Por Que o Brasil Mandou para o Espaço Sideral Batata-doce e Grão-de-bico?

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Por que o Brasil mandaria para o espaço, em um voo de nave tripulada, batata-doce e grão-de-bico? A Blue Origin,  empresa aeroespacial americana criada em 2000 por Jeff Bezos, fundador da Amazon, já mandou ele próprio para o espaço; William Shatner, o eterno Capitão Kirk de “Star Trek”; Wally Funk, pioneira da aviação, com 82 anos, além de sensores, tecnologias de pouso, equipamentos médicos, células e tecidos. A pergunta sobre batata-doce e grão-de-bico como bagagem na Blue Origin pode parecer inusitada, mas a resposta envolve ciência de ponta, inovação agrícola e uma parceria internacional que conecta o agronegócio brasileiro à exploração espacial.

Na semana passada, dia 14 de abril, as cultivares Beauregard e Covington (batata-doce) e a BRS Aleppo (grão-de-bico), embarcaram em voo suborbital com o objetivo de avançar nas pesquisas sobre a produção de alimentos em ambientes extremos, como o espaço, caracterizados por alta radiação, microgravidade e ausência de solo fértil.

Esses experimentos fazem parte das ações da Rede Space Farming Brazil, uma iniciativa conjunta da Embrapa e da Agência Espacial Brasileira (AEB), dedicada ao desenvolvimento de sistemas agrícolas adaptáveis a condições fora da Terra. A participação brasileira foi viabilizada por meio da colaboração com a Winston-Salem State University (WSSU), nos Estados Unidos, e a empresa Odyssey, especializada em operações e ciências espaciais.

A Rede Space Farming Brazil foi formalizada em 2023, com a assinatura de um protocolo de intenções entre a Embrapa e a AEB, alinhando o Brasil ao Programa Artemis, da Nasa. Hoje, a rede reúne 56 pesquisadores de 22 instituições nacionais e internacionais, consolidando um esforço multidisciplinar para transformar desafios espaciais em oportunidades para a agricultura terrestre. Estão entre elas o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), Instituto Agronômico (IAC), entre outras.

Embrapa

Rede Space Farming Brazil, coordenada pela Embrapa e AEB

A escolha da batata-doce e do grão-de-bico se deu por suas características agronômicas e nutricionais. Ambas são espécies resilientes, de rápido crescimento, com baixo requerimento de insumos e elevada adaptabilidade — fatores essenciais para o cultivo em ambientes adversos. Além disso, oferecem benefícios nutricionais relevantes: a batata-doce é fonte de carboidratos de baixo índice glicêmico e compostos antioxidantes, enquanto o grão-de-bico se destaca pelo alto teor proteico.

O experimento expôs as plantas e sementes à microgravidade por cerca de cinco minutos, condição que pode induzir variações genéticas e novas respostas fisiológicas. A expectativa dos pesquisadores é acelerar processos de melhoramento genético, visando a agricultura espacial e a geração de cultivares mais resistentes à seca, eficientes no uso de recursos e adaptadas às mudanças climáticas na Terra.

Inovação além do espaço: os “spin-offs” para o agronegócio

A pesquisa em agricultura espacial não se limita ao desenvolvimento de soluções para missões fora da Terra. Um dos principais objetivos da Rede Space Farming Brazil é gerar tecnologias que possam ser aplicadas diretamente no setor agropecuário brasileiro. Esses “spin-offs” — inovações derivadas da exploração espacial — têm potencial para transformar práticas agrícolas tradicionais.

Segundo Alessandra Fávero, da Embrapa Pecuária Sudeste e coordenadora da Rede, a expectativa é que essas tecnologias impactem diretamente o agronegócio nacional. “Assim como a NASA já disponibilizou mais de duas mil tecnologias que hoje fazem parte do cotidiano, esperamos que os avanços da agricultura espacial promovam saltos no conhecimento agronômico brasileiro e gerem soluções práticas para produtores”, afirma ela.

Entre as possibilidades tecnológicas estão:

Novas cultivares mais resistentes: Plantas adaptadas a ambientes com baixa disponibilidade de água, nutrientes limitados e alta radiação poderão ser utilizadas em regiões afetadas pela seca ou por solos degradados.

Sistemas de cultivo indoor e vertical: Tecnologias desenvolvidas para cultivo em ambientes fechados e controlados, inicialmente pensadas para o espaço, podem ser aplicadas em centros urbanos ou áreas com restrições climáticas, otimizando espaço e recursos.

Inteligência artificial na gestão agrícola: O uso de sensores e algoritmos para monitoramento preciso de irrigação, luminosidade e nutrientes será ampliado, trazendo maior eficiência para a agricultura de precisão.

Eficiência energética: Desenvolvimento de plantas mais eficientes no uso da energia luminosa, com potencial de reduzir custos em sistemas de produção controlados.

Adaptação às mudanças climáticas: As pesquisas devem acelerar a criação de variedades que suportem condições extremas, antecipando soluções para cenários futuros de instabilidade climática.

 

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