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Em junho de 2023, o empresário do setor imobiliário Alexandre Rizk inaugurou o The Lexi, na West Sahara Avenue, próximo à Las Vegas Strip, como o primeiro hotel da cidade americana amigável ao consumo de cannabis. Rizk, de 46 anos, acreditava ter uma “ideia genial, de milhões de dólares”.
Fumar maconha é permitido apenas no quarto andar do The Lexi, onde todos os apartamentos possuem filtros de ar e todas as suítes são numeradas como 420. O The Lexi foi o segundo hotel amigável à cannabis que Rizk abriu, após o Clarendon em Phoenix, no Arizona, e ele tinha planos ambiciosos de expandir seu conceito de hotel para consumidores de maconha com a marca Elevations por todo o Oeste dos Estados Unidos, de Califórnia a Oregon, tornando-se o “Kimpton da cannabis”.
Mas Rizk logo percebeu que ser amigável à cannabis não era exatamente uma vantagem em Las Vegas: embora o consumo de cannabis seja oficialmente proibido nos cassinos e na Strip, a fiscalização é muito branda. Rizk afirma que muitos estabelecimentos conhecidos fazem vista grossa para clientes que fumam ou utilizam vaporizadores de maconha.
Cinco meses após inaugurar o The Lexi, Rizk percebeu que havia cometido um erro, já que a ocupação não passava de 30% e ele começou a perder propostas para sediar casamentos e outros eventos para concorrentes que não atendem consumidores de cannabis. Rizk vendeu o Clarendon e está em processo de rebranding do The Lexi. Depois que parou de divulgar o hotel como amigável à cannabis, a ocupação subiu 15%.
“Infelizmente, este empreendimento pode custar toda a minha carreira”, diz Rizk, que investiu pessoalmente US$ 5 milhões (R$ 27,7 milhões na cotação atual) no hotel para adultos de 64 quartos, adquirido junto a outros investidores por US$ 12 milhões em 2022 (R$ 66,5 milhões). “Isso traz um estigma para o imóvel, como se fosse um ponto de encontro de maconheiros, e a maioria das pessoas não quer ser associada a isso.”
Apesar do alerta vindo da experiência de Rizk, Las Vegas continua lidando com o dilema de como integrar cannabis e cassinos, especialmente agora, neste ano, em que a receita dos jogos caiu. O volume de visitantes em Las Vegas também caiu 6,5% entre janeiro e abril de 2025, segundo a Las Vegas Convention and Visitors Authority. Até mesmo a satisfação dos visitantes diminuiu. Em 2024, 87% dos visitantes disseram estar “muito satisfeitos” com sua estadia, queda em relação aos 94% registrados em 2019, segundo o Las Vegas Visitor Profile Study 2024.
Enquanto isso, a receita dos jogos nos cassinos da Strip caiu 3,3% nos últimos nove meses, em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Nevada Gaming Control Board. Em 2024, os cassinos da Las Vegas Strip arrecadaram US$ 8,8 bilhões (R$ 48,8 bilhões) apenas com jogos, uma queda de 1% em relação aos US$ 8,9 bilhões de 2023. Embora a receita total, incluindo jogos, hotéis, alimentação, bebidas e atrações, tenha atingido um recorde de US$ 22 bilhões (R$ 122 bilhões), alta de 6,8% em relação a 2023, os lucros despencaram 40% em comparação com o ano anterior.
Mas a cannabis não é a resposta.
A cidade, que recebe 42 milhões de turistas por ano em busca de vícios legais, já sedia vários grandes eventos relacionados à cannabis, como o MJBizCon, o Women in Cannabis Expo e o Nevada Cannabis Awards Music Festival.
O estado legalizou a maconha medicinal em 2001 e a recreativa em 2020. Mas, por causa das leis federais e das regras do setor de jogos de Nevada, os cassinos não podem investir nem participar do mercado regulado de cannabis sem correr o risco de perder a licença de operação de jogos.
Além disso, os legisladores de Nevada criaram regras que proíbem a instalação de dispensários a menos de 1.500 pés (cerca de 457 metros) de qualquer cassino licenciado e também impedem a entrega de pedidos legais na Strip.
Acima de tudo, os operadores de jogos têm muito a perder ao permitir o consumo de cannabis. Em 2024, a Wynn Resorts gerou US$ 2,6 bilhões (R$ 14,4 bilhões) em receita com suas duas propriedades em Vegas; a Caesars Entertainment, com oito propriedades, teve US$ 4,3 bilhões (R$ 23,8 bilhões0; e a MGM Resorts, com outras oito, arrecadou US$ 8,8 bilhões (R$ 48,8 bilhões). Juntas, essas três empresas faturaram quase metade dos US$ 32 bilhões (R$ 177,4 bilhões) de vendas da indústria de cannabis nos Estados Unidos em 2024. Todos os cassinos da Strip juntos geraram US$ 22 bilhões (R$ 121,9 bilhões) no ano passado.
