O Storytelling por trás dos Vinhos de Luxo Latino-Americanos

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No competitivo mercado global de vinhos de luxo, tradição e excelência técnica já não bastam: é preciso contar boas histórias. O storytelling se consolidou como uma ferramenta estratégica para vinícolas da América Latina que buscam disputar espaço em um segmento tradicionalmente dominado pela Europa. Elementos como origem, cultura local, exclusividade e simbolismo são mobilizados para criar vínculos emocionais com o consumidor e agregar valor ao produto.

O caso do Almaviva, rótulo chileno fruto da parceria entre a Concha y Toro e a Baron Philippe de Rothschild S.A., é um dos exemplos mais emblemáticos desse movimento. Mas ele não é um ponto isolado: faz parte de uma transformação mais ampla que redesenha a percepção dos vinhos latino-americanos no universo do luxo.

A força da narrativa: mais que um vinho, uma experiência

“O consumidor de alto padrão busca mais do que um produto. Busca uma experiência”, resume Felipe Feliu, diretor do Almaviva. Segundo ele, a qualidade técnica é essencial, mas sozinha não sustenta o prestígio de um vinho de luxo. É o conjunto da obra — história, símbolos, tradição e terroir — que transforma a experiência de consumo em algo memorável.

Feliu destaca que, no mundo dos vinhos de luxo, a emoção é tão importante quanto a técnica. “Eu posso descrever um vinho por cinco horas, mas, se ele não te convencer no aroma, no paladar, no visual — ou seja, nas sensações —, não vai adiantar. É isso que vai te fazer decidir: ‘Gosto ou não gosto, é bom ou ruim.’ E aí entramos em outra discussão eterna: o que é um vinho bom ou um vinho ruim? No fim, o melhor vinho é o que você mais gosta”.

O storytelling, nesse contexto, atua como um portal que conecta o consumidor à alma do produto. Não se trata apenas de descrever notas de frutas ou taninos, mas de inserir o vinho em uma narrativa emocional e identitária. O consumidor de luxo não busca apenas degustar — ele deseja fazer parte de uma história, carregar consigo o prestígio e os valores que o rótulo representa.

Tradição como âncora de credibilidade

A tradição é um dos pilares mais sólidos no storytelling dos vinhos de luxo. No Almaviva, isso aparece na própria estrutura do projeto, que replica a lógica dos grandes crus franceses, e na escolha do terroir: Puente Alto, região reconhecida como uma das melhores do mundo para a produção de Cabernet Sauvignon.

Ao buscar inspiração nos châteaux da França sem abandonar sua identidade latino-americana, o Almaviva consegue transitar entre dois imaginários de prestígio. “Queremos refletir a união entre culturas, entre terroirs, entre o Velho e o Novo Mundo”, explica Feliu. Essa construção narrativa fundamentada na tradição ajuda a criar familiaridade para o consumidor global, ao mesmo tempo que reforça a autenticidade do projeto.

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Felipe Feliu: “Um nome forte e um símbolo marcante ajudam a criar uma conexão imediata com o consumidor”

Origem como diferencial competitivo

Em um mercado onde o luxo é frequentemente associado a regiões europeias, assumir a origem latino-americana pode parecer um desafio — mas para marcas como Almaviva, tornou-se um ativo estratégico. A narrativa construída em torno do terroir chileno transforma a tipicidade local em valor agregado.

Ao invés de tentar se “europeizar”, o Almaviva assume e celebra sua identidade chilena. “Nunca vamos nos afastar da nossa raiz latino-americana e chilena”, afirma Feliu. O terroir de Puente Alto é exaltado como fonte de excelência para o Cabernet Sauvignon, mostrando que o Novo Mundo também é capaz de produzir vinhos com capacidade de guarda e complexidade comparáveis às melhores referências europeias.

Símbolos que contam histórias

O nome e o rótulo são outros elementos centrais no storytelling dos vinhos de luxo. No caso do Almaviva, o nome foi extraído da peça O Casamento de Fígaro, de Pierre de Beaumarchais, com a caligrafia original do autor impressa na garrafa. A dimensão artística e literária reforça o vínculo com a tradição cultural europeia.

Já o símbolo presente na garrafa, inspirado na cosmovisão indígena chilena, estabelece uma ponte com as raízes latino-americanas. “O símbolo reflete os pontos cardeais, as estações do ano e o ciclo solar”, explica Feliu. Essa fusão entre heranças culturais transforma a identidade visual do vinho em uma poderosa narrativa gráfica que comunica exclusividade, tradição e pertencimento.

Esses elementos visuais e simbólicos não são apenas adornos: eles funcionam como dispositivos de storytelling silencioso, transmitindo mensagens sobre origem, herança e identidade. Em um universo onde o rótulo é o primeiro contato do consumidor com o produto, cada detalhe visual precisa reforçar a história que se quer contar.

Exclusividade: o luxo na prática

A técnica de encantar pela narrariva também se manifesta na forma como o produto chega ao consumidor. A distribuição seletiva pela Place de Bordeaux — um circuito exclusivo reservado a grandes vinhos — ajuda a reforçar a percepção de raridade e prestígio. Volumes limitados, rigoroso controle de produção e apresentação impecável da vinícola complementam a estratégia.

Segundo Feliu, transmitir a sensação de unicidade é um trabalho que envolve atenção a cada detalhe, da qualidade do vinho à experiência de visitação. “Exclusividade, elegância e consistência são os valores que buscamos transmitir em cada ponto de contato”, afirma. Nesse cenário, o storytelling não é apenas uma ferramenta de marketing, mas um elemento intrínseco da vivência de luxo.

Um novo capítulo para os vinhos latino-americanos

A trajetória do Almaviva demonstra como o storytelling pode ser decisivo para reposicionar vinhos latino-americanos no mercado global de luxo. “O sucesso não se baseia apenas na qualidade, mas também no valor simbólico que o vinho carrega”, resume Feliu.

Essa combinação de excelência técnica com narrativas potentes tem permitido que rótulos latino-americanos deixem para trás o estigma de serem apenas boas opções de custo-benefício. Hoje, eles se afirmam como produtos de altíssima gama, capazes de emocionar consumidores exigentes e disputar espaço entre os grandes nomes do mundo do vinho.

À medida que mais vinícolas da região investem em histórias autênticas e identidades bem construídas, o continente redefine seu papel no cenário global. Se antes o luxo parecia reservado às tradições europeias, hoje os vinhos latino-americanos mostram que têm alma, terroir e narrativa suficientes para escrever seu próprio capítulo dourado.

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