Padre e teólogo comentam devoção mariana e sua centralidade em Jesus

No mês dedicado à Nossa Senhora, recorde títulos, solenidades e práticas devocionais; Maria conduz “tudo e todos a Jesus”, diz membro da Academia Marial 

Julia Beck
Da redação

Imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus/Foto: Canva Pro

Foi em 1250 que, pela primeira, vez, o mês de maio foi associado à figura de Maria. O teólogo e membro da Academia Marial, Irmão Afonso Murad, recorda que antes do cristianismo chegar na Europa, este mês era marcado por festejos em honra da deusa da vegetação, com cantos, danças e o cortejo de jovens que levavam ramos floridos. Tanta beleza se ligava também às declarações românticas entre os namorados e festas com música, dança e recitação de poesia.

“Mesmo depois da cristianização, alguns destes ritos pagãos permaneciam no meio do povo. Então, com o crescimento da devoção mariana, em vários lugares estas festas deram lugar a uma homenagem especial à Maria. Em vez do louvor a deusa-mãe da natureza, se promoveu a veneração à Nossa Mãe Maria”, pontua.

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Irmão Afonso Murad/ Foto: Arquivo Pessoal – Irmão Afonso

Murad lembra que foi o rei Afonso X (na atual Espanha) quem fez a primeira associação. Nos cânticos daquela época, louvava-se a Deus pela abundância da natureza e pedia-se a Maria que ela concedesse a todos bênçãos materiais e espirituais.

Trezentos anos mais tarde, São Filipe Néri ensinou os jovens a homenagear a Mãe de Jesus, ornando sua imagem com flores, cantando louvores e também realizando gestos de conversão a Deus. O teólogo frisa que assim a devoção foi crescendo e se espalhando, de acordo com as características de cada região.

“Dedicar um mês a Maria se tornou uma tradição. Além de ladainhas e cantos, se firmou a prática da coroação de Maria, utilizando uma coroa de rosas. Reconhecemos com alegria que Maria é mãe amorosa e a rainha que permanece como servidora, conduzindo tudo e todos a Jesus”, comenta.

Oração do Rosário

Em maio, muitas igrejas locais incentivam os fiéis a viverem com mais intensidade as práticas devocionais marianas. O membro da Academia Marial cita a oração do Rosário como a mais conhecida no ocidente. Nele se contemplam quatro mistérios da vida de Jesus e de Maria: os gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos.

Nos mistérios gozosos, irmão Afonso explica que são contemplados Jesus e a sua infância, começando com a anunciação que abre o caminho para a encarnação do Filho de Deus. Os mistérios da luz, introduzidos por João Paulo II, colocam os fiéis dentro da vida e da missão de Jesus de Nazaré. Os mistérios dolorosos refletem sobre a grande oferta de Jesus à humanidade na cruz. E os mistérios gloriosos trazem presente o tempo pascal.

Títulos de Maria

A Mãe de Jesus se apresenta à humanidade por meio de diversos títulos. O pároco da Catedral de São Francisco Xavier, em Itaguaí (RJ), padre Wagner Souza, explica que os títulos que Nossa Senhora recebe são uma forma de defini-la a partir de uma característica sua, uma manifestação mística ou alguma verdade a respeito da Igreja sobre ela. Como exemplo, o sacerdote citou Nossa Senhora do Bom Conselho, de Fátima e da Imaculada Conceição:

“Uma está ligada à sua intervenção nas Bodas de Caná, como mãe que aconselha e pede ao Filho pelas necessidades dos seus irmãos, outra a uma aparição e a última a um dogma de fé. Assim como o esposo e os filhos se dirigem a esposa e a mãe como ‘princesa’, ‘rainha’, a Igreja e os seus filhos se dirigem a Nossa Senhora desta maneira, usando diversos títulos de forma carinhosa”.

