Renata e Lilly Sarti: mulheres de sucesso há 18 anos

Foto: Luciana Prezia

Luciana Prezia

Renata e Lilly Sarti, à frente da marca que completa 18 anos em 2024

A marca Lilly Sarti foi criada em 2006 pelas irmãs Renata e Lilly Sarti. Tudo começou com a vontade de Lilly de criar as próprias roupas na costureira. Dali aos pedidos das amigas, foi um pulo. E de um desfile informal às prateleiras de uma das mais importantes multimarcas da época, a Daslu, foi outro. 

A marca completa 18 anos fiel  à sua essência, feita de peças com combinações originais de cores, e uma seleção de tecidos texturizados que dão camadas extras de informação ao look, assim como fazem as franjas, os recortes, babados e laçarotes, ou detalhes de botões e assimetrias, que vão parar em peças de desenho contemporâneo – daqueles que a gente até volta para olhar novamente. Esse estilo reflete, não à toa, a personalidade de Lilly e Renata: mulheres interessantes, que se expressam e circulam bem, que traçam o próprio caminho com força, graça e um jeito que é muito próprio. 

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“Estamos prontas para mais 18 anos, pelo menos”, afirma Lilly, sobre o novo capítulo da marca. Um dos primeiros passos será voltar ao Rio de Janeiro, com uma loja própria que deve ficar pronta já no fim deste semestre – em São Paulo, são três pontos de venda; um deles, o dos Jardins, próprio. A distribuição pelo Brasil se dá via 53 multimarcas. Na empresa, são cerca de 40 funcionários. Como estruturar um negócio sério com tão pouca experiência?

Acompanhe a conversa com as duas empresárias a seguir. 

Tenho uma história com vocês desde o início, né?

Renata: A gente tinha acabado de criar o que seria uma marca, com um desfile na casa do Jorge Elias. E só virou uma marca porque você viu as peças e nos chamou para fazer um espaço na Daslu Village, que tinha uma seleção de etiquetas nacionais. Nosso desempenho antes da liquidação foi muito bom e vimos que tínhamos uma marca com potencial nas mãos. Algumas pessoas até achavam que era internacional.

Lilly: E logo depois do desfile você usou uma roupa nossa na famosa “festa do branco”, também do Jorge Elias. Através de você, entendemos a potência que tínhamos em mãos. Não é à toa que dizemos que é a nossa madrinha.

Foi tudo meio no susto.

Renata: Foi tudo muito rápido e sem nenhuma pretensão. Em dois anos a gente tinha 40 pontos de venda e duas lojas próprias. A Daslu foi muito legal conosco. Queríamos fazer um desfile na capela, no estacionamento, e deixavam.

Mas o que pode parecer um sonho para tantos empreendedores, é também um desafio. 

Lilly: Todo empresário corre risco no momento em que pisa no escritório. Há o capital de giro para produção, a roupa que pode não vender. O que acho legal é ver que tivemos uma oportunidade e soubemos usá-la. Éramos muito novas, mas tínhamos vontade de realizar os sonhos. Abrimos mão de muitos fins de semana e passamos noites em branco pensando em como resolver algo. 

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Como vocês se prepararam para empreender?

Lilly: Do meu ponto de vista, empreender depende de perfil, não de estudar. O empreendedor é um helicóptero, que pousa onde quer e é capaz de sobrevoar para enxergar o todo do alto. Ele não é carro, e não é avião. É o que enxerga a oportunidade mascarada de dificuldade. A gente se preparou ao longo do tempo, e contratou profissionais. Mas há profissionais que não têm cabeça de empreendedor, que fazem tudo by the book. Empreender é ter feeling, é enxergar o que ninguém está vendo. Ouvi no mês passado um empresário gigante do ramo de aluguel de carros dizendo isso: “sempre ouvi conselhos, mas não era isso o que me fazia tomar decisões”. A Renata fez Administração de Empresas e eu fiz Relações Internacionais, o que me deu uma base de economia, mas a parte administrativa, de ter uma confecção, aprendemos fazendo, no chão de fábrica.

Como irmãs, o estilo de gestão de vocês é parecido?

Lilly: A gente é muito prática. Sou diretora de estilo e criação. Ao mesmo tempo, sou burocrática e estratégica; são dois pontos distantes, mas complementares. O que faz com que a gente esteja aqui hoje é o fato de cuidarmos da empresa como se fôssemos mãe. Isso significa ter regras claras e monitoramento muito presente. A gente já entendeu que, se você tem isso só em uma cartilha, e não na prática, tudo vai passando pelos vãos dos dedos, seja a questão de timing, seja de dinheiro, seja de troca de informações. Nossa gestão é corpo a corpo, muito presente. Somos complementares e muitas vezes discordamos, mas vejo que isso é positivo, faz o negócio ir pra frente. 

Renata: Em linhas gerais, a gestão é bem parecida, com pontos de discordância raros. O que faz com que a gente tenha um ótimo relacionamento. 

É nítido que vocês têm as rédeas nas mãos.

Lilly: Nunca vi uma empresa ter sucesso sem isso.

Renata: Eu também não. Quando vamos a um restaurante, por exemplo, estamos avaliando. “Olha esse serviço, como está ruim. Como será que está o nosso?”.

Lilly: Ou, “olha que espetáculo isso aqui, vamos levar para o nosso comitê de comercial e falar sobre”. Desenvolvemos um ponto de vista muito crítico com o nosso e com os outros negócios, pois o olho fica muito apurado. É como prova de roupa. Antigamente, 15 anos atrás, eu não olhava a roupa procurando defeito; hoje, a primeira coisa que a gente faz, no departamento de produto, é mapear defeitos. A gente está sempre ligada, e isso não é um sufoco. Não pensamos em quando virá a aposentadoria, por exemplo. Mas pensamos em diminuir a carga horária. 

