História do Império é revivida no Centro Cultural da Marinha em Florianópolis

Com mais de 1.800 peças, acervo é considerado a mais completa coleção do Império Brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo – Foto: Divulgação/ND

Raridades históricas do Império, como uma pintura original de Jean-Baptiste Debret sobre a bandeira da Monarquia Brasileira, joias raras da família imperial, livros originais com mais de 150 anos, documentos oficiais assinados por D. Pedro 2º, diferentes tipos de espadas e revólveres e uma rica coleção de objetos da nobreza brasileira integram o Centro Cultural da Marinha em Santa Catarina.

Funciona no antigo Forte Santa Bárbara, que está completando 250 anos de construção, desde que foi inaugurado para proteger o Centro Histórico da antiga Desterro. No final do século 19, a área ocupou posição estratégica, sendo ali instalada a sede do governo provisório da Revolução Federalista, entre 1893 e 1895.

Visitas de escolares, de autoridades e de lideranças vinculadas à causa marítima ocorrem com regularidade. Esta semana, contaram com a presença do Capitão dos Portos de Santa Catarina, Cristian Rezende, em função das comemorações da Semana da Marinha.

Neste domingo (15) termina em todo o Brasil a Semana da Marinha, com destaque para as celebrações do Dia da Marinha, comemorado em 11 de junho, data da famosa Batalha Naval do Riachuelo. Atos oficiais aconteceram na Escola de Aprendizes de Marinheiros, com promoções e atividades culturais.

O acervo do Centro Cultural da Marinha

O singular acervo do Centro Cultural vem sendo enriquecido pela Marinha do Brasil e pelo Instituto Soto, com novas peças e documentos históricos raros incorporados à exposição permanente em forma de comodato.

Ali estão expostas – em diferentes espaços envidraçados – mais de 1.800 peças. A exposição é considerada a mais completa coleção do Império Brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo. Entre as raridades, além da pintura de Debret, um abanador (leque) original usado por D. Maria 1ª, mãe de Dom João 6º.

E um “Compêndio de Ortografia da Língua Portuguesa”, escrito por Dom Pedro 2º. Moedas, pinturas diversas com cerca de 200 anos, pesos e medidas e espadas do período monárquico também compõem os diferentes espaços.

Há um estande com instrumentos de tortura usados no Brasil contra os escravos. Um outro com diferentes tipos de armamentos bélicos. E um de caráter religioso, também do Segundo Império, com uma belíssima imagem de Cristo crucificado em escultura de marfim, além de uma relíquia de Maria Madalena e um crucifixo de ouro com pequenas relíquias de 48 santos.

Museu tem proposta didática e anuncia inovações tecnológicas

O curador do Centro Cultural, historiador Roberto Michett Moreira, anuncia várias inovações com adoção de modernas ferramentas de comunicação, como totens com vídeos explicativos e equipamentos digitais para interatividade dos visitantes.

O projeto da mostra é simples, segundo esclarece. “A proposta museológica é muito didática. Começa com o absolutismo na Europa, consequentemente com a advento da expansão napoleônica, seguindo a transferência da Família Real e todo o aparelho administrativo de Portugal para o Brasil, segue na linha cronológica com o Primeiro Reinado, o Período Regencial, o Segundo Reinado até chegar na República, com representação da Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra e termina com arqueologia subaquática.”

Novas peças, de grande significado histórico, serão incorporadas nos próximos meses pelo Instituto Soto.

O centro – Inaugurado em 29 de junho de 2016, o Centro Cultural recebeu só nos primeiros quatro anos mais de 20 mil visitantes. Desde então, introduz melhorias com recursos do 5º Distrito Naval e de emendas parlamentares, sobretudo, do senador Esperidião Amin, que todos os anos destina R$ 100 mil.

Fortaleza foi tombada em 1984

Denominado oficialmente de Forte de Santa Bárbara da Vila, o edifício histórico do Centro Cultural é datado de 1775, embora haja pesquisadores indicando que os estudos e o início da construção deu-se anos antes.

Sua edificação é atribuída ao tenente coronel José Custódio de Sá e Faria, do Real Corpo de Engenheiros, em 1760. Durante a primeira metade do século 19, serviu como enfermaria militar. E, a partir de 1861, sede da Capitania dos Portos das Províncias de São Pedro do Rio Grande e de Santa Catarina.

Antigos aparelhos de navegação utilizados no histórico forte – Foto: Divulgação/ND

Ao longo do século 20, várias alterações foram introduzidas na fortaleza, retirando suas principais características originais e mantendo até hoje o estilo arquitetônico de 1930. Quando foram feitas as obras do aterro da baía Sul, no governo Colombo Salles, a Capitania dos Portos foi desativada e o forte esteve ameaçado de demolição.

Assim como o Miramar foi destruído, o novo projeto viário previa seu desaparecimento. Houve uma série de reações na imprensa e de alguns setores políticos, culminando com a preservação do imóvel.

A planta original previa o formato de um polígono irregular com apenas um andar, tendo cobertura em quatro águas. Abrangia o Quartel da Tropa, o Armazém e a Casa de Pólvora.

