EDITORIAL: Velocidade defasada

Na última semana, o jornal O Município informou que a Coordenadoria Regional de Infraestrutura no Vale do Itajaí, órgão do governo do estado, manifestou-se contrária ao aumento do limite de velocidade da rodovia Antônio Heil (SC-486).

Estava em análise a possibilidade de passar o limite para transitar na rodovia, que corta Itajaí e Brusque, de 80 km/h para 100 km/h. Para a tomada de decisão, o órgão considerou a falta de vias marginais e a presença de comércios, indústrias e residências ao longo da rodovia.

Trata-se de mais uma ação, que se junta a outras tentativas de aumento da velocidade da rodovia nos últimos anos. Em 2023, os Sindicatos do Comércio Varejista (Sindilojas) de Brusque e de Itajaí solicitaram ao secretário de Infraestrutura de SC, Jerry Comper, o aumento. A solicitação era de que o limite de velocidade para carros, camionetas e motocicletas passe para 110 km/h, e para os demais veículos, 90 km/h.

Na ocasião, a partir da demanda dos sindicatos, a 3ª Companhia de Polícia Militar Rodoviária (PMRv) de Santa Catarina se manifestou contrária ao aumento do limite de velocidade. A PMRv alegou que limites de velocidade são estabelecidos seguindo critérios técnicos.

Uma das justificativas para o não aumento é a quantidade de mortes em rodovias. Contudo, na justificativa dada no último ano, a PMRv citou o número de 34 mil óbitos registrados no Brasil em 2022. Portanto, não foi apontado o número de óbitos específicos na Antônio Heil, mas sim um número defasado e que não diz muito sobre nossa rodovia específica.

Apesar de ser uma conversa técnica, há uma falha em não apresentar pontos mais precisos nas decisões. Há, sim, uma preocupação com a segurança, mas há uma resistência em considerar as diversas solicitações locais. Nesta última, se poderia aumentar o limite em locais sem comércio, pois não há indústrias e residências por toda a extensão da rodovia.

Ao desconsiderar esses fatores, as argumentações técnicas para não aumentar a velocidade soam frágeis. Lembrando que a rodovia Antônio Heil é uma obra duplicada, dentro de padrões internacionais e que atendem necessidades de segurança.

Concomitantemente, a aplicação de multas na rodovia Antônio Heil é absurda. De 2020 a 2022, o trecho entre Brusque e Itajaí da SC-486 gerou 33.732 autuações por excesso de velocidade, de acordo com dados da PMRv. Além disso, o assunto ganhou destaque em 2018, quando, em sete meses, cerca de 10 mil multas foram aplicadas na rodovia.

Em relação à fiscalização, os motoristas ouvidos pela reportagem criticam que a rodovia está duplicada, mas o limite não foi atualizado à nova realidade. Assim, a mensagem que fica é que a indústria da multa parece ser mais interessante do que a fluidez do trânsito.

Após todos esses anos, a reivindicação para o aumento de velocidade é justa, é unânime, é necessária para que a duplicação da Antônio Heil cumpra seu principal objetivo: fluidez do trânsito. Mas parece que o principal obstáculo não é a velocidade e sim a burocracia que pode lucrar muito mais com a indústria da multa do tentar uma solução que atenda as necessidades do trânsito e da comunidade.

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