Renata: Trabalhamos, no mínimo, 10 horas por dia, em tempos normais. Pré-desfile ou pré-showroom, mais. 

Lilly: Via de regra, entramos às 8h30 / 9h e nunca saímos antes das 19h. No fim de semana, ir às lojas é um outro prazer.

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Vocês enxergam a moda brasileira em que momento?

Lilly: Acho que o Brasil é um país de tanta oportunidade! Não fosse, não haveria esse volume de marcas internacionais com mais de cinco lojas. No nosso caso, especificamente, são poucas as marcas que são um negócio de moda com identidade, com essência, que não sejam marcas pasteurizadas, ou seja, com uma equipe de estilo que vai copiar a moda internacional.

O desfile ainda é um modelo importante para mostrar a coleção e a marca? 

Lilly: Pra gente, é superimportante. Testamos o see now buy now, mas bastou um hiato de ano, ou seja, dois desfiles, pra gente entender que de fato faz diferença, que as pessoas esperam aquilo. A marca vai ser copiada mesmo, e isso é um sinal de sucesso, e digo isso sem pretensão. Você fica meses fazendo um produto e estruturando e melhorando a parte estratégica, para então mostrar isso tudo. Dá um boost de energia não só para quem assiste, mas para toda a empresa e toda a cadeia de fornecimento e atacado. 

Vocês conhecem muito bem a mulher Lilly Sarti?

Lilly: Essa mulher é plural, às vezes ela não sabe o que quer usar, e acho que a gente faz um trabalho de prever o desejo das mulheres, mas jamais desenvolveremos um produto que não faz parte da essência da marca. O que nos inspira são mulheres e comportamento. Muitas vezes, isso é subjetivo. Você precisa estar em sintonia para sentir o movimento do mundo. É aí que entra a intuição. A marca se tornou maior do que as nossas personas, virou desejo. É muito legal ver esse descolamento. Temos um time de produto só de mulheres; 90% da empresa é de mulheres. Raramente você vai ver uma parte de baixo sem bolso, por exemplo. Ou um macacão com botões minúsculos, difícil de vestir e tirar. 

Têm planos imediatos?

Lilly: Temos um projeto para uma linda loja no Rio de Janeiro, no térreo do Village Mall, o andar dos importados. A gente teve loja num shopping no Rio cuja operação foi vendida e, para nós, deixou de ser atrativo do ponto de vista operacional. Quando se tem loja em shopping, você precisa avaliar a parte técnica e também pontos como a manutenção. Não pode ter escada rolante quebrada sempre, por exemplo. Tivemos problemas com a gestão nova e recuamos. Isso também é importante; saber quando é hora de tomar fôlego para dar um novo mergulho.

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Queria que vocês falassem um pouco da sua mãe,  Sofia Sarti, e de como veio a ideia de dedicar a coleção dos 18 anos a ela.

Lilly: Se lá atrás, quando a gente decidiu fazer uma história, totalmente sem experiência, mas com um grande sonho; se não houvesse a nossa mãe para endossar as nossas loucuras, não estaríamos conversando aqui hoje. Ela é a nossa maior inspiração. Dizia coisas como “quem tem boca vai à Roma”, ou “o não já existe, por que você não persegue uma outra resposta?”. Isso nos deu base para colocar qualquer sonho em prática. Ela sempre foi uma mulher muito disruptiva, que se casou muito cedo, se arriscou. Não fizemos um tema “Sofia”, mas em algum momento – aí vem a coisa da essência –, eu falei pra Renata, “essa coleção, o todo, o que a marca é hoje, é Sofia”. A gente usou tudo de bom da nossa mãe a nosso favor.

Renata: A nossa mãe é uma força, mesmo. Quem não a conhece e conversa com ela por 1 minuto, fala “uau”. Ela é uma potência, sem ter a pretensão de ser, o que é o mais legal de tudo. E tem uma luz contagiante.

Lilly: Eu me lembro, de pequena, das roupas dela, que eram do Frankie & Amaury, Maria Bonita, Gloria Coelho, que na época era G; ela vestia Ralph Lauren, Versace. Eu olhava admirada, mas só percebi mais velha o quanto ela é um absurdo! 

Com o desfile da temporada do verão 2025, que celebra os 18 anos de marca, vocês encerram e começam um novo capítulo. Como avaliam esse percurso? 

Lilly: Aprendemos muita coisa, construímos os pilares principais para fazer a marca e entender tudo o que funcionou. Porque ao longo desses 18 anos, a gente viu muita gente prometer muita coisa; dizer o que funcionava ou não. Fizemos uma autoavaliação e vimos que, em muitos casos, nós é que estávamos certas. Que entendemos disso e, quando não sabemos daquilo, podemos contratar consultorias pontuais, como para questões de números, por exemplo. Sempre no sentido de dar base para a tomada de decisões estratégicas, que sempre serão nossas. Conseguimos olhar erros e acertos. Estamos prontas para um segundo capítulo muito bonito. Que isso sirva de inspiração para meninas e mulheres que, independente da idade, tenham vontade de fazer. Que deixem o medo de lado e olhem a casa a ser construída, e não os tijolos que faltam para construí-la. Se você sabe que tem potencial, insista.

Veja fotos da temporada verão 2025 na galeria abaixo:

Ze Takahashi
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Ze Takahashi
Ze Takahashi
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Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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