A pergunta é recorrente: Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República, será preso? Se for condenado pelo Supremo Tribunal Federal e preso, haverá uma convulsão social? E se for anistiado pelo Congresso Nacional, ganhando condição de elegibilidade, seria um candidato competitivo à presidência da República em 2026?
Para tentar responder às questões, este analista se ancora em alguns condicionantes, a começar pela hipótese da prisão do capitão.
Vamos lá. O julgamento de Bolsonaro correrá por alguns meses. Não será curto como se pode imaginar, mesmo que o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante tenha conseguido apoio ao pedido de urgência de votação do Projeto de Lei Anistia. Passando na Câmara, irá ao Senado, voltará à Câmara, se houver alterações, devendo cair no Supremo, antes de receber a sanção do presidente. Endossada por 262 deputados federais dos 513 que integram a Câmara, a solicitação de urgência virou um cabo-de-guerra entre oposicionistas e situações. Vejamos as razões.
Assinaram o pedido 146 deputados de partidos que compõem a base do governo Lula, representando mais da metade (56%) do total de assinaturas, viabilizando sua tramitação. Surge a primeira dúvida: deputados da base governista votariam contra a orientação do governo? A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, já está em campo tentando convencer os correligionários da base governista a retirar seu apoio à votação ao Projeto. O presidente da Câmara, Hugo Mota, que tem a prerrogativa de compor a agenda de votação, prometeu submeter a questão ao colégio de líderes. Não quer decidir sozinho.
Quanto às manifestações de rua, teriam o condão de influenciar ministros do STF ou o corpo parlamentar? Ora, se há no país um grande contingente de eleitores bolsonaristas, há também um considerável número de eleitores que se opõem ao capitão e um terceiro grupo, que mantém certa distância dos dois protagonistas. É o que se lê nas pesquisas: há, no país, 30% de eleitores bolsonaristas ou de direita, 30% de eleitores lulistas ou de esquerda e 30% de leitores que se posicionam no centro do arco ideológico. Os restantes 10% se repartem entre os três blocos, mudando de posição ao sabor das circunstâncias.
Os parlamentares, por seu lado, têm um olho voltado para o altar de São Francisco (…é dando que se recebe….) e outro para as ruas. Até meados do próximo ano, estarão na fila do balcão de recompensas. Depois, olharão para as ruas.
Continuemos a análise. Consideremos que Bolsonaro, por um desses artifícios que só a arte da política pode explicar, venha a ser candidato. Consideremos, também, que Lula, mesmo sob o peso dos 80 anos, a completar em outubro de 2016, decida enfrentar o pleito. (Hoje, 62% do eleitorado acha que o presidente não deveria concorrer à reeleição por causa da idade). Seriam competitivos? Qual o adversário mais conveniente para ambos?
Para Bolsonaro, o melhor adversário seria Lula, com o qual pretende transformar o pleito em um terceiro turno. O presidente, da mesma forma, gostaria de ter o capitão como adversário. Para eles, um repeteco da campanha de 2022, com o país dividido e polarizado, seria mais conveniente. Que chances teriam? A resposta pede uma olhada nos compartimentos da geladeira. Se estiverem cheios, em setembro/outubro de 2026, Lula será favorito; se estiverem vazios, Bolsonaro liderará a linha de frente da corrida.
Explico. O fator de maior significação na planilha da viabilidade eleitoral é o estado geral da economia. Daí a insistência deste escriba em usar a recorrente equação com que analisa as possibilidades dos protagonistas. Recorro à equação BO+BA+CO+CA: BOlso, BArriga, COração, CAbeça. Se o bolso do consumidor, nas proximidades do pleito, garantir a geladeira sempre cheia, a barriga saciada satisfeita e o coração agradecido levarão a cabeça do eleitor a votar no candidato que lhe proporcionou bem-estar. A recíproca é verdadeira.
Se Bolsonaro for impedido de se candidatar, seu legado político caiará no colo do governador Tarcísio de Freitas, de SP, um perfil técnico que conta com a simpatia do eleitorado paulista, o maior do país, com 36 milhões de eleitores. Suas chances de chegar ao Planalto são boas. E se Lula declinar da candidatura, quem iria para seu lugar? O PT sinaliza um nome asséptico, fiel ao ideário socialista. Fernando Haddad poderia ser esse nome? Sim, mas sua viabilidade dependerá do desempenho no Ministério da Fazenda.
Mais uma questão relevante: a situação mundial terá impacto sobre o quadro eleitoral? A resposta também é sim. O tarifaço de Donald Trump abriu acirrada guerra comercial. Com a menor tarifa de importação aos produtos vendidos aos Estados Unidos, o Brasil, ao lado de outros, terá condições de se beneficiar da crise desses tempos de trumpulência. Mais dúvidas persistem: saberá o Brasil aproveitar a oportunidade de expandir sua balança comercial? O país deve incrementar seus negócios com a China. Qual seria a reação norte-americana ante o estreitamento de relações do Brasil com a China? Haveria retaliação por parte dos EUA?
Tudo isso deve pesar na balança eleitoral. Lula continuará a atirar em Trump, coisa que tem feito em suas falas de palanque? O eleitorado parece aprovar o papel de Davi (Lula) contra Golias (Trump). A “Guerra do Tarifaço”, como se pode inferir, impactará sua candidatura. O candidato à reeleição, com o manto de São Jorge, o Santo Guerreiro, tem condições de vencer o Dragão da Maldade, cujo embaixador, no Brasil, é um ex-capitão do Exército, chamado Jair Messias.
Gaudêncio Torquato, escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político