
A Polícia Federal realizou três prisões em ações distintas no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Duas mulheres foram detidas ao tentarem embarcar com cápsulas de cocaína escondidas no corpo — parte delas ingerida, parte sob as roupas. Ambas tinham como destino final a França. Um terceiro indivíduo foi capturado por estar com um mandado de prisão em aberto.
A abordagem das duas suspeitas contou com o apoio de cães farejadores. Durante a entrevista com os agentes, as mulheres confessaram ter engolido cápsulas recheadas com cocaína. Uma delas ainda transportava outras 82 unidades ocultas nas roupas íntimas. Elas foram levadas ao Hospital Geral de Guarulhos, onde passam por procedimento médico para a retirada segura da droga. Até a alta hospitalar, permanecerão sob escolta da Polícia Penal do Estado de São Paulo.
O terceiro preso, um homem que não teve a identidade divulgada, foi capturado por ordem da Justiça e será encaminhado a um presídio estadual.
O que são os “mulas” do tráfico
As mulheres presas atuavam como o que se convencionou chamar de mulas do tráfico: pessoas que transportam drogas para organizações criminosas, muitas vezes em troca de quantias relativamente pequenas se comparadas ao valor da carga que carregam. O termo faz alusão ao uso de animais para transporte de cargas pesadas ou ilícitas.
Geralmente, as mulas são recrutadas entre indivíduos em situação de vulnerabilidade econômica ou social. São convencidas — ou coagidas — a transportar entorpecentes em viagens internacionais. Os métodos variam: cápsulas engolidas ou inseridas no corpo, malas com fundos falsos e até próteses e cadeiras de rodas adaptadas. O risco à saúde é alto: caso uma cápsula se rompa dentro do organismo, o resultado pode ser fatal.
O pagamento por esse tipo de atividade varia bastante. Segundo investigações da PF e relatos de detentos, uma mula pode receber entre R$ 5 mil e R$ 15 mil por viagem, dependendo do destino e da quantidade de droga levada. Em alguns casos, há relatos de pagamentos ainda menores, especialmente quando as pessoas são coagidas ou enganadas.
Aumento no número de prisões
O uso de mulas para o tráfico de drogas continua sendo uma estratégia comum de organizações criminosas. Segundo dados mais recentes do Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgados em março de 2024, mais de 1.500 pessoas foram presas por tráfico internacional de drogas em aeroportos brasileiros em 2023, sendo que cerca de 70% dessas prisões envolviam o uso de mulas — ou seja, pessoas que transportavam entorpecentes escondidos no corpo ou na bagagem.
A maior parte das prisões ocorre nos aeroportos internacionais de São Paulo (Guarulhos), Rio de Janeiro (Galeão) e Recife, com destinos frequentes para a Europa, especialmente França, Portugal e Espanha, onde a cocaína sul-americana é vendida por valores muito superiores aos praticados no Brasil.
Além das ações ostensivas, a Polícia Federal vem investindo em tecnologia de escaneamento corporal e intensificando a cooperação com autoridades internacionais para identificar rotas e redes envolvidas nesse tipo de crime.