Com o aumento de eventos climáticos extremos, cidades do interior de São Paulo vêm reforçando suas estratégias de prevenção para lidar com alagamentos, deslizamentos e outros desastres naturais. Mudanças estruturais e campanhas de conscientização estão entre as principais ações adotadas pelas Defesas Civis.
Casos como a enxurrada no Jardim Proença, em Campinas, que resultou na morte de uma mulher em 2021, o choque elétrico de um jovem em Ribeirão Preto no fim de 2024 e as seis mortes registradas em Araraquara em 2023, mostram a gravidade do cenário. Campinas, Araraquara, Ribeirão Preto, São Carlos e Piracicaba enfrentam desafios recorrentes com a infraestrutura urbana diante de chuvas intensas e rápidas.
Em Campinas, por exemplo, a Defesa Civil trabalha com um sistema de monitoramento contínuo de áreas vulneráveis e incentiva a população a relatar ocorrências pelo telefone 199. De acordo com Sidnei Furtado, Diretor da Defesa Civil local, “não há a menor possibilidade de ter uma enchente como a do Rio Grande do Sul. A cidade enfrenta, sim, inundação brusca, resultado de temporais intensos e de curta duração”.
Mesmo que o município esteja bem preparado para enfrentar grandes eventos climáticos, ele afirma que “não existe cidade que esteja completamente preparada para tais desastres. A preparação é um processo contínuo, onde as melhorias são feitas todo ano”. Ele destaca que as áreas de risco em Campinas foram reduzidas de 74 para 30, resultado de um trabalho constante que inclui ações educativas e planejamento urbano.
Essa mesma preparação é crucial também em outros municípios do interior paulista. O cientista ambiental André Argollo, pesquisador do Cepagri/Unicamp (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas/ Universidade Estadual de Campinas), destaca que as cidades estão investindo em soluções que vão desde a ampliação do sistema de drenagem até a criação de novos projetos de resiliência urbana, com o apoio de universidades. Campinas, por exemplo, firmou parcerias com a Unicamp, desenvolvendo estudos sobre a capacidade de adequação das cidades e projetos de redes de alerta para chuvas intensas.
No entanto, como conta Hellen Santos, uma das vítimas de inundações em Campinas, a falta de um sistema de alerta rápido em algumas áreas pode resultar em danos imensuráveis.
“A água invadiu o quintal. Minha mãe não conseguiu sair de casa comigo, nem o meu tio, que também estava presente no dia. E não houve nenhum alerta na época, não houve nenhum aviso sobre a tempestade. Tentamos preservar o máximo que dava, mas perdemos muitos móveis”, relata.
Isso evidencia a importância não só da infraestrutura urbana, mas também de uma população bem informada e preparada.
O que a Defesa Civil de cada município está fazendo em relação às mudanças climáticas?
Em Ribeirão Preto, a Prefeitura tem avançado com o Plano de Ação de Enchente, que inclui medidas como a limpeza frequente de córregos e bueiros, além de obras de drenagem urbana para minimizar o acúmulo de água nas ruas. Elizeu Sacoman, Coordenador Operacional da GCM do município, conta: “Além de trabalhos de conscientização sobre os descartes irregulares que atrapalham muito no escoamento da água pluvial, realizamos também o trabalho de monitoramento quando ocorrem as chuvas no sentido de identificar pontos de alagamentos e trabalhar junto à Secretaria de Infraestrutura para acharmos uma solução efetiva do problema.”
Já em São Carlos e Piracicaba, as Defesas Civis focam na capacitação de agentes e em campanhas educativas, informando a população sobre os sinais de deslizamentos de encostas e os procedimentos de evacuação. Em São Carlos, existe o Sistema de Alertas Antecipados (Early Warning) ou alerta precoce, que consiste em criar alertas claros e acessíveis acompanhados de campanhas educativas.
No caso de Ribeirão Preto, há parcerias com as demais Secretarias que treinam os profissionais para identificarem áreas e situações de perigo potencial.
“O que temos de concreto são as parcerias com as demais Secretarias que dispõem de seus profissionais técnicos, os quais nos orientam através de seus conhecimentos, disponibilizando treinamentos, capacitando os demais envolvidos na Defesa Civil”, afirma Elizeu.
Em Piracicaba, no final do mês de março, a prefeitura e a Defesa Civil organizaram uma força tarefa para realizar uma limpeza a fim de amenizar os estragos causados por uma forte chuva na cidade. Seguindo essa linha, a Defesa Civil do município mantém a população constantemente informada e orientada em casos de enchentes e em relação aos impactos de fortes precipitações na cidade, como uma cheia que afetou o Rio Piracicaba em dezembro do último ano.
Parcerias entre as Defesas e Universidades
Em Campinas, o Diretor da Defesa Civil municipal explica que a instituição e o Centro de Pesquisa em Desastres da Unicamp criaram um projeto de scorecard, isto é, um método usado para avaliar a resiliência da saúde pública analisando as escolas localizadas em áreas de risco. Através dele, é possível determinar as condições destes locais de enfrentarem desastres com base em perguntas e indicadores padronizados.
Essas parcerias também têm impulsionado iniciativas voltadas à capacidade de adaptação climática, como o desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado para chuvas intensas, que partiu da Defesa Civil do Estado de São Paulo. Com o avanço da tecnologia, as cidades podem se preparar melhor para desastres naturais, minimizando perdas humanas e materiais. Um exemplo prático disso é o trabalho realizado pela Unicamp com a Defesa Civil de Campinas em um projeto que utiliza tecnologias como drones e inteligência artificial para aprimorar o mapeamento de áreas de risco.
Em São Carlos, por exemplo, a Defesa Civil trabalha em parceria com algumas universidades para a análise do solo em regiões suscetíveis a deslizamentos, ajudando a definir estratégias de contenção e auxílio às famílias que vivem nessas áreas.
“Possuímos um convênio de Cooperação com a UFSCar, UNESP/IPMet e a Universidade Federal de BH para estudos hidrológicos da cidade de São Carlos. Iniciando um processo de Convênio com USP/EESC/Engenharia Aeronáutica, para aferição dos gases de efeito estufa GEE com sistema de drones”, afirma Pedro Caballero, Diretor da Defesa Civil do município.
O caso de Hellen ilustra a importância da preparação e da conscientização. Investir em infraestrutura e planejamento urbano é essencial, mas a população também precisa estar ciente dos riscos e saber como agir em situações de emergência. Com a colaboração entre a Defesa Civil, universidades, e a participação ativa da população é possível avançar para um modelo de cidade mais preparada para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
S.O.S Mudanças Climáticas
S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.
Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: João Victor Fortunato Barbieri, Isabelle Layara Marques Pereira, Luis Felipe Morosi Gallo, Murilo Pascale Martins de Oliveira e Maria Eduarda Inácio Pereira, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Daniel Targino, Marília Ditolla, Maurício Jr, Victória Gaulke e Vitor Melo, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.
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