Empresas Chinesas Anunciam Investimento de R$ 27 Bilhões no Brasil

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O governo brasileiro anunciou nesta segunda-feira (12) que a China investirá R$ 27 bilhões no país. Segundo o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), Jorge Viana, as cifras são de diferentes setores, como automobilístico, energético e alimentício. Desde domingo (11), autoridades brasileiras e o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, estão em Pequim para uma visita oficial, que visa estreitar as relações entre os países, em meio à guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos.

“Se depender do meu governo e se depender da minha disposição, Brasil e China serão parceiros incontornáveis. A nossa relação será indestrutível, porque a China precisa do Brasil e vice-versa. Nós dois juntos poderemos fazer com que o sul global seja respeitado no mundo como nunca foi”, disse Lula ao encerrar o Fórum Empresarial Brasil-China. Na terça-feira (13), Lula e o presidente da China, Xi Jiping, se reunirão. A expectativa é que novos acordos bilaterais sejam assinados.

Antes de chegar à potência asiática, a comitiva passou pela Rússia, onde o presidente brasileiro se reuniu com Vladimir Putin e pediu novo cessar-fogo na Ucrânia.

Os investidores e os seus investimentos

Confira algumas das empresas chinesas que farão parte do pacote bilionário:

  • Baiyin Nonferrous: a mineradora já tem uma mina de cobre Serrote no Alagoas e pretende investir R$ 2,4 bilhões;
  • CGN: a empresa estatal de energia nuclear deseja construir um centro de energia eólica e solar no Piauí, por meio de um montante de R$ 3 bilhões;
  • Enivision: com R$ 5 bilhões, a companhia deseja criar o primeiro complexo industrial neutro de emissões de carbono da América Latina no país;
  • Great Wall Motors (GWM): montadora desembolsará R$ 6 bilhões, com o intuito de expandir suas operações no território brasileiro;
  • Meituan: através do aplicativo Keeta, a plataforma de delivery pretende gerar 4 mil novos postos de trabalho diretos e 100 indiretos, investindo R$ 5 bilhões;
  • Mixue: até 2030, a rede de bebidas e sorvetes quer operar no Brasil, gerando 25 mil empregos, com um montante de R$ 3,2 bilhões.

Parte do valor investido também é composto pela DiDi, dona da 99, que recentemente anunciou que ampliará sua operação no Brasil, desembolsando R$ 1 bilhão. Além dela, a Longsys, uma empresa que produz semicondutores, investirá R$ 650 milhões para aumentar sua produção nos estados do Pará e de São Paulo. Hoje, de acordo com dados do governo federal, o Brasil só possui fábricas que fazem a finalização dos produtos, sem desenvolvimento de tecnologia.

Oportunidade para o agro

Dos cerca de 200 empresários que acompanham a comitiva presidencial, mais de 150 são de setores da agropecuária, que vão da tradicional soja às frutas, passando pela proteína animal. A visita oficial é vista como uma oportunidade, porque, além do fato da China ser o principal importador do Brasil, a tensão comercial travada com os EUA pode abrir novas oportunidades para produtos brasileiros.

“Com as tarifas do jeito que estão, naturalmente os Estados Unidos nesse momento estão fora da competitividade de mandar a carne de frango para lá. No caso de carne suína, Brasil e Estados Unidos são o segundo e o terceiro principais com um market share exatamente igual”, disse à Reuters o secretário de Comércio e Relações Exteriores do Ministério da Agricultura, Luís Rua. “Se a China requerer do Brasil, o país se coloca à disposição.”

De acordo com dados do ministério, o Brasil já é responsável por cerca de 50% da carne de frango comprada pela China, enquanto os EUA ocupam 30% desse mercado. Já no segmento de carne de porco, os dois países têm, cada um, cerca de 16% do total. O governo brasileiro tem trabalhado para habilitar novas plantas de suínos e frangos, e também trabalha para autorizar a exportação de miúdos para o país asiático.

