto: Maurício Garcias

“Eles têm seus próprios problemas, suas próprias frustrações, e deixam que isso acabe respingando nos alunos de uma forma meio inconsequente. E, para não falar desses assuntos, a gente acaba generalizando para um ‘faça arte, não faça guerra’, porque falar das coisas que vão contra nós é fazer alguém se sentir desconfortável”, critica a recém-formada bacharela em cinema.

Apesar do desconforto com o discurso da professora, Victoria diz entender ‘a subjetividade da artista’ e alega não ter sido pega desprevenida. “Não me surpreendeu porque ela já foi paraninfa de outras turmas. A gente sabia que era uma consequência de ter convidado ela para esse momento.”

Afinal, pode escovar os dentes na colação de grau?

Questionada sobre a performance incomum da professora durante a cerimônia de colação de grau, a reitoria da UFSC não se pronunciou até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.

Cerimônia de colação de grau foi realizada no Centro de Eventos da UFSC – Foto: UFSC/Divulgação

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