A deficiência de ferro continua sendo uma das principais causas de anemia no Brasil, especialmente entre mulheres em idade fértil, gestantes e crianças. No entanto, a solução mais comum — a suplementação — tem sido utilizada de forma indiscriminada, o que pode acarretar sérios riscos à saúde. A nutricionista Suiam M. G. Mazzarollo, especialista em fertilidade feminina e saúde da mulher acima dos 40 anos, chama a atenção para o uso inadequado de suplementos com ferro, muitas vezes sem qualquer avaliação laboratorial.
“Ferro em excesso também adoece. Pode parecer inofensivo tomar um polivitamínico com ferro, mas isso interfere no metabolismo de outros nutrientes, gera inflamação e até aumenta o risco de doenças como diabetes e câncer de cólon”, alerta Suiam.
Ela explica que a alimentação pode, sim, ser suficiente para corrigir níveis baixos de ferro quando ainda não há anemia instalada e os estoques estão apenas levemente reduzidos. “Se a causa da deficiência for corrigida e a alimentação for ajustada — com carnes, feijão, frutas cítricas e evitando café nas refeições —, é possível normalizar os níveis em poucas semanas”, afirma.
Por outro lado, a nutricionista aponta que muitos pacientes chegam ao consultório já fazendo uso de suplementos por conta própria ou por prescrição sem respaldo em exames. “É comum encontrar mulheres tomando ferro sem saber se realmente precisam. Isso não só mascara sintomas de outras doenças como compromete a absorção de zinco e cálcio, essenciais para imunidade, fertilidade e saúde óssea.”
O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), estabelece diretrizes claras para a suplementação de ferro, visando prevenir a anemia ferropriva em grupos vulneráveis. Conforme o manual de condutas gerais do PNSF, a suplementação profilática é indicada para:
- Crianças de 6 a 24 meses: devem receber 10 a 12,5 mg de ferro elementar diariamente em dois ciclos intermitentes de três meses cada, com intervalos de três meses entre os ciclos.
- Gestantes: a partir da 20ª semana de gestação, é recomendada a suplementação diária de 40 mg de ferro elementar até o final da gestação,
- Mulheres no pós-parto ou pós-aborto: devem receber 40 mg de ferro elementar diariamente até o terceiro mês após o parto ou aborto.
Essas recomendações visam atender às necessidades aumentadas de ferro nesses períodos críticos e prevenir a anemia ferropriva.
Além disso, o Manual MSD, usado por médicos de todo o mundo, destaca que a suplementação de ferro é essencial em casos de anemia ferropriva diagnosticada, sendo geralmente administrada por via oral. A correção da anemia com suplementos de ferro geralmente leva de três a seis semanas, e o tratamento continua por seis meses após a normalização das contagens sanguíneas para repor completamente as reservas do corpo. Em casos onde são necessárias grandes quantidades de ferro ou quando a pessoa não tolera a ingestão oral, o ferro pode ser administrado por via intravenosa.
Suiam enfatiza a importância de uma abordagem integrada no sistema público para prevenir a anemia ferropriva, baseada em três pilares:
- Educação alimentar em saúde pública: incentivando o consumo regular de alimentos fontes de ferro (carnes, leguminosas) combinados com vitamina C (frutas frescas) e evitando inibidores de absorção como café e chá nas refeições principais.
- Fortificação de alimentos básicos: como farinhas e cereais, com ferro biodisponível, estratégia já adotada no Brasil, mas que requer revisão quanto à forma química utilizada.
- Triagem nutricional periódica em grupos de risco: como gestantes, puérperas, lactentes, mulheres com fluxo menstrual intenso e adolescentes, com suplementação direcionada conforme ferritina e hemograma.
“A suplementação precisa ser criteriosa, baseada em exames como ferritina e hemograma, e com formas de ferro mais toleráveis, como o bisglicinato quelato. Não dá mais para tratar todas as mulheres como se tivessem a mesma necessidade”, conclui Suiam.
Além de nutricionista, Suiam também é piloto de avião e acredita que corpo, mente e fé devem estar em sintonia para grandes realizações — inclusive a de gerar uma nova vida. Criadora do método JANELA, ela acompanha mulheres que enfrentam dificuldades para engravidar, com foco em saúde integral e bem-estar feminino.