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Na terça-feira (13), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) publicou a ata da última reunião, que ajustou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual (p.p.), atingindo o maior patamar registrado desde julho de 2006. Segundo o BC, a pressão positiva do mercado de trabalho e da economia interna foram os principais motivadores para o aumento da semana anterior, embora a autarquia avalie que ambos tendem a se arrefecer.
Para os próximos encontros, o BC deixou as novas decisões em aberto. “O Comitê avaliou que o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, escreveu a autarquia.
A afirmação endossa a projeção de especialistas de que a Selic não passará dos 15% ao ano até o final de 2025, valor bem abaixo dos 15,75% que muitos bancos de investimento apontavam no início do ano. Mas, afinal, por qual razão, a expectativa está destoando tanto da realidade?
Cenários são contrastantes
No início de 2025, o contexto econômico era um pouco diferente. O dólar estava na casa dos R$ 6,00, com potencial impacto sobre a inflação. Além disso, havia indícios de crescimento e de juros elevados nos EUA e no resto do mundo. “Isso levou a um consenso de que a moeda americana se fortaleceria ainda mais”, explica Myriã Bast, superintendente de pesquisas econômicas do Bradesco. Ela lembra que apesar do Brasil já estar com a taxa de juros mais restritiva, ela ainda era de 12,25% ao ano.
Em quatro meses o cenário mudou. Até quarta-feira (14), por exemplo, o dólar acumulava uma desvalorização anual de cerca de 10% ante o real. “A política econômica americana mostrou-se mais errática, com redução nas previsões de crescimento, elevação da perspectiva de inflação e muito mais incerteza do que o previsto”, aponta Bas.
Para ela, a guerra comercial protagonizada pelos Estados Unidos desvalorizou o dólar e valorizou moedas emergentes. O conflito desencadeou um efeito dominó. Afetadas pela moeda americana, as commodities perderam valor e o viés de crescimento passou a ser menor para o mercado global. “Esse cenário, aliado à alta incerteza, traz um risco baixista para o avanço da economia doméstica ao longo do tempo”, afirma a superintendente do Bradesco.
Fim do aperto monetário?
Em outras palavras, dá para dizer que os Estados Unidos eclipsou os problemas fiscais internos que havia levado o mercado a projetar uma Selic próxima dos 16%.
Desde setembro de 2024, o BC vem elevando a taxa básica, mas Bast acredita que, com os sinais de desaceleração mais evidentes no segundo semestre, o fim do aperto monetário está cada vez mais perto. “Essa política mais apertada terá seus efeitos cumulativos e defasados mais nítidos a partir de junho. O fator externo tende a ser ainda um vetor adicional para a mesma direção”, diz.
Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, a autarquia já está identificando esses indícios, o que sustenta a decisão de “aguardar e observar”. Embora, assim como o BC, ele ponderou que o ajuste em junho dependerá dos desdobramentos nos cenários interno e externo. No aspecto externo, Megale relembrou a recente valorização do dólar. “Isso proporcionou alguma recuperação nos preços das commodities e, em relação à data da última reunião, o Copom pode já não estar tão confiante em relação às forças desinflacionárias globais”.
Os analistas do Itaú, por sua vez, também acreditam que a tendência é que o ciclo de aperto chegue ao fim. Em análise macroeconômica, divulgada em abril, o banco projetou que esse capítulo final será em junho, com a taxa de juros a 15,25% ao ano. “As expectativas de inflação desancoradas, o hiato positivo, e as projeções do próprio Banco Central seguem indicando a necessidade de seguir avançando com o ciclo de alta de juros em território contracionista”, escreveu o Itaú, que não descarta a possibilidade de que o ajuste final seja inferior a 0,5 p.p. ou não exista.
Para a próxima reunião do Copom, o economista da XP considera que é bastante provável um novo acréscimo de 0,25 p.p. na Selic, chegando a 15% ao ano. Já Álvaro Frasson, economista do BTG, acredita que o último ajuste encerrou o ciclo de alta dos juros, algo compartilhado pelo Banco do Brasil, que acredita que a Selic de 14,75% será mantida até o início de 2026.
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