Violência patrimonial é um tipo de infidelidade?

Quando refletimos juntas aqui sobre a infidelidade financeira, deixei um convite a você: o de começar a olhar a sua vida financeira. Lembra-se de quando conversamos sobe o amor não conseguir resolver tudo? E sobre como a incapacidade de usufruir do próprio dinheiro reflete na autonomia e independência?

Violência patrimonial é um tipo de infidelidade? Na foto: casal cara a cara discutindo

Violência patrimonial também é um tipo de infidelidade? — Foto: Freepik/Divulgação/ND

Nas últimas semanas, temos ouvido mulheres falarem na mídia sobre terem sofrido violência patrimonial. Você sabe o que isso significa?

Nem toda infidelidade financeira é considerada violência patrimonial, mas toda violência patrimonial envolve algum tipo de infidelidade financeira!

Infelizmente, observamos uma recorrência preocupante tanto na mídia, quanto nos escritórios de advocacia, nos meus atendimentos online no sexosemduvida e no meu consultório particular de psicologia e sexologia: mulheres que, devido à crença na narrativa romântica das relações, negligenciam a questão financeira, deixando-a sob os cuidados do homem.

Isso pode ocorrer tanto por confiança no parceiro quanto por questões de gênero que perpetuam a ideia de que dinheiro é exclusivamente “responsabilidade do homem”.

Como identificar a violência patrimonial?

É importante ressaltar que a intenção da nossa reflexão hoje não é, de forma alguma, responsabilizar a mulher, mas sim fornecer informações e conhecimentos essenciais para a desconstrução de padrões de violência.

Reconhecer e nomear essas situações é crucial para combater as violências.

Mulher de óculos lê documentos importantes e controla finanças, fala via smartphone com o cliente, trabalha no laptop e no marido gerencia finanças, conta o orçamento familiar

As mulheres em relacionamentos cisheteronormativos são as que mais sofrem com esse tipo de ação – Foto: Freepik/Divulgação/ND

Gostaria de lembrar que esta coluna não busca apenas entreter, mas também informar. Só que não é um espaço de tratamento psicológico.

Para um processo psicoterápico adequado em situações de violências e infidelidades, recomendo que busque uma psicóloga registrada. Dessa forma, você poderá construir sua autonomia e independência de forma saudável e segura.

As mulheres em relacionamentos cisheteronormativos são as que mais sofrem essa forma de violência. Por isso, vou me referir ao parceiro na linguagem utilizada.

No entanto, é importante ressaltar que as violências domésticas também podem ocorrem em relacionamentos entre duas mulheres.

Seu parceiro controla seu dinheiro?

Você já foi impedida de trabalhar? Teve seus pertences, roupas e/ou documentos destruídos? Teve seu acesso ao seu próprio dinheiro negado? Senhas bancárias foram trocadas sem sua permissão?

Pessoa com notas de cem e cinquenta reais na mão

Essa atitude é um crime e o agressor pode e deve ser denunciado. — Foto: Foto: Agência Brasil

É fundamental saber que o controle financeiro exercido pelo parceiro sobre a mulher constitui uma forma de violência, a patrimonial, prevista na Lei Maria da Penha.

Esta lei oferece amparo legal para as vítimas de violência patrimonial, assim como para outros tipos de violência doméstica, como a física, psicológica, sexual e moral. É crime e o agressor pode e deve ser denunciado.

Na letra da lei:

“DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

IV – A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”

Sugiro que acesse este link e leia a Lei Maria da Penha na íntegra. Lembre-se de que o conhecimento é libertador!

Essa é uma violência silenciosa

Conceitualmente, a Violência Patrimonial é um tipo de violência que ocorre quando há danos ou prejuízos materiais causados por um agressor à vítima, muitas vezes em um relacionamento íntimo, como no contexto de violência doméstica ou familiar. É uma forma de violência silenciosa e mina a integridade de muitas mulheres.

Comportamentos como, por exemplo, destruir objetos pessoais da vítima, restringir o acesso dela a recursos financeiros, coagi-la a assinar documentos financeiros, roubar seus bens ou causar danos ao carro, ou residência, são utilizados pelo agressor para exercer poder e controle sobre a vítima.

Mulher triste, sozinha, sentada no chão

Atitude é uma forma de violência silenciosa e mina a integridade de muitas mulheres. — Foto: iStock/Ahmet Yarali/ND

Tudo isso causa danos emocionais e psicológicos além dos prejuízos materiais.

O relacionamento não pode ser o único pilar da vida da mulher. É importante que você tenha sua vida, inclusive financeira, mesmo que isso não seja considerado “romântico”.

Seja sempre protagonista! Seu dinheiro não apenas proporcionará independência e liberdade, mas também uma melhor qualidade de vida. Sua fonte de renda não deve ser negociável. É fundamental conhecer seus direitos.

Busque ajuda: denuncie!

Reforço a importância da denúncia. Revelar a violência patrimonial pode ser difícil e assustador, mas é um passo crucial para proteger a si e a outros que estejam em perigo.

Se possível, busque apoio de amigos, familiares ou profissionais treinados para ajudá-la durante esse processo.

Foto de uma sirene de polícia vermelha e azul

Se você se identificou com algumas situações nesta conversa, busque apoio psicológico especializado e os seus direitos legais. — Foto: PMSC/Divulgação/ND

Consulte uma advogada para te ajudar em tomadas de decisões e tenha sua psicóloga para lidar como tudo isso se dá na prática. Sim, dinheiro e emoções caminha juntos, e a violência patrimonial vem geralmente acompanhada de violência psicológica.

Onde procurar ajuda?

Se você se identificou com algumas situações nesta conversa, busque apoio psicológico especializado e os seus direitos legais.

Procure ajuda, ligue 180 (central de atendimento à mulher) ou procure uma delegacia da mulher. Em situação de vulnerabilidades você pode também ter apoio jurídico e psicológico no Portal Mapa do Acolhimento.

Você não está sozinha!

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