Em seu artigo, Rafael Ary comenta a perda de credibilidade da UFSC e questiona a adoção de cotas para ingresso na residência médica em dermatologia da Universidade.

A UFSC já foi sinônimo de competência e credibilidade. Um diploma da Universidade abria portas, um selo de qualidade inquestionável. Hoje, a sociedade catarinense encara a instituição com desconfiança. E com razão. Afinal, paga caro para sustentá-la. Quando a falta de papel higiênico vira manchete, é evidente que algo não cheira bem na administração.
Recentemente, outra notícia inflamou o debate: as duas vagas de residência médica em dermatologia da UFSC foram preenchidas por cotistas. A reação foi imediata: revolta e indignação. E uma pergunta inevitável: faz sentido haver cotas para médicos já formados?
A residência médica é a etapa mais crítica da formação de um médico. É ali que o profissional assume responsabilidades diretas sobre vidas humanas, consolidando competências clínicas e técnicas essenciais para toda a carreira. Por isso, o processo seletivo deve ser rigoroso, técnico e pautado exclusivamente no mérito.
Introduzir cotas para minorias nesse nível ameaça um pilar da medicina: a excelência baseada em conhecimento e capacidade. Um exemplo concreto expõe o problema: candidatos com notas 61/100 e 58/100 foram aprovados, enquanto outro, com 80/100, ficou de fora. Isso não é apenas uma questão de justiça no processo seletivo, é uma preocupação real com a qualidade da formação e da assistência à população.
A residência não é só um curso. É onde especialistas, ainda sob supervisão, atuam em ambientes de alta complexidade, plantões, emergências, tomando decisões críticas. A aptidão técnica no ingresso é crucial para a segurança do paciente e o funcionamento do sistema de saúde. Erros nesse estágio não são apenas acadêmicos, têm consequências reais.
Os candidatos que chegam à residência já passaram por graduação, estágios e internato, com acesso a políticas de inclusão ao longo do caminho. Nesse ponto, o que importa é a capacidade comprovada de lidar com a pressão e a responsabilidade da prática médica. Vidas estão em jogo. E não há margem para concessões.
Preservar o mérito como critério central é assegurar que a UFSC volte a ser referência e que seus médicos estejam plenamente preparados para oferecer o melhor cuidado. Qualquer desvio disso compromete não só a Universidade, mas a saúde de quem depende dela.
Rafael Ary é professor da UFSC e presidente do Novo de Florianópolis.