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Os Estados Unidos e a China chegarão em algum momento a um acordo para encerrar a guerra comercial, o que pode respingar sobre o agronegócio brasileiro, que atualmente está vendo maior demanda de chineses por conta da disputa tarifária, disse nesta terça-feira o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
“Na minha visão, vai haver acomodação. Geralmente aparece alguém para fazer acordo, e assim vai ser o acordo entre os Estados Unidos e a China”, afirmou João Martins, durante evento Cenário Geopolítico e Agricultura Tropical, promovido pela entidade em São Paulo.
Ele ponderou que o cenário ainda está confuso e incerto e falou em cautela para o agronegócio, ainda que no momento o Brasil esteja ampliando sua fatia nas importações de soja pela China, que retaliou com tarifas “proibitivas” as taxas dos EUA.
A diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, lembrou que as tarifas atuais são um impeditivo de comércio entre as duas maiores economias do mundo, e concordou que algum tipo de acerto vai ser feito.
Ela explicou que, na hipótese de um “acordo de compras” entre os dois países, o Brasil seria afetado, apesar da competitividade do agronegócio brasileiro.
“Eles estão trabalhando ainda não oficialmente, mas o mundo entende que deve acontecer algum tipo de acordo. Um possível acordo entre os dois, isso realmente poderia ter um prejuízo para o agro brasileiro”, disse ela. “Ou pelo menos essa janela de oportunidade ficaria complicada…”
Mori disse que “um acordo de compras implica em oferta e demanda não natural, seria algo não baseado em eficiência”, e é isso que o produtor nacional precisa ficar atento.
No primeiro governo Trump, um pacto entre EUA e China exigiu que o país asiático aumentasse as compras de exportações dos EUA em US$200 bilhões ao longo de um período de dois anos, mas Pequim não conseguiu cumprir suas metas em meio à pandemia da Covid-19.
Durante sua fala no evento, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion, também comentou sobre temores de que o Brasil saia prejudicado caso seja feito um grande acordo entre China e EUA, concorrentes do Brasil nas exportações agropecuárias.
A senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, destacou que a China está se preparando para enfrentar esse período de guerra comercial, importando grandes quantidades de produtos agrícolas, não somente do Brasil.
“A exportação de carnes e soja (do Brasil) está com números muito significativos”, disse ela, acrescentando que a China tem grande capacidade armazenamento e está fazendo uso disso.
O Brasil, por outro lado, aumentou sua participação nas vendas de produtos do agronegócio, como a soja, para a China, desde a primeira disputa comercial entre os dois países.
Mori, da CNA, ressaltou que o “pragmatismo do agro brasileiro acaba sendo bem visto”, já que o país aparece como um “parceiro confiável” nestes momentos, como foi na guerra comercial do primeiro governo Trump, pela sua competitividade.
“O fato é que a gente acaba mandando, se a gente souber usar essas janelas de oportunidades, essas aberturas de demanda, o Brasil faz isso bem, o Brasil tem condições de mexer na produção e se adaptar”, comentou Mori.
Plano Safra
Martins, da CNA, disse que a incerteza gerada pela guerra comercial ocorre em momento de maior custo para empréstimos, com o governo brasileiro não tendo recursos suficientes para bancar programas como o de subsídios ao prêmio do seguro rural.
“Vamos ter problema muito sério do médio produtor para baixo, o grande produtor já entendeu que precisa ser autossuficiente”, disse ele.
A afirmação foi feita em momento em que estão sendo negociadas as bases do próximo Plano Safra, que será válido a partir de julho para a temporada 2025/26.
O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, disse que após um ano de quebra de safra em 2024 as margens de produtores começaram a melhorar em 2025, com o custo mais “equilibrado” e uma maior produção.
Mas isso não será suficiente para o agricultor brasileiro bancar uma parte maior de seus custos e investimentos, disse ele.
“Do lado do governo, vemos que vai ter dificuldades para ter mais recursos com taxas acessíveis, então resta ao mercado privado suprir essa demanda“, afirmou, lembrando que a CNA tem algumas propostas para melhorar o ambiente de financiamentos, como alterações na rentabilidade da LCA e na maior exigibilidade de recursos das instituições financeiras para o agronegócio.
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