Na época, o prédio ficava dentro d’água e era protegido por uma muralha de 70 centímetros de espessura e altura de cinco metros acima do nível do mar. Como era uma ilha, comunicava-se com a terra por uma ponte de alvenaria de pedra sobre arcadas.

Em 1984, o forte e a sua área envolvente, no total de 5.086 m², foram tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Com a transferência da agência da Capitania dos Portos para um novo imóvel, no continente, o conjunto foi cedido pelo 5º Distrito Naval da Marinha do Brasil, tendo abrigado as sedes da Soamar (Sociedade Amigos da Marinha) e do Grupo de Escoteiros do Mar Ijurerê-Mirim.

Pedro 2º no Estado

O historiador Roberto Moreira, curador do Centro Cultural da Marinha, está concluindo a edição de duas obras inéditas sobre o Imperador D. Pedro 2º em Santa Catarina. A primeira trará novas informações sobre as duas passagens do imperador por Desterro e região.

A segunda terá como conteúdo uma nova biografia de D. Pedro 2º e sua destacada atuação no governo imperial. O pesquisador constata que a imagem do imperador, que comandou o período de pacificação mais longevo da história do país, tem sido prejudicada por leituras equivocadas e notória má vontade advinda da proclamação da República.

Moreira é autor da tese sobre a fortaleza, intitulada “Aspectos Históricos de Ocupação do Forte de Santa Bárbara da Praia da Ilha”, defendida na Unibf (União Brasileira de Faculdades) e que será lançada em livro no segundo semestre.

Local foi sede do governo provisório

A Fortaleza de Santa Bárbara, sede da Capitania dos Portos, foi sede do governo provisório, como registrou o historiador Carlos Humberto Correa.

“A 2 de outubro de 1893, Frederico Lorena desembarcou na cidade de Desterro, estabelecendo seu Quartel General na Capitania dos Portos, sendo que somente a 14 daquele mês, no Palácio do Governo do Estado, foi instalado o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, tendo como capital a cidade de Desterro.”

Peças e armas utilizadas na Batalha do Riachuelo – Foto: Divulgação/ND

O capitão de mar e guerra Frederico Guilherme Lorena era gaúcho, mas estudou em Desterro em 1850. Dirigiu o jornal “O Despertador” entre 1863 e 1885. Foi um dos principais líderes da Revolta da Armada, em 1893.

Em 30 de setembro, lançou um manifesto ao povo catarinense e aqui instalou a Revolução Federalista contra o governo de Floriano Peixoto.

Proclamou: “Operemos com firmeza e perseverança e ruirá por terra a tirania, deixando a nação entregue à posse de si mesma… Viva a República Federal! Viva o povo catarinense!”

Preso com os demais líderes da Revolução, foi fuzilado a tiros na Fortaleza de Anhatomirim com outros militares, em especial, o Marechal Gama d’Eça, herói da Guerra do Paraguai.

Federalistas – A Revolução Federalista assinalou uma das mais trágicas páginas da história de Santa Catarina, sobretudo, pela selvageria que marcou a intervenção federal do coronel Moreira Cesar, mandando fuzilar, sem qualquer direito de processo ou defesa, mais de 185 pessoas na Fortaleza de Anhatomirim. Muitos dos assassinados foram depois declarados inocentes até mesmo pelo presidente Floriano Peixoto.

Projetos visam à modernização do local

O capitão dos Portos em Santa Catarina, capitão de mar e guerra Cristian Rezende, o curador Roberto Moreira e o capitão de fragata da reserva, Eduardo Amaro de Andrade Jorge, estão atuando em conjunto para a execução de novos projetos visando modernização do Centro Cultural da Marinha em Santa Catarina.

A principal mudança consistirá na instalação de equipamentos modernos de comunicação visual, com interatividade dos visitantes e motivação para os estudantes que visitarem os diferentes estandes. Uma nova concepção museológica, mais atraente, também está em estudos neste momento.

A Batalha do Riachuelo

Os rumos da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) mudaram com a intervenção da Marinha do Brasil na histórica Batalha do Riachuelo, um afluente do rio Paraná, onde foram travados duros combates.

Maior conflito armado da América, foi marcado pelo bloqueio dos rios que davam acesso à região vital para as tropas paraguaias, isolando-as de suprimentos.  Esta intervenção facilitou o avanço das tropas aliadas e impediu que o Paraguai recebesse navios e armamentos do exterior.

A Corveta Barroso, comandada pelo capitão de fragata Francisco Manuel Barroso da Silva, depois conhecido como Almirante Barroso, teve atuação decisiva no conflito, com manobras consideradas audaciosas no confronto com os paraguaios, afundando embarcações inimigas. Assim, a Marinha do Brasil virou o jogo.

Visitação – As visitas acontecem de terça a sábado, das 10h às 17h. São gratuitas e podem ser mediadas para grupos acima de 10 pessoas, mediante agendamento prévio no email [email protected] ou no (48) 3225-3896.

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