2 Hábitos Que Silenciosamente Sabotam Seu Crescimento Emocional

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Frequentemente, na vida, você pode estar preso aos seus próprios padrões sem nem perceber.

Não se trata de fazer algo “errado”. No entanto, os padrões que você aprendeu para sobreviver a momentos difíceis podem acabar limitando seu crescimento mais do que apoiando.

Muitas vezes, esses padrões estão disfarçados de praticidade ou são assumidos como o “certo a se fazer”.

Embora existam muitas formas de lidar ou se curar, nem todas servem ao seu bem-estar a longo prazo. Elas podem ter sido maneiras urgentes de administrar sua vida, de se proteger e de tentar entender o mundo num momento em que sobreviver emocionalmente era difícil, e isso deve ser honrado, mas também, aos poucos, deixado para trás.

É importante desacelerar e refletir, perguntar a si mesmo se as formas com que você tem lidado com a dor ou tentado se curar estão realmente ajudando no seu crescimento ou apenas te mantendo estagnado.

Mesmo que esses hábitos hoje pareçam algo natural, trazer consciência a eles pode ajudar a quebrar o padrão.

Aqui estão dois hábitos que podem estar te mantendo emocionalmente preso:

1. Transformar cada sentimento ruim em um projeto de autodesenvolvimento

Com o aumento da conscientização sobre cura e saúde mental, também surgiu uma obsessão crescente por dar significado a tudo.

Você pode ter absorvido inconscientemente a crença de que a dor precisa ter um propósito ou que cada momento difícil deve levar a uma lição, uma transformação ou algum tipo de “virada”.

No entanto, pesquisas sugerem que isso nem sempre é verdade, e que o processo de cura pode ser mais complexo do que simplesmente encontrar significado na dor.

Um estudo de 2022 publicado na Cancer Reports analisou o impacto de um programa de Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) de 8 semanas, adaptado para pacientes com câncer. Foi realizado em seis centros de tratamento com 22 participantes.

Os pesquisadores avaliaram mudanças nos padrões de enfrentamento, tipos de reflexão e autocompaixão.

Esses são os dois tipos de ruminação analisados:

Ruminação reflexiva: reflexão intencional sobre si mesmo, como pensar por que você se sente de determinada maneira ou analisar uma situação para obter entendimento. Frequentemente vista como útil.

Ruminação negativa (ou “ruminação sombria”): focar passivamente em sentimentos negativos, geralmente de forma autocrítica.

Exatamente 82% dos participantes mostraram melhora clinicamente significativa em pelo menos uma área, incluindo redução no enfrentamento negativo, ruminação sombria e medo da autocompaixão.

No entanto, o estudo também revelou que nem toda introspecção é benéfica. Em alguns casos, a ruminação reflexiva (que geralmente parece produtiva) foi associada a um aumento nos pensamentos depressivos, e alguns participantes relataram maior angústia após a intervenção.

Os pesquisadores encontraram correlações fortes entre o medo de autocompaixão e ambos os tipos de ruminação, especialmente a sombria. Isso sugere que pessoas que têm dificuldade em receber ou demonstrar compaixão por si mesmas também tendem a ruminar de maneiras mais dolorosas.

Portanto, embora a reflexão possa ser útil na maioria dos casos, analisar ou dar significado constante a pensamentos angustiantes pode, às vezes, aprofundar o sofrimento emocional. Isso ocorre especialmente quando vem de um lugar de medo ou autojulgamento.

Mesmo que a autorreflexão e os esforços de enfrentamento sejam vistos como essenciais para a cura, eles não impactam todas as pessoas da mesma maneira.

A atenção plena (mindfulness) e a introspecção podem reduzir a ruminação nociva e o medo da autocompaixão para muitos, mas para alguns, o excesso de reflexão motivado pelo medo pode aumentar o sofrimento.

