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Neste sábado (26), o mundo lamenta a perda de um Papa que levantava a bandeira e vestia a camisa das causas sociais. Francisco buscava a contribuição da comunidade empresarial sobre como superar a exclusão social e econômica. Esse diálogo ocorreu pouco depois que ele escreveu a Evangelii Gaudium (em português, “A Alegria do Evangelho”), na qual reza por mais políticos capazes de promover um “diálogo político sincero e eficaz” voltado para enfrentar as barreiras sociais e econômicas que ameaçam nossas sociedades, em todas as geografias, filosofias políticas e econômicas e estilos de vida.
O Papa vai além ao defender uma “nova mentalidade política e econômica que ajude a derrubar o muro de separação entre a economia e o bem comum da sociedade”. Mas por que deveria existir um muro separando a economia do bem comum da sociedade?
Essa percepção de uma economia global em duas velocidades — beneficiando com generosidade uma “minoria móvel”, aparentemente às custas da maioria imóvel — é a principal razão pela qual o Edelman Trust Barometer deste ano, relatório global sobre confiança em instituições publicado anualmente pela agência Edelman, constatou que 61% dos entrevistados em todo o mundo acredita “que o governo e as empresas tornam suas vidas mais difíceis e servem a interesses restritos, e que pessoas ricas se beneficiam de forma injusta do sistema”.
É essa sensação pública amplamente difundida, de que muitos estão do lado de fora da padaria olhando para dentro, que tem minado a estabilidade política e a ordem social. A “separação entre a economia e o bem comum” a que o Papa se referia ocorre após um período de hiper-globalização durante o qual, para muitos, a criação de riqueza passou a ser vista como um fim desejável em si mesmo. No entanto, a riqueza não deve ser um fim em si, mas sim o resultado da geração de valor real.
]Para serem sustentavelmente bem-sucedidos, líderes empresariais precisam criar grandes produtos que melhorem a vida, novos serviços que ampliem as possibilidades dos consumidores ou grandes ideias. Assim, a riqueza virá como consequência. John Kay, o diretor fundador da escola de negócios da Universidade de Oxford, na Inglaterra, chama isso de “obliquidade” e argumenta que a felicidade não pode ser encontrada ao se buscar desesperadamente a felicidade em si. A felicidade seria o resultado de perseguir atividades ou coisas que genuinamente nos fazem felizes.
Da mesma forma, a geração de riqueza é o resultado da busca por atividades que agreguem valor. Isso pode parecer contrário ao que muitos acreditam ser o princípio fundamental do capitalismo, talvez mais famoso na formulação de Milton Friedman, um economista norte-americano do século 20, em seu livro de 1962, Capitalismo e Liberdade, em que afirma que “Há uma e apenas uma responsabilidade social dos negócios: usar seus recursos e se engajar em atividades destinadas a aumentar seus lucros”.
E foi talvez sob essa ótica que o mundo construiu este “muro entre a economia e o bem comum” que o Papa Francisco criticava. No entanto, não deveria haver tal muro — nem mesmo no sistema capitalista mais ortodoxo. O pai intelectual do capitalismo moderno, Adam Smith, é frequentemente lembrado por expressões como “a mão invisível”. Na realidade, o legado de Smith, e as suposições sobre o capitalismo, foram grosseiramente simplificados.
Smith era um defensor obstinado da visão de que a livre iniciativa exigia absolutamente fortes fundamentos morais e éticos, e que a maioria dos participantes do mercado precisava ser guiada (em suas palavras) pela “propriedade, prudência e benevolência” para que o sistema funcionasse adequadamente.
Smith é, claro, mais conhecido por seu livro de 1776, “A Riqueza das Nações”, considerado por muitos o documento fundador do capitalismo de livre mercado. Mas o próprio Smith dava mais valor a sua obra anterior, “A Teoria dos Sentimentos Morais”, onde explora “a capacidade de pensar e agir moralmente diante do puro interesse natural”.
Hoje, é apropriado recordarmos a advertência do Papa Francisco de que “os negócios são uma nobre vocação, desde que aqueles que nela atuam se vejam desafiados por um significado maior na vida”, permitindo-lhes “servir verdadeiramente ao bem comum ao se empenharem em aumentar os bens deste mundo e torná-los mais acessíveis a todos”.
O mundo estará em uma situação muito melhor quanto mais cedo seguirmos essa exortação papal não apenas como um imperativo moral, mas também como uma necessidade econômica.
* Paul Laudicina é colaborador da Forbes EUA, onde escreve sobre liderança baseada em valores, ética nos negócios e estratégias globais. Laudicina é fundador do Global Business Policy Council, um fórum estratégico voltado para CEOs e líderes empresariais globais.
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