Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Estive recentemente com o ex-ministro Roberto Rodrigues em uma reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) onde ambos somos conselheiros. Enquanto conversávamos, ele mencionou que temos alguns assuntos prioritários no agro Brasileiro, e que o seguro rural é o primeiro deles.
É fácil de entender o porquê. O agronegócio é uma indústria a céu aberto, que enfrenta riscos biológicos climáticos, longos ciclos de produção, além de forte sazonalidade. O setor atingiu um elevado nível de excelência, desenvolvendo técnicas e tecnologias de manejo resilientes, mas ainda assim, está a anos luz dos seus maiores concorrentes quando se trata da adoção do seguro rural. Mas qual é a importância do seguro rural?
O seguro rural tem inúmeras camadas de importância, a primeira e mais óbvia é proteger o produtor contra perdas decorrentes de fenômenos climáticos adversos como secas, excesso de chuvas, geadas e granizo. A segunda camada é que garantindo a renda e estabilidade do produtor, o seguro rural permite que o produtor não só se recupere mais rapidamente, como também dê continuidade às suas atividades.
O relatório “Políticas Públicas – Seguro Rural”, da FGV, defende “o papel do seguro rural como mitigador dos efeitos dos riscos climáticos das atividades agropecuárias, atuando como um instrumento para a estabilidade da renda agropecuária”. Ainda segundo o estudo, o seguro é um instrumento para assegurar a sustentabilidade e competitividade do agronegócio.
Já o estudo “Seguro Rural No Mundo e Alternativas para o Brasil”, elaborado pela Agroicone destaca que ao reduzir a vulnerabilidade do produtor, o seguro colabora para a sustentabilidade e vitalidade de uma parte fundamental da economia. O agronegócio tem sido a locomotiva da economia nacional. Quando o agro vai bem, a economia brasileira acompanha. Reduzindo a vulnerabilidade do produtor, o seguro garante um ambiente de negócios e produção estáveis.
Outra camada é o acesso a crédito, com maior disponibilidade de recursos para o setor do agronegócio. Utilizando o seguro rural, o produtor tem mais acesso a linhas de financiamento com menor necessidade de garantias, pois com a adoção do seguro, é automaticamente reduzida a inadimplência.
O seguro rural é uma ferramenta de política pública fundamental, diminuindo a necessidade de socorro emergencial, como ocorreu por exemplo na tragédia no Rio Grande do Sul, onde os produtores ainda sofrem as consequências e num efeito cascata, toda a economia é afetada. O Brasil começa a reagir. Já foram liberados R$ 179 milhões para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), com o restante do orçamento de R$ 1,06 bilhão a ser liberado. O setor pleiteia que este valor chegue a R$2 bilhões. A possibilidade de tornar o seguro obrigatório para recursos oficiais também é discutida, visando reduzir juros e garantias.
Apesar da relevância do agronegócio para a economia nacional, o Brasil tem uma área segurada de apenas 13,63 milhões de hectares, infinitamente menor que a área dos EUA, 153 mi hectares, China 166 mi hectares e menor até do que a área da Argentina, que segura 19,5 mi segundo o estudo da Agroicone. Mas se o seguro rural tem todas estas vantagens, porque ainda não é amplamente adotado no Brasil?
O seguro rural já funcionou bem no passado no Brasil, mas atualmente a adesão é baixa pois o seguro é caro, quanto maior a adesão, proporcionalmente, mais barato ele fica.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro declarou recentemente que “se tem algo que ainda deixa a desejar no Plano Safra brasileiro é o seguro rural. Ele não cumpre com sua finalidade. Se tivéssemos um seguro rural efetivo, não estaríamos discutindo a repactuação das dívidas dos produtores do Rio Grande do Sul. O seguro pagava a conta e a gente seguia a vida” Ainda segundo o chefe da pasta, “o seguro no Brasil é caro porque a adesão é baixa. Com a alternativa, devemos ter um aumento na contratação os preços mais acessíveis. Senão o seguro fica cada vez mais caro e com menor cobertura”.
Outro entrave são as apólices, que não podendo ser customizadas, deixam de levar em consideração peculiaridades de cada região, como risco climático, práticas, culturas e histórico de produtividade.
A principal estratégia utilizada pela maioria dos países é a subvenção econômica ao prêmio da apólice de seguro visando tornar o seguro acessível ao produtor, assumindo uma parcela deste custo, em alguns países, como é o caso dos EUA, Índia e China, onde a subvenção chega a 60%.
O seguro rural desempenha um papel fundamental na mitigação de riscos e na promoção da sustentabilidade do setor agropecuário. O governo brasileiro está buscando aumentar o orçamento destinado ao seguro rural, o que demonstra um movimento para fortalecer o setor. Precisamos de políticas robustas para proteger nossos produtores e garantir a força do Brasil no cenário global.
* Helen Jacintho é engenheira de alimentos e produtora rural com mais de 20 anos de atuação no agronegócio na Fazenda Continental e Regalito. Diretora de Melhoria Contínua, ela é responsável por implementar a filosofia Lean de gestão no campo. Estudou Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado, é juíza de morfologia pela ABCZ e estudou marketing e carreira no agronegócio. Fundadora do grupo Forbes Mulher Agro e conselheira do COSAG/FIESP, integra a lista Women to Watch 2025.”
O post Seguro rural deve ser prioridade para o agro brasileiro apareceu primeiro em Forbes Brasil.