A importância da cor da camisa. (Ou a politização e as bets).

Foto: Reprodução/africanize

O cidadão brasileiro médio só aprende cinco por cento do que deveria, em matemática; escreve mal o português; ganha salários miseráveis e só uma pequena minoria tem esgoto tratado.

Esses são assuntos sérios, sobre os quais a sociedade não fala. O debate é sobre a cor da camisa que a seleção de futebol do Brasil poderá, ou não, usar. Estamos acostumados a ver os jogadores com a amarela. Alternativamente, com a camisa na cor azul.

Esta semana surgiu uma proposta de também poder usar camisa na cor vermelha. Foi o que bastou para o grupo radical da extrema direita xingar nas redes sociais. Shakespeare, o imortal dramaturgo inglês, escreveu uma peça intitulada “Muito barulho por nada”. Claro, é um texto de uma outra época e num contexto sociopolítico bem distinto do Brasil de 2025.

No entanto, dar relevância a questões irrelevantes sempre foi próprio do ser humano. Talvez para não ter de refletir sobre aspectos mais áridos do cotidiano. No caso da cor da camisa da seleção brasileira, a politização serve, apenas, para ativar a cultura do ódio, já disseminada por causa de falas e práticas políticas com propósitos pouco democráticos.

Um agrupamento político tenta, há alguns anos, se apropriar do verde e amarelo, como se essas fossem suas as cores do país. Não são. São as cores de todos.

Essa semana, a CBF e seus fornecedores ousaram variar. Propõem, como terceiro uniforme, a cor vermelha na camisa.

Qual é o problema? Por que o PT, desde sempre, utiliza a cor vermelha para se distinguir e ser identificado?

Se a cor vermelha for mesmo oficializada pela CBF, será apenas mais um uniforme. Nada além disso. E já estamos num meio — o do esporte — que alimenta bilhões de reais. A introdução de uma nova cor no uniforme da seleção brasileira permitirá que o torcedor escolha: quer comprar a linda e tradicional amarela; prefere a da cor azul; ou pretende inovar e sair vestido de vermelho.

A razão logicamente verdadeira para a CBF sugerir a camiseta da cor vermelha está ligada a negócios. E somente a negócios. Os fabricantes, e seu marketing poderoso, poderão alcançar algumas mentes que confundem cor de camisa com política e partido político. A seleção brasileira, a CBF, os clubes e todo o futebol brasileiro já estão contaminados pela praga das apostas via internet — as bets.

Estas, sim, fazem mal. Elas empobrecem o povo. Alguns dados ajudam a compreender o que acontece. Os brasileiros gastaram R$ 90 bilhões, só nos três primeiros meses deste ano, apostando em jogos de azar virtuais.

São R$ 30 bilhões por mês, que deveriam ter sido utilizados para comprar comida, livros, remédios e fazer aplicações financeiras, mas que foram parar nos bolsos de alguns espertos e já ricos empresários do jogo de azar. Pesquisa da Bain & Company revela: mais de um quarto dos brasileiros (26 por cento) estão economizando menos para jogar nas bets.

Onde o resultado do jogo de futebol já não importa. O que importa é o número de escanteios, de expulsões dos jogadores… A pesquisa da consultoria mostra mais: 16 por cento dos entrevistados declararam estar gastando menos dinheiro com compras de itens essenciais para poder apostar. Pior ainda: outros 16% fazem dívidas e/ou pedem dinheiro emprestado para jogar nas bets.

Diante dessa realidade constrangedora, os extremistas estão preocupados?

Claro que não. Questões sociais não importam. O que importa é incentivar a polarização política para fazer “cortes” para o Instagram. E usar estes “cortes” na campanha eleitoral de 2026. Os políticos já estão em pré-campanha. Não nos deixemos cair na tentação de seguir o que dizem. Uma sociedade livre tem o direito de escolher o que quer para si. Inclusive de usar a camisa que quiser: amarela, azul, vermelha. Ou de qualquer outra cor.

Não ao radicalismo, de qualquer extremidade, e sim à moderação e civilidade.

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