Outro mercado que pode ser uma oportunidade, em meio às tarifas, é o de sorgo. Ruas aponta que 83% do grão vendido no mundo é comprado pela China, e 45% do que os chineses compram são dos Estados Unidos. Dados da Conab mostram que o Brasil produziu 4,42 toneladas de sorgo em 2024 e a área plantada cresceu 2,9%. O número ainda está longe do suficiente para abastecer a China, mas é promissor, segundo Rua. “Teria uma curva para que a gente possa chegar nesses patamares, mas é uma janela que se abre. Eu costumo dizer que ninguém começa exportando milhões e milhões. Algumas vezes se começa exportando um contêiner”, disse. A expectativa da missão brasileira em Pequim é voltar com acordos assinados.

Entre eles, está a exportação dos chamados Grãos Secos de Destilaria, (DDG, na sigla em inglês), um coproduto da produção de etanol de milho, e o próprio etanol. Rua e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ficarão no país até o dia 21, com visitas não apenas em Pequim, mas em Xangai, Hangzhou e Kunshan, incluindo eventos nas áreas de café, proteínas, frutas e na maior feira de alimentos da China.

Nova visita

Xi já tem data para retribuir a visita do presidente Lula. Ela está agendada para julho e deve ser marcada por anúncios de investimento em infraestrutura. Desde a sua última vinda, o governo chinês vem analisando todas as oportunidades de investimento em obras no Brasil, segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho. A expectativa é que a China escolha os projetos em que tem especial interesse em investir e que as prioridades no setor sejam anunciadas durante o encontro bilateral entre Lula e Xi na terça.

“Nós vamos assinar todos os projetos que possuem sinergia rodoviária e ferroviária com potencial para ampliar exportação para a China, especialmente agro, mas também outras coisas, como minério”, disse o ministro em entrevista à Reuters. “Pode ser que eles não anunciem imediatamente quais serão os projetos que pretendem participar. Eles estão olhando tudo que tem sinergia com o projeto de crescimento do comércio entre Brasil e China”, acrescentou.

Entre as obras listadas pelo ministro como de interesse chinês estão a ferrovia de escoamento da produção de commodities em Açailândia (MA) até o porto de Barcarena (PA); o anel ferroviário do Sudeste, com a ligação entre Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo; a malha de ligação ao porto de Santos e ao porto de Açu; as integrações Centro-Oeste e Leste-Oeste; e a interligação do Brasil com o porto de Chancay, no Peru — já construído pelos chineses.

Na semana passada, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, comentou que o Brasil está em diálogo com a China para a construção de uma rota de ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico, saindo do porto de Chancay e percorrendo o território brasileiro até a costa da Bahia.

Sinergias

As negociações entre Brasil e China avançaram depois que, em 2024, durante a visita de Xi a Brasília, os dois países chegaram a um acordo de parceria no que foi chamado de “sinergias” de desenvolvimento em quatro áreas que interessam especialmente ao Brasil: as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Rotas de Integração, a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transição Ecológica.

O acordo foi fechado depois que o Brasil decidiu não participar do programa chinês da Nova Rota da Seda, o programa de investimentos chineses em infraestrutura no mundo, depois de anos de pressão de um lado e resistência do outro. De acordo com uma fonte diplomática ouvida pela Reuters, a visita Lula a Pequim deve ser o início da consolidação dessas “sinergias”, ou seja, a hora de começar a tirar do papel o que vem sendo conversado desde novembro de 2024.

O governo brasileiro espera ver crescer os investimentos chineses no país, que entre 2007 e 2023 chegaram a US$ 73,7 bilhões (R$ 417,14 bilhões ), em 264 projetos, a maioria na área de energia. De acordo com levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CECB), em 2023, os chineses investiram US$ 1,73 bilhão (R$ 9,79 bilhões), um aumento de 33% em relação ao ano anterior, mas ainda o segundo menor desde 2007.

“A área que mais recebe estoque de investimento de projetos chineses aqui no Brasil é a área de energia elétrica. Ela ainda está aquém do potencial que a gente tem de cooperação na área de ferrovias”, disse à Reuters o diretor de pesquisa do CECB, Túlio Cariello. “O Brasil também tem potencial para atrair esses projetos. E vejo que tem interesse chinês”, acrescentou.

 

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