Em outras palavras, fazer negócios com a indústria da cannabis seria uma sentença de morte para os operadores de cassinos. Soo Kim, presidente da Bally’s Corporation — que está construindo o novo estádio de Las Vegas no antigo terreno do Tropicana, recentemente demolido, para ser a futura casa do time de beisebol Athletics, que se mudará de Oakland — afirma que incorporar a cannabis a qualquer cassino está fora de questão.
“O setor de jogos faz parte do sistema bancário federal, então o problema com a cannabis é que [os operadores de jogos] não podem se envolver, porque ela é proibida em nível federal”, afirma Kim.
E mesmo que a lei federal mude e os cassinos possam abrir legalmente lounges de consumo de cannabis dentro de seus empreendimentos, Kim diz que ainda assim não vê valor na ideia. “Não tenho certeza se isso traria um grande atrativo para os negócios”, diz Kim. “Não vejo isso agora.”
Seth Schorr, CEO da Fifth Street Gaming, que administra o Downtown Grand Hotel and Casino em Las Vegas, não compartilha do ceticismo de Kim. Schorr afirma que os cassinos deveriam encontrar uma forma de capitalizar sobre a cannabis, mas admite que ela não é uma “bala de prata”. Ainda assim, Schorr acredita que “é preciso ter todas as ferramentas na caixa, mesmo que isso ajude apenas em alguns pontos. Em Vegas, é importante pensar nos próximos dez anos, e a cannabis se tornou uma forma aceitável de entretenimento.”
Apesar dos problemas do The Lexi, uma parte considerável dos jogadores que participaram de uma pesquisa publicada em maio pelo Cannabis Policy Institute da Universidade de Nevada, em Las Vegas, afirmou que gostaria de consumir cannabis e apostar ao mesmo tempo.
A pesquisa apontou que cerca de 40% dos entrevistados apostariam em um cassino que permitisse o consumo de cannabis, enquanto 29% não gostariam e 30% disseram que uma política favorável à cannabis não faria diferença. Cinquenta e nove por cento disseram que seus hábitos de jogo não mudariam se pudessem apostar e consumir cannabis, enquanto 24% afirmaram que apostariam mais e 19% que apostariam menos. E 70% disseram ser favoráveis a que hotéis e cassinos tenham uma área designada para consumo de cannabis.
Riana Durrett, advogada especializada em jogos e diretora do Cannabis Policy Institute da Universidade de Las Vegas, que ajudou a conduzir a pesquisa, diz que entende por que os dois “pecados” (cannabis e jogos) são mantidos separados, para evitar que os operadores de cassinos entrem em conflito com a lei federal.
No entanto, ela argumenta que as regras rígidas de Nevada vão além de proteger a indústria de jogos multibilionária de violar a Lei de Substâncias Controladas. Durrett afirma que os reguladores e operadores que não estão dispostos sequer a discutir como as duas indústrias poderiam ser mais simbióticas estão ignorando o fato de que, hoje, mais pessoas consomem cannabis diariamente do que álcool nos Estados Unidos.
“Somos muito bons em regular vícios: você pode jogar, pode visitar uma profissional do sexo, pode consumir cannabis, mas temos essas barreiras artificiais, excessivamente amplas, entre cannabis e jogos, que nem sequer são eficazes”, ela diz, explicando que proibir totalmente a maconha legal dá uma vantagem ao mercado ilegal dentro dos cassinos. “Precisamos ter uma discussão realista e adotar uma abordagem prática sobre como licenciar atividades que já estão acontecendo e recuperar a receita que hoje está sendo perdida para o mercado ilegal.”
Brendan Bussmann, sócio-gerente da B Global, uma consultoria focada nos setores de jogos e hospitalidade, afirma que a maior habilidade de Las Vegas é sua capacidade de oferecer entretenimento para as massas, mas que a fama de “vale-tudo” da Cidade do Pecado é, na verdade, como um show de David Copperfield — em grande parte, uma ilusão.
“Sim, você pode jogar aqui e se divertir de várias maneiras”, diz Bussmann, “mas não estamos dizendo que não há regras.” Bussmann compara a discussão sobre cannabis à prostituição, que muitos acreditam, erroneamente, ser legal em Las Vegas. Na verdade, ela é ilegal no Condado de Clark, onde fica Las Vegas, mas permitida em cerca de 20 bordéis licenciados distribuídos em seis dos 17 condados de Nevada.
“Você pode facilmente ‘cruzar a serra até Pahrump’, o lugar mais próximo de Las Vegas onde a prostituição é legal”, diz Bussmann, “mas isso foi planejado propositalmente para ‘limpar’ a imagem do setor de jogos, que começou como um empreendimento controlado pela máfia e hoje pertence a gigantes corporativos.”
Quando se trata de risco, seria uma tolice qualquer cassino se envolver no mundo da cannabis, que continua ilegal em nível federal, mesmo que 39 estados tenham algum tipo de venda regulada. “[A cannabis] está em violação direta da lei federal, então o setor de jogos não pode ter as mesmas liberdades que outros negócios podem ter”, afirma Bussmann. “E, embora os eleitores de Nevada tenham aprovado isso, nem deveríamos estar tendo essa conversa.”
O post Por Que os Cassinos de Las Vegas Não Apostam em Cannabis apareceu primeiro em Forbes Brasil.