Marcella Tranchesi: “Como Empresária, Tenho Ótimos Problemas”

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Quando decidiu combinar a atividade de influenciadora à de empreendedora, Marcella Tranchesi escolheu um caminho pouco usual: o da confeitaria. Expert em dicas de moda e beleza, e também em preparar bolos apetitosos, ela juntou suas receitas próprias e criou a Doce Aquarella, empresa que entrega bolos inteiros ou em fatias para 72 bairros de São Paulo em coisa de 10 minutos, 24 horas por dia, 7 dias por semana. O sucesso é tamanho que, em menos de um ano, a empresa já passou por um processo de ampliação. E com o controle de qualidade em dia: “preparamos os bolos exatamente com a mesma farinha, o açúcar, a manteiga e o leite condensado que eu uso na minha casa. Nada é trocado porque se faz em quantidade”, conta ela.

“Na infância, sempre que deixavam, eu ia fazer um bolo. Tem foto minha, aos 8, 9 anos na cozinha. Se deixasse, era todo dia. Minha mãe falava ‘filha, mas o bolo está inteiro ainda, espera acabar’’”, lembra. Marcella cuida de tudo no nível de detalhes, como a etiqueta que vai nas embalagens: uma ilustração de sua cachorrinha Lella ganha cores e adereços que ajudam a identificar o sabor – em tempo, chocolate e cenoura disputam o primeiro lugar semana a semana. 

Nesta semana, a mascote aparece de cara nova nas caixas de estampa aquarelada (e de excelente qualidade): de chapéu caipira de palha, que faz menção à festa junina, a cachorrinha anuncia o novo bolo da casa: de paçoca com brigadeiro de doce de leite. Em uma palavra: espetacular. Marcella conversou com a coluna sobre esse novo momento profissional, em que se revela mais uma vez uma mulher de sucesso.

Donata Meirelles: Como o trabalho de influenciadora levou você ao negócio de bolos?

Marcella Tranchesi: Quando comecei como influenciadora, com 20 anos, tinha muito bem estabelecidos quatro assuntos: beleza, moda, lifestyle – dicas de restaurante, viagem e tudo mais –, e receitas. Fui crescendo como uma influenciadora de moda e beleza, e sempre deixei a receitinha ali, porque é um conteúdo muito democrático. A dica de aplicação de uma base Dior até pode servir para qualquer base que a seguidora use, mas as receitas simples, que são as que eu gosto e sei fazer, funcionam para todo mundo. Na pandemia, quando começou o lockdown, eu me vi dentro de casa com todos os meus contratos de trabalho pausados. Resolvia as coisas da casa e depois ficava completamente ociosa e angustiada. Aí eu pensei em cozinhar, porque, além de terapêutico, me faria útil. Postava receita dia sim, dia não e, como o momento era muito propício, viralizou. Fiquei marcada com os bolos, porque eram os que faziam mais sucesso. Com isso, vieram os pedidos: “a gente quer comprar esse bolo, vende o bolo, abre uma loja de bolo”. Eu nunca, nunca tinha pensado nisso. 

E ali você já começou a pensar no negócio?

Não. Pensava que as pessoas queriam porque é um bolo que não estava à venda; é o bolo que eu fazia e mandava para as minhas amigas, é o bolo de um grupinho. Achava que era da boca para fora. Só que os pedidos continuaram e foram crescendo, até que um ano depois eu considerei. Será que elas comprariam mesmo? E fiquei com isso meio ali no fundinho da cabeça.

Uma coisa é a ideia, a outra é a estruturação de um negócio…

Não, e a coragem? Depois de dois anos de insistência para que eu vendesse, perguntei ao meu marido: “Você acha que eu venderia bolo? Quanto que eu tenho que vender para fazer sentido?”. Porque eu já sou muito bem-sucedida como influenciadora. E aí, ele, que trabalha no mercado financeiro, fez uma planilha enorme e mostrou quantos bolos precisaria vender para fazer sentido financeiramente. E me devolveu: “Agora pensa se você quer”. E eu fiquei: “Será que eu quero? Será que eu tenho coragem? Será que eu tô preparada para não dar certo, para lidar com a derrota?”. Enrolei muito por falta de coragem para dar a cara a tapa. 

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Laranja, formigueiro, cenoura, chocolate, iogurte: sabores de bolo da Doce Aquarella

Você levou o assunto para terapia; você faz terapia?

Fiquei dois anos matutando. Se eu fizesse terapia, tinha resolvido em seis meses. Nesse meio-tempo fiquei estruturando o nome, o logo, o registro de marca, o Instagram… E lidando com o medo. Um tempo depois, fui estruturando a equipe, treinando para que o bolo ficasse idêntico ao meu: eu faço, a equipe assiste; a equipe faz, eu assisto; a equipe faz sem eu ver e eu provo. Aí eu mando para as minhas amigas o teste cego, para ver se tá igual ao meu. Fui fazendo isso de forma bem fechadinha, assim, entre amigos. Até que criei coragem e botei a data para abrir. E foi assim, não no susto, mas na coragem, no empurrão. 

