Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Dubai, 21h, 36 graus, 42% de umidade no ar. Foi nessas condições atmosféricas que a Zegna decidiu mostrar a sua coleção de verão 2026. Pela primeira vez na era do diretor criativo Alessandro Sartori, o desfile foi realizado fora da Itália. Costumeiramente programada para a fashion week de Milão, a apresentação mudou de ares e foi integrada à Villa Zegna, um formato de evento inovador e itinerante que a marca italiana idealizou para proporcionar uma imersão, para clientes, imprensa e amigos da marca, no universo meticulosamente comandado pela família desde 1910.
Ambientado no moderníssimo edifício da Ópera de Dubai, o desfile foi batizado de “Uma Visão” e trazia na caixa-convite a frase “um visionário é aquele capaz de enxergar um futuro melhor.” Nesse sentido, tanto a Zegna quanto Sartori podem ser categorizados como visionários. A primeira por liderar um segmento quando o assunto é sustentabilidade e, o segundo, por, mais numa vez, injetar o novo na estética masculina – a de agora é sobre uma atitude ainda mais elegantemente relaxada do que antes e que, pode apostar, será replicada à exaustão em propostas para homens do mundo todo nas temporadas a seguir.
Envelopada para transmitir os valores e pilares da marca, a Ópera de Dubai trazia mensagens e informações sobre as ações sustentáveis da Zegna, como o Oasi Zegna – parque natural de acesso livre fundado em 1993 na região italiana do Piemonte, em uma área de cerca de 100 quilômetros quadrados, onde a marca já plantou mais de 500 mil árvores – ou a rastreabilidade completa de sua cadeia de produção. “From sheep to shop” (da ovelha à loja), diz o lema interno da grife para traduzir esse controle sobre os seus processos, todos realizados na Itália. Sustentabilidade é termo mandatório na moda atual e, ainda que muitas marcas de luxo estejam, sim, priorizando ações nesse sentido, pouquíssimas acertam como a Zegna, seja nas ações em si ou na comunicação delas.
À passarela, então. Para este desfile, as roupas passaram por intensas lavagens, que moldaram seus volumes ao corpo e desbotaram suas cores como se o sol escaldante, a poeira do deserto e o calor de Dubai tivessem deixado uma marca permanente. A estética despojada dos casacos amarrados na cintura e dos mocassins usados como chinelos sugere igualmente uma forma de se adaptar livremente à poesia áspera do cotidiano. Os calçados, aliás, têm tudo para dividir com o sneaker Triple X a preferência da clientela, tamanho era o burburinho em torno deles na sala pós-desfile.
Não é que Sartori tenha inventado a roda: os mocassins molengões, os slippers e as mules são clássicos do repertório masculino há tempos, mas a maneira de carrega-los é que faz a bossa toda: na mão, no bolso das jaquetas de linho utilitárias, deixando os pés descalços caminharem despretensiosamente na areia terrosa, ou mal calçados, com o calcanhar pisado, como chinelos, mesmo. A alfaiataria, levíssima, adaptada ao calor local ou ao planeta assolado pelas mudanças climáticas, segue apostando nas formas amplas, desconstruídas e confortáveis, com calças e bermudas pregueadas de gancho baixo, em cores vivas como rosa ou verde-floresta, além de padronagens clássicas em pied de poule, rejuvenescidas pelas texturas e pela atitude nonchalante.
De novo: a maneira de vestir é que dá vontade de sair usando a coleção toda. Amassadas, as peças de linho flutuam como se tivessem acabado de sair da mala do nômade moderno. Viajantes é o que não faltam em Dubai, aliás. A maioria de seus 3,5 milhões de habitantes são estrangeiros ou expatriados, somando mais de 200 nacionalidades. E a loja da Zegna na cidade é a que mais vende no mundo – mais um argumento que justifica o desfile por estas bandas.
Com uma cartela de cores deliciosamente equilibrada entre o aceso e o desbotado e um casting impecável, com o mix certo de homens e (algumas) mulheres de diferentes idades, Alessandro Sartori acerta mais uma vez e segue sendo farol – o ator dinamarquês Mads Mikkelsen, embaixador da Zegna e presença disputada nos bastidores do desfile, o definiu como “o melhor exemplo de pessoa visionária”. “Enquanto pesquisávamos para a coleção, nos deparamos com uma imagem que resumia perfeitamente minhas intenções. Era uma cadeira, sobre a qual estavam peças de roupa empilhadas depois de serem retiradas, provavelmente prontas para serem arrumadas no dia seguinte.
A casualidade dessa imagem sugere uma vida vivida intensamente, que é o que buscamos. Como designers, fazemos metade do trabalho; o resto acontece quando os clientes interpretam as peças no dia a dia. Essa interpretação individual e fora do padrão está hoje na passarela, mostrando a visão da Zegna em seu ambiente natural: a vida”, explicou o diretor criativo. “Há uma cultura de vestir, uma maneira adequada e despreocupada que, para mim, capta um timbre italiano peculiar que quero manter como nossa assinatura”, completou ele, que, certa vez, disse que seu objetivo era reinventar o guarda-roupa do homem contemporâneo. Dito e feito. Sua visão de mundo e de atitude globalizada funciona à perfeição em Dubai ou em qualquer outra metrópole do planeta. Bravo!
O post Zegna Desfila Sua Coleção de Verão 2026 em Dubai e Aposta em Elegância Desconstruída apareceu primeiro em Forbes Brasil.