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Expressão mundial

Há títulos de Nossa Senhora que tem grande expressão mundial. Entre eles: Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro), Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) e Nossa Senhora das Dores (15 de setembro).

Padre Wagner / Foto: Arquivo Pessoal

Padre Wagner lembra que Nossa Senhora aparece em Lourdes e confirma o dogma da Imaculada Conceição proclamado pela Igreja anos antes. “Esta aparição foi considerada como uma resposta do céu. Lá, de uma fonte aberta pelas mãos da vidente (Bernadette Soubirous, hoje santa), Nossa Senhora realiza até hoje a cura de muitas doenças e males”.

A devoção ao Rosário, comenta ainda o presbítero, constitui uma verdadeira identidade da piedade mariana. O dia 7 de outubro comemora a vitória de uma das maiores batalhas da Igreja contra seus perseguidores, resultado da oração do Rosário. Por isso, o sacerdote sublinha que a celebração desta memória diz tanto aos fiéis.

“A Semana Santa trouxe para nós, sobretudo aqui no Brasil, a figura de Nossa Senhora humilde e paciente, como companheira fiel de Jesus no mistério da sua dor. Por isso a devoção às suas Dores e outros títulos que apontam para isso, como Piedade, Soledade, Rosa Mística e Lágrimas. tocam tanto o coração e ajudam a fé da nossa gente”, afirma.

Devoção

Afonso Murad ressalta que a devoção mariana, assim como a devoção aos santos, é muito positiva. “Através dos santos os fiéis vão até Jesus, tocam a Trindade”, sublinha.

Ao citar o Concílio Vaticano II, o membro da Academia Marial recorda que na Lumen Gentium, no capítulo 8, é enfatizado que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens, e os santos participam dessa única mediação de Cristo. A devoção mariana, prossegue o religioso, deve ser vivida nesta perspectiva. “Ela é saudável porque nós católicos temos no coração que Maria é nossa mãe na fé, é quem nos conduz a Jesus”.

Contudo, o teólogo alerta para “exageros” na devoção. “Esse exagero acontece quando, por exemplo, as pessoas colocam Maria no centro da fé e esquecem de Jesus. Quando práticas devocionais marianas ocupam todo o tempo, não separando um tempo para a leitura da Bíblia, por exemplo”, alerta.

“A devoção mariana é boa – como o próprio Magistério da Igreja afirma – mas ela precisa ser vivida de forma equilibrada”, reforça o membro da Academia Marial. “Deve ser centrada em Jesus, alimentada não só pelas práticas devocionais, mas pela Palavra de Deus e a Eucaristia”.

Solenidades máximas

As solenidades “Maria Mãe de Deus” (1º de janeiro), “Assunção de Maria” (15 de agosto) e “Imaculada Conceição de Maria” (8 de dezembro) ajudam os fiéis a compreenderem o mistério salvífico que se dá por meio da contribuição de Nossa Senhora com a vontade divina, revela padre Wagner.

“Daí o sentido de crermos que Maria foi imaculada, quer dizer preservada e imune da mancha do pecado logo na sua concepção. Assim, dela nasce Jesus, que é Deus feito homem, igual a nós em tudo, menos no pecado. Logo, se Ele que é Deus, enquanto segunda pessoa da Trindade, nasceu dela, ela pode seguramente ser chamada Mãe de Deus. E depois, uma vez que foi feita Imaculada, para ser Mãe de Deus e para Ele sempre viver como Virgem e Fiel, seu corpo não poderia conhecer a corrupção, já que a morte, como diz São Paulo, é o salário do pecado… Então cremos e celebramos sua assunção gloriosa, feita por vontade de Deus até o céu”.

O sacerdote reflete que nada disso – a Imaculada Conceição, a Maternidade Divina ou a Assunção Gloriosa da Virgem Maria – engrandece a pessoa de Nossa Senhora. Todos os fatos apontam para a realeza de Cristo, sua divindade e o poder de sua obra que faz maravilhas através da pequenez humana.

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