O crescimento emocional é complexo e a cura é profundamente pessoal, influenciada por experiências e intenções individuais. Isso significa que as estratégias de enfrentamento precisam ser flexíveis e adaptadas às necessidades de cada um, justamente porque o que funciona para uma pessoa pode deixar outra presa.

Em vez de tentar dar significado a tudo ou forçar um momento de “superação”, permita-se simplesmente ser e entender o que realmente te ajuda. Às vezes, a cura mais poderosa vem de perceber o que realmente serve ao seu crescimento em diferentes fases da vida.

2. Romantizar o passado quando o presente está difícil

Quando o presente parece pesado, muitas pessoas voltam-se para o passado em busca de conforto.

A nostalgia tem o poder de proporcionar uma fuga temporária, e pode facilmente, e inconscientemente, se tornar um hábito persistente.

Você pode se pegar idealizando o passado, lembrando de como aqueles tempos eram alegres. Mas pode estar esquecendo que esses períodos também tiveram seus desafios. A nostalgia é uma experiência agridoce, capaz de evocar emoções variadas. No entanto, se isso te ajuda ou piora sua dor depende de muitos fatores pessoais.

Um estudo de 2018 publicado na revista Personality and Individual Differences destaca exatamente isso. Os pesquisadores queriam entender como a ruminação e os estilos de enfrentamento influenciam o impacto emocional da nostalgia.

Foram feitos dois estudos:

O primeiro foi uma pesquisa com 213 participantes, analisando níveis de nostalgia, ruminação, depressão e estratégias de enfrentamento.

No segundo, 664 participantes escolheram uma música que os fizesse sentir nostalgia. O objetivo era comparar o benefício emocional percebido com os efeitos emocionais reais.

As descobertas revelaram vários pontos importantes:

A nostalgia pode ser útil ou prejudicial, dependendo da pessoa. Para muitos, ela melhora o humor. Mas para quem tende a ruminar ou tem propensão à depressão, pode piorar o estado emocional.

A ruminação tem um papel grande. Pessoas propensas à ruminação negativa e repetitiva tendem a se sentir piores após momentos nostálgicos. Para elas, relembrar não traz conforto, e sim mais tristeza ou arrependimento.

Algumas “estratégias de enfrentamento” podem ser enganosas. O que parece uma forma de se expressar ou buscar conforto (como relembrar ou desabafar) pode, às vezes, ser evitativo ou disfuncional. Por exemplo, quem usa negação ou se desengaja da realidade pode recorrer à nostalgia para escapar, em vez de enfrentar o presente.

A nostalgia não afeta todo mundo igualmente. Algumas pessoas disseram se sentir melhor após recordar, mas testes indiretos de humor mostraram que, na prática, se sentiram pior. Ou seja, muitas vezes nem percebem que recordar está, na verdade, puxando-as para baixo.

A distância entre passado e presente pode aumentar a dor. Quando alguém idealiza demais o passado, a diferença entre “como as coisas eram” e “como são agora” pode virar uma fonte de sofrimento, especialmente para quem já tem padrões mentais pouco saudáveis.

Isso mostra que, embora a nostalgia pareça oferecer consolo, seu impacto varia muito. Não se trata apenas do que você lembra, mas de como e por que está se lembrando.

Quando a nostalgia vem como uma forma de evitar o presente, ela bloqueia o processamento emocional e atrasa o crescimento.

Por isso, em vez de se perguntar se o passado era melhor, tente voltar sua atenção para o agora, e entender por que está tão difícil lidar com ele.

O que você precisa lembrar é que a cura não é sobre voltar a ser quem você era. O crescimento emocional e a cura acontecem no presente, ao encarar o que é com honestidade e compaixão.

O crescimento emocional nem sempre é algo dramático ou visível. É uma mudança sutil que nasce de se ver com mais honestidade. Pausar e refletir sobre seus padrões com compaixão, e não julgamento, é o que vai abrir espaço para uma mudança real.

* Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

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