Em artigo reflexivo, Vilmar Dal Bó comenta a escolha do cardeal Robert Francis Prevost como o novo Papa Leão XIV.

Exauriu-se a fumaça branca — e com ela, a expectativa pelo novo Papa. Habemus Papam: o cardeal Robert Francis Prevost foi anunciado como Leão XIV. A escolha pegou muitos analistas de surpresa, embora setores especializados da mídia, nos dias que antecederam o conclave, já apontassem que seu nome ganhava força.
Ainda assim, a decisão contrariou as previsões de muitos “especialistas midiáticos” — aqueles autodeclarados entendidos em zodíaco, pandemias, guerras e, mais recentemente, nos bastidores do conclave (inspirados, talvez, pela produção cinematográfica Conclave). Pelas redes sociais, essas vozes dividiam-se entre apostas em um Papa progressista ou conservador, deixando claro seus desejos pessoais e inclinações ideológicas. Em muitos desses comentários, a ação do Espírito Santo — que, segundo a fé cristã, conduz a Igreja — era tratada como “apenas um detalhe”.
Mas o Espírito Santo, cujo fruto é também a alegria, agiu ao seu modo: suscitou um norte-americano com almae vivência latina, apreciador de ceviche, cabrito, pato com arroz. Alguém já fotografado tomando cerveja e filmado cantando em festas de fim de ano. Filho do seu tempo, preocupado com a saúde, frequenta academia e pratica tênis.
Aos que atribuíam ao Papa Francisco muito carisma pastoral, mas pouca densidade teológica, o novo Papa surge como um equilíbrio: agostiniano, seguidor de Santo Agostinho — filósofo, teólogo, doutor da Igreja. A Leão XIV não se poderá atribuir desconhecimento doutrinário nem pouca experiência pastoral.
A escolha do nome Leão XIV aponta um rumo. É um sinal da mística e da visão eclesiológica que deve marcar seu pontificado, retomando caminhos abertos por Leão XIII e também pelo Papa Francisco. Leão XIII, vale lembrar, foi o grande marco da sistematização do pensamento social da Igreja com a encíclica Rerum Novarum, de 15 de maio de 1891. No documento, denunciava a exploração dos operários e defendia sua organização em sindicatos, em um contexto de industrialização que sacrificava a dignidade humana.
Se Leão XIV seguir os passos de seus predecessores, seu pontificado deve insistir na dimensão social da fé, na atenção aos mais vulneráveis, no empenho pela cultura da paz e na promoção de uma Igreja em permanente estado de missão — sinodal, misericordiosa, aberta.
Até o momento, é possível afirmar, com leveza e convicção: temos um Papa “loco por ti, América”.
Vilmar Dal Bó é teólogo e Doutor em Ciências Econômicas e Políticas.