O que que você sabe, claramente, que aprendeu nesse processo até agora?

Nesses nove meses, aprendi tudo. E entendi a conversa do empreendedor, das dores do crescimento, que só se aprende rodando. São desafios financeiros, administrativos, de ampliação de portfólio, de sabor, teste, entrega, lidar com uma demanda 50 vezes maior do que a produção – porque a gente não sabia qual ia ser; é um produto perecível, não tinha como fazer estoque.

E você tem alguma memória, nesse processo todo, das coisas que a sua mãe dizia? 

Quando se é criança, não temos noção dos desafios, do peso, da responsabilidade de ter uma empresa. Hoje, a gente tem 29 colaboradores. Sou responsável por 29 famílias, né? Minha mãe tinha 2 mil e eu fico pensando: como? Ela era muito focada no cliente, então eu penso muito nisso. Ela era muito forte, mas seguia muito o coração. Eu sou uma pessoa muito prática, objetiva. Mas, às vezes, eu tento dar um passo para trás e olhar as coisas com mais sentimento. Acho que tem que ter um feeling, que, nas obrigações do dia a dia, a gente nem sempre consegue. 

E o novo bolo de paçoca?

O chamariz, o sucesso da marca, o que trouxe realmente esse destaque para a marca foi o nosso brigadeiro tradicional. O bolo de paçoca vem um novo sabor de brigadeiro, que é o de doce de leite. É um absurdo de bom! Tem sabor junino. Na massa vai Paçoquita e a cobertura é com doce de leite Aviação, porque é assim que eu faço em casa. Até 31 de julho, o bolo de paçoca fica no cardápio. Se fizer muito sucesso, fica no cardápio.

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Novidade no cardápio da Doce Aquarella: bolo de paçoca e brigadeiro de doce de leite

Como é o seu dia a dia com a empresa?

Não vou para a produção todos os dias, mas estou conectada 24 horas. Trato de entrega, SAC, lançamentos, todos os conteúdos, toda a parte administrativa, marketing. A gente tem reuniões diárias. Você escreve Doce Aquarella no meu WhatsApp, acho que tem uns 40 grupos, cada um fala de um assunto. Hoje a empresa fatura o dobro do que eu como influenciadora – nunca imaginei que isso iria acontecer. 

E como você concilia as duas atividades, de empresária e influenciadora?

Tomo cuidado para que eu não me sobrecarregue a ponto de não dar conta, mas nesses nove meses a gente se estruturou para que não fique tudo em cima de mim. Ruim é você não vender, ruim é não ter cliente, ruim é não ter trabalho. Graças a Deus, com a comunidade maravilhosa que a Doce Aquarella tem, a gente só tem bons problemas. Esgotar é um bom problema para se resolver, ampliar é maravilhoso. Entre os muitos desafios, nenhum deles é não ter cliente e não ter busca pelo produto. Então, tudo se resolve. É aquela coisa: com saúde e com gente querendo consumir da sua empresa, o resto a gente leva feliz.

Você sente que vai precisar escolher um caminho?

Eu acho que não, eles caminham muito bem juntos. Muita gente me pergunta sobre isso. Estou me realizando imensamente como empreendedora, mas sei que eu só estou realizada por causa da comunidade que criei como influenciadora. E foi como influenciadora que ganhei o dinheiro para fazer o investimento nos bolos. Mesmo em meio a essa loucura eu trabalhei ainda mais como influenciadora. A Doce Aquarella me validou muito como influenciadora.

Em que horário mais sai bolo?

São quatro turnos: de manhã, uma equipe; à tarde, duas equipes; à noite, uma equipe. A gente faz toda a produção entre 5 e 6 da manhã, em seguida faz a distribuição para as 20 dark stores do Rappi, de onde saem os pedidos. O bolo inteiro, que as pessoas garantem para a comemoração do dia, sai muito entre 9h da manhã e 13h. As fatias vendem muito entre meio-dia e quatro da tarde, que é a hora que a gente tem a vontade de doce.

Você escreveu a missão? 

Eu escrevi. Peraí que eu vou ler: impactar positivamente a vida das pessoas, criando momentos de felicidade para os nossos clientes, oportunidade de crescimento e realização para os nossos colaboradores e promovendo o desenvolvimento sustentável de toda a nossa minha cadeia de fornecedores. 

Considerou quem trabalha para você. 

Quando você ganha uma comida feita por alguém, você sabe que vem com a “mão” da pessoa. A gente sabe que passa para a comida, né? A gente é muito, muito, muito grato a toda a equipe, porque somos feitos de pessoas. O bolo é batido por uma pessoa, é assado, é tirado do forno, e desenformado, conferido e coberto por outras pessoas. No fim, uma empresa é feita de pessoas e a nossa não é diferente.

André Ligeiro

Marcella Tranchesi: sucesso à frente da Doce Aquarella

Com Antonia Petta e Milene Chaves

Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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