Obesidade e Câncer: o Que o Congresso Americano de Oncologia Debateu sobre Esta Relação Delicada

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A obesidade é hoje um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo. Diversos estudos já mostraram que ela está associada a pelo menos 13 tipos diferentes de câncer, e tudo indica que, em breve, deve ultrapassar o tabagismo como principal fator de risco para câncer no Brasil.

Durante o Congresso Americano de Oncologia (ASCO 2025), realizado no início deste mês em Chicago (EUA), especialistas de diversos países discutiram os efeitos da obesidade sobre a incidência e o prognóstico de diversos tumores. Um dos destaques da edição deste ano foi justamente um estudo que analisou o impacto dos medicamentos emagrecedores de última geração (os chamados agonistas do receptor GLP-1, como semaglutida e tirzepatida) na prevenção e evolução de certos tipos de câncer.

O estudo, conduzido por pesquisadores norte-americanos com base em registros clínicos de mais de 170 mil pacientes, demonstrou que o uso contínuo desses medicamentos não apenas contribui para a perda de peso sustentada, como também pode ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento de alguns tumores relacionados à obesidade, como câncer de fígado, endométrio, rim e pâncreas. Na pesquisa, os autores revelam que o medicamento foi especificamente protetor contra tumores de cólon e reto.

A pesquisa apontou, ainda, indícios de que pacientes oncológicos obesos que passaram a usar estes medicamentos apresentaram respostas mais favoráveis aos tratamentos convencionais, como quimioterapia e imunoterapia.

A obesidade é uma condição multifatorial e complexa, que exige uma abordagem integrada: alimentação equilibrada, acompanhamento médico, suporte psicológico, medicamentos, em alguns casos cirurgia bariátrica — e, fundamentalmente, a prática regular de atividade física.

A prática de exercício físico tem um papel decisivo tanto na prevenção quanto no tratamento do câncer. Os melhores centros oncológicos do mundo já adotam programas específicos de atividade física voltados a pacientes oncológicos, com o objetivo de melhorar ainda mais as taxas de cura quando associadas aos avanços tecnológicos dos tratamentos — como novos medicamentos, cirurgias mais precisas e radioterapia de última geração.

Mas por que o exercício físico é tão importante nesse contexto? Em primeiro lugar, porque ele reduz a obesidade, que é sabidamente um fator de risco importante. O tecido adiposo em excesso é um ambiente favorável ao desenvolvimento tumoral, pois produz substâncias inflamatórias e fatores de crescimento celular que podem favorecer o surgimento de câncer. A prática regular de atividade física também contribui para reduzir esse estado inflamatório crônico, melhora a resposta imunológica do organismo, ajuda a equilibrar níveis hormonais (que, em excesso, podem ser gatilhos para o câncer) e reduz o fator de crescimento relacionado à insulina — um conhecido indutor de tumores.

Por si só, a obesidade representa um enorme fardo para a saúde cardiovascular, metabólica e mental. Mas quando colocamos o câncer na equação, o nível de urgência é ainda mais elevado. Precisamos falar mais sobre isso, combater o estigma que ainda cerca o tema e, principalmente, encarar a obesidade como uma doença crônica e tratável.

Ao priorizarmos políticas públicas de prevenção, acesso a tratamentos modernos, programas de promoção à atividade física e educação da população, temos a chance de mudar a trajetória de muitos brasileiros e agir para reduzir de forma expressiva a incidência de câncer nos próximos anos.

Obesidade não é uma questão estética. É uma questão de saúde, de vida e, cada vez mais, de controle do câncer.

*Dr. Fernando Maluf é médico oncologista, cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.

 

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