Resistência e luta: 3 fatos importantes sobre a Revolta dos Malês

Em um período da história brasileira marcado pela opressão do sistema escravista, em meados do século 19, iniciava-se um episódio de resistência muitas vezes esquecido quando se estuda a época colonial do Brasil: a Revolta dos Malês.

Pintura representando a Bahia em 1835, retratando a Revolta dos Malês

A Revolta dos Malês aconteceu no século 19, na Bahia – Foto: Arquivo Nacional

Na Bahia, em 1835, um grupo de escravizados africanos muçulmanos liderou um movimento em busca da autonomia cultural e religiosa. A manifestação ganhou esse nome porque muito dos participantes eram de originários da etnia iorubá, e a palavra “imalê”, na língua nativa do povo, significa muçulmano.

Embora não tenha sido associado diretamente ao movimento abolicionista, o evento ficou caracterizado pela busca da independência.

“A revolta foi uma tentativa de conquistar a liberdade para os escravizados muçulmanos e para outros africanos que se juntaram ao movimento. Os malês também protestavam contra as condições sociais e econômicas adversas que enfrentavam no Brasil. Eles buscavam melhores condições de vida e igualdade”, explica o professor de História, Felipe Salvador Weissheimer, da Escola Básica Municipal (EBM) Maria Conceição Nunes.

Outro ponto importante para os líderes era a preservação da identidade cultural e religiosa do povo, promovendo as tradições africanas e muçulmanas e opondo-se às práticas europeias.

O estudo era outro ponto que os diferenciava. Com a habilidade da leitura, escrita e de fazer contas, muitos eram escravos de ganho, trabalhando em estabelecimentos na área urbana de Salvador.

As 3 ações mais importantes da Revolta dos Malês

Mobilização secreta

Devido aos seus cargos, os líderes possuíam maior mobilidade pela cidade, facilitando a organização. A distribuição de panfletos escritos em árabe também foi parte da estratégia para divulgar as ações sem que os colonizadores descobrissem. Para debater os planos, eram realizadas reuniões secretas.

Ataque a cidade

O primeiro ataque estava planejado para 25 de janeiro de 1835, data em que os muçulmanos celebram a festa Lailat al-Qadr, a Noite da Glória, referente ao dia em que o Corão foi revelado a Maomé. O objetivo era atacar a cidade.

No entanto, durante a madrugada, o plano foi delatado para a polícia pela ex-escrava Guilhermina de Souza e seu marido, Liberte Fortunato. Posteriormente, os agentes invadiram a reunião dos líderes, ocorrida no porão da casa de um dos escravizados, dando início a uma batalha onde hoje está localizada a Praça Castro Alves.

Repressão e punição

Com 70 mortes na batalha e outros escravizados tentando fugir pelo mar, a revolta resultou na derrota dos rebeldes. Além disso, as autoridades brasileiras capturaram os líderes e participantes para julgá-los e puni-los. Com o objetivo de desencorajar futuras mobilizações, a repreensão incluiu açoitamentos, deportação e até a condenação à morte.

Uma das principais consequências do movimento foi o aumento do controle pelas autoridades, com a adoção de medidas mais rígidas de vigilância e restrições a práticas africanas. Apesar dos malês não terem atingido seus objetivos, a revolta se destaca como um ato de resistência.

“Seu legado perdura como um episódio que ressalta a diversidade cultural e a luta por liberdade, contribuindo para a compreensão da complexidade das experiências dos africanos escravizados na história brasileira”, declara Felipe.

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